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João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Contrastes
A Educação Brasileira em Preto e Branco

Observe os dados apresentados na tabela abaixo, perceba a evolução percentual na quantidade de professores que atuam nas universidades brasileiras que possuem o grau de mestres ou doutores, verifique que ano a ano, a partir de 1994 ocorreu um crescimento (não contínuo) no número de educadores universitários agraciados com esse reconhecimento e distinção.

Titulação dos Professores

Professores
% Mestrado ou Doutorado
Ano
141.482
34%
1994
145.290
34%
1995
148.320
41%
1996
165.964
43%
1997
165.122
45%
1998
173.836
43%
1999
193.194
51%
2000

Fonte: MEC/Inep


Agora, preste atenção no seguinte depoimento:

“Desde que começaram as políticas de cortes sistemáticos no ensino em geral e no superior em particular, o quadro se agravou de modo a comprometer drasticamente minha atuação. As salas foram se tornando superlotadas, sobretudo depois do pânico das aposentadorias gerado pelo governo. 

A essa altura, trabalho com salas contendo entre oitenta e cem alunos. Ou seja, não trabalho. Não tenho como conhecer aluno nenhum, não sei o nome de ninguém e, quando olho para a sala à minha frente, tudo o que vejo é uma massa disforme de uma multidão de gente se apertando, em estado de profundo mal-estar. 

Da parte deles, também não têm como colocar suas dúvidas, pois, se todos fossem fazer perguntas, não haveria mais aula. Mesmo fora de aula, não há horário suficiente para fazer atendimento pessoal para tamanha multidão – com vespertino e noturno, o total de alunos passa a ser de duzentos por turma! Resultado, vou para a sala de aula, me estrebucho para conseguir gritar alto o suficiente para aquela multidão poder ouvir.”

A colocação foi feita por Nicolau Sevcenko, conceituadíssimo professor do Departamento de História da USP (tendo sido extraído da revista Caros Amigos, fazendo parte de uma reportagem entitulada “Á Deriva” e podendo ser acessada no seguinte endereço eletrônico: http://www.uol.com.br/carosamigos/edicao/ed49/republica.htm).

No caso, enumera-se vários graves problemas pelos quais passa o ensino superior no Brasil atual, desde situações corriqueiras como a superlotação das salas de aula, passando dessa primeira condição ao desconhecimento por parte do professor em relação a clientela por ele atendida (e essa colocação não se restringe somente ao estimado professor Sevcenko, aplica-se a muitos professores e cursos de universidades reconhecidos no Brasil e mesmo no exterior como profissionais e instituições de primeira linha, gabaritados em termos de sua excelência acadêmica). 

Não há como fazer perguntas, não existem possibilidades de atendimento, é necessário que as aulas sejam dadas aos gritos para que todos possam escutar e por aí vai, muitos outros pontos poderíamos levantar em termos de falhas estruturais, sistêmicas ou pedagógicas do processo ensino-aprendizagem das universidades brasileiras.

Lendo coluna assinada por importante articulista brasileiro, interessado em educação, como Cláudio de Moura Castro (Veja, 06 de Março de 2002) e tendo constatado que, além dos mencionados problemas enfrentados em sala de aula por profissionais gabaritados nas conceituadas universidades públicas nacionais (e, também nas particulares), o brasileiro alfabetizado “lê mal”, passo a ter sérias dúvidas quanto a eficácia da educação superior nesse nosso país apesar de contarmos com um maior número de mestres e doutores no comando da graduação conforme os dados do Inep/Mec apresentados no início dessa reflexão.

De que adiantarão nossos professores que passaram por cursos de pós-graduação (lato ou stricto senso) se nossos educandos não entendem com profundidade os textos que são recomendados a eles por esses digníssimos mestres?

Com tantos alunos em sala de aula e evidentes dificuldades que isso acarreta para o bom desenvolvimento das aulas, que validade terão os estudos e pesquisas trazidas para a graduação por esses professores? 

Se os professores mal conseguem trabalhar em sala de aula e desconhecem seus estudantes, o que podemos esperar em termos de aproveitamento dos cursos pelos alunos?

A desmotivação causada por situações de stress no cotidiano certamente afetam o rendimento do profissional e ocasionam perda de interesse e estímulo para o desempenho de suas funções. O que deve ser feito para que os professores tenham a sua disposição condições adequadas de trabalho e se sintam motivados?

Numa época em que se fala tanto no aperfeiçoamento tecnológico do sistema educacional, com a utilização de recursos importantíssimos como os computadores e a internet constatamos tristemente que faltam recursos básicos para que as escolas possam realizar aquilo que se espera delas, ou seja, criar condições para que se formem profissionais competentes, ativos socialmente, conscientes de seus direitos e deveres, éticos e interessados na melhoria das comunidades em que se encontram inseridos.

Entrar em salas de aula de universidades brasileiras (principalmente nos departamentos de educação, ciências humanas, ciências sociais ou comunicação) é encontrar-se com reminiscências de nosso atraso, da condição de terceiro-mundo que ainda reina entre nós (apesar do discurso neo-liberal), de nossa situação de periferia. 

Como professor universitário que conhece e enfrenta tais dificuldades no cotidiano, chamo a atenção para o fato de que, paga-se por qualidade na educação seja no ensino público ou no privado. 

As altas mensalidades, pagas com dificuldade por um grande número de estudantes que não conseguem acessar os cursos das estaduais ou federais (que não aumentaram significativamente a oferta de vagas, apesar do crescimento da procura, passando para a iniciativa privada essa responsabilidade) ou ainda, o pesado fardo dos impostos cobrados dos cidadãos brasileiros deveriam garantir condições minimamente satisfatórias para que o estudo e o aperfeiçoamento de nossos estudantes pudesse acontecer. 

Dados como aqueles disponibilizados pelo Inep/MEC sobre a quantidade de professores titulados que atuam nas universidades brasileiras nos levam a pensar que a situação do estudo no 3º Grau tenha melhorado consideravelmente, principalmente pelo fato de serem apresentados sem que seja permitido visualizar o contexto geral dessas instituições e perceber pequenos (ou grandes) erros e descasos como os mencionados. 

As condições são inadequadas, podendo ser consideradas impróprias em muitas instituições e cursos, a utilização de dados estatísticos não podem encobrir a visão completa do quadro em que se encontra a universidade brasileira. 

Ela é de fundamental importância para que possamos nos desenvolver como país, atingir um estado de maior justiça social e prosperidade econômica. Alunos e professores que vivem o cotidiano das universidade enfrentam as adversidades e sabem que não podemos continuar da forma como estamos. 

Não se pode negar que alguns passos importantes foram dados, mas efetivamente eles pouco representaram em termos de melhorias no tocante ao trabalho em salas de aula, no quesito condições elementares para um bom trabalho educacional.

Com essa coluna semanal abrimos um espaço onde esperamos discutir situações como essas e propor alternativas com base no que tem sido apresentado em congressos, revistas especializadas, sites educacionais e orgãos de imprensa que tenham um compromisso sério com a educação no Brasil. Esperamos sugestões e temos o firme propósito de contribuir com o debate! Até breve.

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