Cinema na Educação
Patch Adams - O amor é contagioso
Lição de Solidariedade
A noção que possuímos a respeito do que seria algo "contagioso" nos remete de imediato a doenças e, em seguida, a imagem de médicos, jalecos brancos, hospitais, remédios, internações e tudo que esteja diretamente relacionado a área de saúde. Não é fácil atribuir um símbolo tão intimamente ligado a noção de enfermidades a um outro conceito, aparentemente tão díspar e distante quanto o amor. O título do filme em português nos remete de imediato a uma reflexão ( o que, creio, não foi proposital por parte dos responsáveis) pois nos faz pensar se é possível espalhar "bactérias" ou "vírus" do amor entre as pessoas, infectando-as de boas intenções e proporcionando, dessa forma, melhores ações por parte de todas elas.
Seria, sem qualquer sombra de dúvidas, muito mais interessante do que espalhar através de armas químicas o medo e a morte a inocentes como temos visto em algumas regiões desse planeta.
O
filme nos mostra um estudante de medicina, que como milhares
de outros acaba de entrar na universidade, e procura em seus
professores a resposta para suas várias dúvidas
a respeito da formação profissional, seu nome
é Patch Adams (vivido por Robin Williams que tem, mais
uma vez, a capacidade de nos fazer rir e chorar).
A observação dos mestres em ação,
de suas atitudes, e principalmente da forma como eles se relacionam
com seus pacientes desperta em Patch a consciência de
que aos tratamentos médicos falta um quesito fundamental,
a humanidade, entendida como respeito, apreço, consideração,
estima e calor humano da parte dos médicos em relação
a seus pacientes (e, mesmo, em termos da forma como interagem
com as enfermeiras).
Patch
percebe que o distanciamento dos doutores no tratamento de
seus pacientes pode estar provocando repercussões não
percebidas a "olho nu" que revertem negativamente
na recuperação dos doentes. De que adiantam
todos aqueles equipamentos modernos e caros, remédios
de última geração, ambientes sofisticados
e limpos como os dos hospitais norte-americanos (é
fundamental, convenhamos, que os setores da saúde disponham
desses recursos todos, coisa que em nossa pátria amada
Brasil não acontece) se não há por parte
dos responsáveis pelo tratamento uma aproximação
em relação a seus pacientes? O distanciamento
e o pouco caso dos profissionais da área podem causar
malefícios a saúde de seus pacientes é
o que, em última análise, conclui o jovem estudante.
Chegar a essa idéia não foi difícil,
complicado pode ser reverter esse quadro.
Como fazer com que o pedestal que separa médicos e pessoas em tratamento seja destruído? De que forma podemos tornar mais humanos nossos especialistas em saúde para que eles consigam com atitudes e presença ajudar a reverter por completo o drama de muitos de seus pacientes? Me lembro bem de um relato de uma enfermeira a respeito da forma cruel como foram tratados os primeiros pacientes internados em virtude do vírus HIV (aids), distanciados dos médicos e de seus auxiliares, separados por portas e vidros de seus parentes, agonizavam até a morte sem ao menos um carinho, uma presença, uma palavra de conforto.
O brilhantismo de Patch permitiu a ele criar um movimento que, depois, acabou por se espalhar por todo o território norte-americano e, posteriormente, para várias regiões desse vasto mundo em que vivemos (inclusive o Brasil), chamado "doutores da alegria", que consiste na visita aos enfermos por parte de médicos treinados para fazer rir, para tirar de dentro dos doentes uma força adicional, para buscar em cada um deles uma energia extra que permita-lhes ficar um pouco mais fortes e combater com mais ênfase suas doenças.
Os "anticorpos" propostos pelo personagem de Williams, contidos nessa atitude benevolente, de paciência, de relacionamentos calorosos e de bom astral e humor, não foram bem aceitos logo de princípio, muitos médicos relutaram (há resistências até hoje) como transparece no filme, em abandonar suas auras de cidadãos especiais, dotados de super-poderes e, por isso mesmo, passíveis de uma conduta que muitas vezes chegava mesmo a causar constrangimento a seus pacientes (é óbvio que, como em qualquer profissão, há médicos que não se utilizam de suas prerrogativas para se sentir acima dos demais mortais, assim como é patente que o conhecimento que possuem, por lhes permitir salvar vidas, lhes confere esse status ao qual nos referimos). Abaixo a prepotência, viva a humildade e o respeito.
Transferindo a situação das alas hospitalares para os corredores das escolas em que trabalhamos, surgem dúvidas como:- Quantas vezes essa idéia de superioridade não nos afasta, professores, de nossos alunos? Quantos casos detectados de alunos-problemas que, em nossos dizeres, não tem mais solução, poderiam ser solucionados se abandonássemos essa atitude de prepotência em nossas aulas e no relacionamento com os estudantes? Será que nós, profissionais da educação, também não cometemos os mesmos pecados percebidos no filme "Patch Adams" entre os médicos?
O filme nos provoca e estimula no sentido de fazer com que nos mobilizemos em favor de uma atitude mais respeitosa em relação aos outros, desperta a solidariedade numa época em que se fala tanto em ajudar as pessoas que precisam, incentiva os jovens (não só eles, nós também) a partir de um exemplo vitorioso e real (o filme baseia-se em fatos verídicos, o que aumenta sua credibilidade junto ao público) a participar de ações voluntárias e, nos mostra que precisamos dos outros, que não podemos nos isolar, que devemos estender a mão na direção dos demais seres humanos pois também contamos com seu auxílio. Um grande exemplo!
Ficha Técnica
Patch Adams - O amor é contagioso
(Patch Adams)
País/Ano de produção: EUA,
1998
Duração/Gênero: 115 min.,
drama
Distribuição: Universal (UIP)
Direção de Tom Shadyac Roteiro
de Steve Oedekerk
Elenco: Robin Williams, Daniel London, Monica
Potter, Philip Seymour Hoffman.
Links
- http://www.adorocinema.com/filmes/patch-adams/patch-adams.htm