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Filosofando

 

Educação para o Pensar
Seja bem-vindo!

O problema crucial é o seguinte: a filosofia aspira à verdade total, que o mundo não quer. A filosofia é, portanto, perturbadora da paz. E a verdade, o que será? A filosofia busca a verdade nas múltiplas significações do ser verdadeiro segundo os modos do abrangente. Busca, mas não possui o significado e substância da verdade única. Para nós a verdade não é estática e definitiva, mas movimento incessante, que penetra no infinito. No mundo, a verdade está em conflito perpétuo. A filosofia leva este conflito ao extremo, porém o despe de violência. Em suas relações com tudo o quanto existe, o filósofo vê a verdade revelar-se a seus olhos, graças ao intercâmbio com outros pensadores e ao processo que o torna transparente a si mesmo. Quem se dedica à filosofia põe-se à procura do homem, escuta o que ele diz, observa o que ele faz e se interessa por sua palavra e ação, desejoso de partilhar, com seus concidadãos, do destino comum da humanidade. Eis por que a filosofia não se transforma em credo. Está em contínua luta consigo mesma. (JASPERS, Karl.Introdução ao Pensamento Filosófico)

O que pensar de uma área do conhecimento e da ação humana que é classificada por um de seus expoentes como “perturbadora da paz”? Ou ainda que o que se busca através da mesma é a “verdade total”, “que o mundo não quer”? Para tornar ainda mais complicada a questão, que tal imaginar que a “verdade” que se busca pode e deve ter “múltiplas significações”?

A propósito... O que é verdade? E que área do conhecimento tão complexa, contraditória e provocante é essa tal de filosofia?

Filosofia é mais do que simplesmente uma “área do conhecimento e da ação humana” como a descrevi no início desse texto. Filosofia é um estado de espírito. Demanda a todo o momento vibração, movimento, oxigenação. É feita a base de leitura (de mundo), reflexão, intercâmbio, intensidade.

Quer nos ajudar a resolver os dilemas mais complexos que acompanham a nossa existência nesse mundo, inclusive a própria “existência” (Estamos aqui para quê? Para onde vamos? O que nos cabe realizar ou viver?). Não busca, no entanto, respostas definitivas, por isso continua numa permanente “luta consigo mesma”, como destaca Karl Jaspers.

Quem se aproxima, se identifica e passa a vivenciar a filosofia crê naquilo que Jaspers e outros pensadores afirmaram (cada qual da sua maneira, dentro de diferentes contextos, acrescentando ou tirando subsídios muito próprios e peculiares de suas reflexões) quando disseram que “a verdade não é estática e definitiva, mas movimento incessante, que penetra no infinito. No mundo, a verdade está em conflito perpétuo. A filosofia leva este conflito ao extremo, porém o despe de violência”.

Ao inaugurarmos uma nova coluna no Planeta Educação, fruto de uma salutar e enriquecedora parceria com Centro Brasileiro de Filosofia para Crianças (CBFC), que tem o nome Educação para o Pensar, esperamos estar contribuindo para o surgimento e amadurecimento de novas gerações de brasileiros que também queiram entender o mundo em que vivem e sua diversidade.

Imaginamos que há muitas verdades a serem descobertas, discutidas, apresentadas ao público, pensadas à luz de ricos debates que nos coloquem em contato com Platão, Aristóteles, Tomás de Aquino, Agostinho, Hegel, Locke, Descartes, Marx, Heidegger, Nietzche e tantos outros expoentes desse universo formidável da reflexão filosófica.

Educação para o Pensar me faz voltar no tempo e relembrar encontros que tive com alunos e que não conseguia chamar de aulas, pois sempre pensava nos mesmos como momentos de reflexão, ponderação, debates e de uma intensa e constante busca da verdade inferida por Jaspers.

E quantas não foram as vezes em que alguns estudantes revelavam ao final desses encontros exaustivos, alegres, cheios de energia e carregados de esperança, que as provocações, temas, discussões e leituras de mundo ali realizadas realmente os levavam a pensar. E como aquilo era diferente de todo o restante do trabalho escolar...

Filosofia é isso e quer isso... Provoca e estimula... Leva a ações e reações... Transforma e modifica... Educa e deseduca o pensar e para o pensar... É justamente nesse ponto que reside nossa proposta... Queremos causar e acreditamos que para isso é imprescindível pensar... Sinta-se bem-vindo... Entre em nossas discussões...

João Luís Almeida Machado
Editor do Portal Planeta Educação.

O Centro Brasileiro de Filosofia para Crianças (CBFC)

Estamos inaugurando em parceria com o Centro Brasileiro de Filosofia para Crianças a coluna Educação para o Pensar. O Centro Brasileiro de Filosofia para Crianças é uma instituição sem finalidade lucrativa, de caráter científico e cultural. Fundado em 30 de janeiro de 1985, por Catherine Young Silva, que contou com a colaboração de outras pessoas interessadas no trabalho com Filosofia para Crianças.

O CBFC é representante exclusivo, no Brasil, do Institute for the Advancement of Philosophy for Children - IAPC, sendo responsável pelo trabalho com o programa Filosofia para Crianças, elaborado pelo Dr. Matthew Lipman. O Dr. Lipman se alinha àqueles que sustentam que "o fortalecimento do pensar na criança deveria ser a principal atividade das escolas e não somente uma conseqüência casual". (LIPMAN, 1995).

Isto não significa que apenas trabalhando os conteúdos das várias disciplinas, automaticamente, o pensar dos alunos vai sendo desenvolvido e fortalecido. Significa afirmar que é preciso oferecer atividades voltadas, intencionalmente, ao cultivo do "pensar bem", além da oferta dos conteúdos. Estes últimos, sempre necessários. Mas o que seria o "pensar bem?”. Antes: o que constitui o ato de pensar?

Para Lipman:

Pensar é o processo de descobrir ou fazer associações e disjunções. O universo é feito de complexos (não há, evidentemente, realidades simples) como as moléculas, as cadeiras, as pessoas e as idéias, e estes complexos têm ligações com algumas coisas e não com outras. O termo genérico para associações e disjunções é relacionamentos. Considerando que o significado de um complexo encontra-se nos relacionamentos que este tem com outros complexos, cada relacionamento, quando descoberto ou inventado, é um significado, e grandes ordens ou sistemas de relacionamentos constituem grandes corpos de significados. (LIPMAN, 1995).

Partindo dessa premissa, pretendemos nessa coluna aproximar a Filosofia do cotidiano das pessoas, entendendo que pensar é um processo de descobrir relações existentes na realidade e representá-las em nossas consciências. Esta não é uma tarefa fácil, pois a realidade é complexa nas suas relações e inter-relações. As relações são dinâmicas, isto é, estão sempre se refazendo e se modificando, com isso nosso pensamento precisa estar atento e precisa ser competente para compreendê-las neste seu dinamismo.

O pensar produz sentidos, direções, significações na e para a ação. Daí a importância de que o pensar seja bem "produzido", isto é, seja construído com rigor, com sistematização, profundidade, com seriedade e com disposição constante a revisões, levando em conta as várias situações na sua globalidade e, dentro de cada realidade situacional, as relações dadas e as possíveis.

A coluna Educação para o Pensar pretende ser dinâmica, interativa, abrir espaço para o “diálogo virtual” entre os apaixonados ou não pela Filosofia. As contribuições serão bem recebidas e o respeito à diversidade de opiniões é o norteador das nossas ações para a publicação dos artigos. Esperamos promover o encontro de idéias sobre Educação e Filosofia, despertando em todos à vontade de buscar novos conhecimentos, visando uma maior autonomia do pensamento, uma percepção ética mais aguçada, a capacidade de aprofundar e melhorar o conhecimento de si e do mundo.

Um abraço,

Elisete Baruel
Relações Institucionais do Portal Planeta Educação.

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