Planeta Educação

Cinema na Educação

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

O Crime do padre Amaro
Eça de Queiróz à mexicana

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Aborto, quebra do voto de castidade, envolvimento de religiosos com narcotraficantes e, de quebra, participação efetiva de padres em movimentos de caráter social pregando a reformulação da estrutura sócio-econômica do país (relembrando a postura dos religiosos latino-americanos durante os anos 1970 e 1980, quando do surgimento e maturação da chamada Teologia da Libertação, pautada em obras de Gustavo Gutierrez e Leonardo Boff).

Ingredientes de sobra para compor uma história que mexe profundamente com os espectadores, particularmente com aqueles que vivem em países de sólida tradição cultural cristã católica.

Todas essas histórias compõem a adaptação para o cinema da trama escrita pelo português Eça de Queiróz produzida pelo cinema mexicano. Combatido a princípio, quando a realização das filmagens estava sendo efetuada, "O Crime do Padre Amaro" se tornou um grande sucesso de bilheteria e foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro.

Como em toda grande obra da literatura adaptada para o cinema, "O Crime do Padre Amaro" peca pela síntese e pela omissão de detalhes e trechos contidos no livro. Repete uma lógica que parece impossível de superar, aquela que estabelece que os livros são sempre superiores aos filmes ou adaptações para a televisão, mesmo quando o trabalho derivado da obra literária atinge status de grande produção, reconhecida pelo público e pelos críticos.

Sempre existirão pessoas insatisfeitas com o rumo tomado pela história, com a caracterização de um personagem feita por um determinado artista, com as locações, com a inexatidão quanto ao figurino ou em relação a música de fundo,...
Há que se ressaltar que as possibilidades de abstração, imaginação e criatividade (que nos permitem abstrair e definir os pormenores das histórias lidas) dadas pela literatura, são essenciais e devem ser constantemente estimuladas e preservadas no trabalho escolar. Por isso, ressalto que, antes de utilizar o filme como recurso em sala de aula, se peça aos alunos a leitura do texto original, clássico de Eça de Queiróz (assim como no trabalho com qualquer uma das grandes obras da literatura adaptadas para o cinema).

Acredito que a utilização de filmes é recurso de grande valor para a educação, porém advogo a tese de que a leitura e a literatura em sua forma clássica são insubstituíveis. Não se deve, em hipótese alguma, permitir que os alunos vejam o filme e desconheçam ou ignorem o livro. A partir da leitura, a visualização e posterior encadeamento de atividades relacionando obra literária e cinematográfica tornam-se boas possibilidades para aprofundamento e reflexão.

O Filme

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O jovem padre Amaro (Gael García Bernal), recentemente ordenado é encaminhado para trabalhar na paróquia de Los Reyes, onde passa a atuar ao lado do padre Benito (Sancho Gracia). Benito vive uma existência corrupta e contraditória como pároco da localidade, pois tem um caso consolidado com Sanjuanera (Angélica Aragón), dona de uma pensão e restaurante de Los Reyes e recebe "doações" generosas de influentes "empresários" locais (na realidade, narcotraficantes).

Amaro conhece então Amélia (Ana Claudia Talancón), filha de Sanjuanera (Angélica Aragón), uma jovem de grande beleza que participa ativamente da vida religiosa da cidade. Apaixonado por Amélia, Amaro se envolve com a jovem e descobre o caso de Benito com Sanjuanera e seu envolvimento com os narcotraficantes.

Ao entrar em contato com outros religiosos da região descobre que um deles atua em favor de movimentos populares de caráter revolucionário (marxistas). Percebe-se então no meio de muitas mentiras e falsidades, entre as quais o ardente relacionamento que tem com Amélia. A gravidez de Amélia o coloca numa situação de extrema delicadeza, tendo que decidir entre assumir seu amor pela jovem e abandonar a igreja ou manter-se na religião e afastar-se de Amélia...

Aos Professores

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1- Os caminhos seguidos pela Igreja Católica no período que se segue ao Concílio Vaticano II, realizado nos anos 1960, permitiram o surgimento de uma ala francamente progressista, identificada com a ideologia marxista, devotada a um comportamento assistencialista e totalmente ligado as questões sociais. Tratava-se da Teologia da Libertação. Paralelamente, outros segmentos da Igreja Católica se tornaram mais conservadores e arraigados a seus princípios. Afinal, qual é a verdadeira face da Igreja Católica? Que caminhos essa religião deve seguir nos próximos anos e décadas? O que deverá acontecer com as alas progressistas? Trata-se de um questionamento importante tendo em vista a importância e a amplitude que atinge o catolicismo no mundo, especialmente em países de grande tradição religiosa católica como o Brasil e o México.

2- Uma discussão acerca do voto de castidade e da impossibilidade dos padres formarem família, requisitos exigidos pela Igreja Católica para a ordenação de seus ministros, pode fomentar uma pesquisa a respeito das outras religiões (evangélicas, islâmicas, judaica, budista,...) e as exigências e preparação (estudo) que são feitas para que uma pessoa se torne sacerdote nas mesmas. Uma verificação histórica da evolução da preparação dos padres católicos também seria necessária. O ideal seria que, complementando levantamentos feitos em livros e sites da internet, também fossem encaminhadas entrevistas com religiosos e fiéis.

3- O aborto, tema extremamente polêmico, deve ser debatido a partir do prisma fisiológico e ético. Abordagens que apresentem países que legalizaram a prática e seus resultados no cotidiano devem ser utilizadas para fazer oposição à visão dominante em países e regiões onde o aborto seja considerado ilegal e imoral. As conseqüências para o organismo da mulher e as punições previstas em lei no caso brasileiro também podem ser estudadas e discutidas.

4- A realização de um trabalho em que se use o livro e, posteriormente, o filme "O Crime do Padre Amaro" pode suscitar uma comparação entre o desenvolvimento da trama na tela e na literatura. Essas equiparações podem abranger desde as descrições dos personagens e de suas ações até o cenário em que se desenvolvem os acontecimentos. Seria extremamente pertinente que o conteúdo da história permitisse uma aproximação com notícias ou informações do cotidiano em que se encontram os estudantes (até como forma de comprovação da atualidade da produção de Eça de Queiróz).

Ficha Técnica

O Crime do Padre Amaro
(El Crimen del Padre Amaro)

País/Ano de produção:- México, 2002
Duração/Gênero:- 118 min., Drama
Disponível em VHS e DVD
Direção de Carlos Carrera
Roteiro de Vicente Leñero baseado na obra de Eça de Queiróz
Elenco:- Gael García Bernal, Ana Claudia Talancón, Sancho Gracia, Angélica Aragón,
Luisa Huertas, Ernesto Gómez Cruz, Gastón Melo, Damián Alcázar.

Links

- http://www.adorocinema.com/filmes/crime-do-padre-amaro/crime-do-padre-amaro.htm

http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=5082

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