A Semana - Opiniões
A escola sobrevive sem os professores?
Temos que ser os artífices do desenvolvimento
Até algum tempo atrás, talvez 8 ou 10 anos apenas, qualquer pergunta semelhante ao título desse artigo seria impensável. Para mim, enquanto educador, soaria como ofensiva e irresponsável. Onde já se viu, uma escola que possa sobreviver sem os professores seria como se pensássemos em hospitais sem médicos, ônibus sem motoristas, fábricas sem operários, governos sem dirigentes políticos,...
Sabe o que é mais interessante nesse trecho inicial do presente artigo? É imaginar que já existem projetos que concretizaram o atendimento médico à distância, sem que a presença dos médicos seja necessária (com o auxílio da tecnologia é possível atender e até mesmo operar a distância, como em frentes de batalha ou em regiões em que não existam profissionais em quantidade suficiente para atender a demanda).
Também não deixa de ser expressivo pensar que já existem certos tipos de transporte coletivo que prescindem da figura do motorista ou condutor. São dirigidos a distância, por comandos eletrônicos, com o auxílio de pilotos automáticos. É claro que no caso estou falando de trens ou metrôs, mas nos ônibus já não vemos mais, em certos países, a figura do cobrador ou bilheteiro... Quanto faltará para que os motoristas desses coletivos também percam o emprego?
Uma das grandes questões relacionadas ao mundo do trabalho e seus rumos no século XXI relaciona-se a idéia de que as fábricas do 3º milênio dependem cada vez menos de operários. Seu funcionamento e operacionalização estão sendo realizados, em escala crescente, por robôs e sistemas computadorizados. O que no princípio restringia-se a países como o Japão, os Estados Unidos ou a Alemanha já está virando padrão por aqui e em outras regiões menos desenvolvidas. Essas novidades, que atingiam apenas as gigantescas corporações que fabricavam automóveis, eletrodomésticos, aço ou produtos químicos, hoje se aplicam a empresas de todos os tamanhos, estão até em unidades pequenas.
A
tecnologia está substituindo a humanidade na
indústria.
Robôs e computadores realizam os serviços
repetitivos
das linhas de produção com maior produtividade,
em
menos tempo e com margem de erros reduzidíssima.
E o governo sem lideranças políticas? Seria somente um sonho utópico dos anarquistas inspirados pelas idéias de Bakunin? Nesse caso não chegamos a exemplos concretos... Ao menos no que se refere a estados nacionais... Mas, se pensarmos nos modernos conceitos de gestão aplicados em diversas empresas, e até mesmo em estatais e serviços públicos, perceberemos que há uma forte e consolidada tendência de atenuar a hierarquia rígida e mais tradicional em prol de um sistema em que as responsabilidades sejam divididas e diluídas entre o conjunto de colaboradores...
E a escola sem professores? Isso sim seria impensável... Reafirmo que há algum tempo atrás eu mesmo ficaria magoado e acharia tal colocação um disparate. Hoje já não penso da mesma forma. Penso até que já há espaços em que tal educação que prescinde dos educadores já está acontecendo. Um exemplo disso poderiam ser os cursos de Educação à Distância. Não há nessa afirmaçã, é claro, crítica ou contestação a esse modelo.
Acredito que o EAD vá ganhar mais e mais espaço na educação e que servirá de recurso e plataforma para que o aperfeiçoamento profissional possa acontecer. Sei também que a estruturação dos cursos nesse formato acontece (ou pelo menos deveria) sob a supervisão e coordenação de profissionais da educação. O que poderia levar algum leitor a dizer que se existem professores no planejamento e no acompanhamento dos cursos, mesmo que distantes alguns milhares de quilômetros dos educandos com os quais estão interagindo, então não estaria configurada a educação sem professor...
A
Educação à Distância
está ganhando espaço e destaque
no mundo todo, inclusive no Brasil. O crescimento na oferta
de cursos está atendendo uma demanda crescente de
pessoas que quer aprender línguas, fazer um curso
universitário, ter conhecimentos técnicos,...
Refiro-me, no entanto, nesse texto, ao espaço clássico da educação – a sala de aula. Nesse sentido o EAD não poderia ser levado em conta. Mesmo assim ainda penso que o EAD, considerando-se que é planejado e executado a distância por educadores, já cria uma realidade nova, em que o aluno é o principal articulador de seu processo de aprendizagem. O próprio processo de escolha dos cursos, etapa inicial de estudos, depende de seleções que são totalmente individuais e subjetivas. Não há a palavra de profissionais da área a indicar-lhe as melhores opções de EAD no mercado, sua pesquisa é feita diretamente na Web...
Mas, voltando à velha sala de aula... Será que esse espaço poderá abrir mão dos professores? O que me motiva a escrever essas linhas que atentam contra o magistério, a educação e, vejam só, a minha própria área de atuação e empregabilidade?
Do jeito que conduzimos as aulas, acredito que esse processo possa até mesmo ser considerado irreversível... Enquanto as aulas continuarem representando apenas a repetição de fórmulas, conceitos, fatos, idéias e informações facilmente acessíveis por qualquer estudante a partir da Internet ou disponível em livros, jornais, revistas, filmes ou qualquer outra referência cultural, o destino dos professores será o da aposentadoria precoce ou, quem sabe, até mesmo o da extinção...
Para quê precisaremos de professores se as informações estão logo ali, ao alcance do clique de um mouse? Fácil assim? Infelizmente é essa a realidade... Nossos estudantes e nossa sociedade são vorazes e velozes e não estão dispostos a permitir que tudo aquilo que lembre o passado, o atraso e a vagareza continuem a existir. A escola é, sem sombra de dúvidas, um dos locais mais conservadores e pouco afeitos a mudanças de que se tem notícia no mundo de hoje, em particular no tocante ao Brasil, a nossa pátria amada...
O
professor humaniza a relação dos estudantes com o
conhecimento,
aproxima os conteúdos dos educandos, dá ao saber
o significado que
aproxima o aluno do mesmo e, por isso, é
indispensável para a
educação. No entanto é
necessário rever vários paradigmas que
impedem a construção de uma
educação mais efetiva.
E eles estão errados? Não, de forma alguma. Não que eu compactue com a velocidade a qualquer preço. Temo raciocínios e ações elaboradas sem o necessário tempo de maturação e consideração. O ritmo da educação, no entanto, é lento demais em todos os sentidos. Por isso penso que a cobrança da sociedade por renovação dos processos, metodologias, propostas, encaminhamentos e resoluções dentro da escola tem sentido e lógica, sendo portanto pertinente.
A escola nos moldes tradicionais é enfadonha e pouco ou nada acrescenta as crianças e jovens que a freqüentam atualmente. Ir a escola é muito mais uma formalidade do que uma ação consciente, relacionada à formação e adequação ao mundo em que vivemos, que dá aos estudantes subsídios para ingressar no mundo do trabalho e que fornece condições aos mesmos de atuar politicamente em prol de causas e pensamentos que lhes apeteçam.
Não há espaços lúdicos, envolventes, instigantes e estimulantes para que o processo ensino-aprendizagem se concretize. O que esperar então de uma escola como a que temos hoje, senão que ela pereça ou que seja substituída por outras formas mais eficazes de proceder a educação?
Os professores somente poderão ser considerados imprescindíveis a partir do momento em que, literalmente, passem a orientar o processo de ensino-aprendizagem, promovendo o conhecimento, gerando real motivação entre os estudantes, usufruindo dos recursos disponíveis para o seu trabalho de forma adequada (e com propriedade) e mostrando-se dispostos a uma constante revisão de seus métodos e processos (a tão cobrada e necessária autocrítica).
Aos educadores compete rever, reformular, repensar seu campo de atuação e, mais do que isso, cabe ousar... O professor é e deve ser o elemento pensante que irá ajudar o país a realmente superar o atraso em que vive. De sua atuação depende a economia, a interação social, a preservação ambiental, o surgimento de novas produções culturais, as realizações na ciência,... Somos o diferencial e temos que nos mostrar ao mundo como tal. Chega de lamentar, reclamar e continuar paralisado diante do estado lastimável da educação, os artífices da revolução que a educação necessita são os professores...
Somente assim nos tornaremos peças fundamentais e insubstituíveis, sem as quais nenhuma escola sobrevive... Imprescindíveis não apenas para a educação, mas para o país e o mundo...