Aprender com as Diferenças
Interação entre os Leitores da Coluna e nossos Editores
Elisete Baruel
A mensagem enviada pela Maria Lúcia Oliveira Carvalho, motivada pela leitura do artigo da Rosangela Gera, publicado na Coluna “Aprender com as Diferenças”, foi rica em conteúdo e a resposta da Rosangela foi cativante e muito atenciosa. Resolvemos publicar a mensagem e a resposta porque vale a pena o diálogo virtual estabelecido.
Vale a pena conferir!
Abraços,
Elisete Baruel
Mensagem Recebida
De: luciaceadv@hotmail.com [mailto: luciaceadv@hotmail.com]
Enviada: Segunda 15/1/2007 06h 47
Para: Planeta
Assunto: [PLANETA] Acre Parabeniza.
Mensagem enviada por: Maria Lucia Oliveira Carvalho (luciaceadv@hotmail.com )
Mensagem enviada a partir da matéria “Uma Escola Para Todos e por Todos Rosangela Gera"
Parabéns pela matéria de Rosangela Gera na Coluna Aprender com as Diferenças.
A escola tem que ser de Todos. Concordo plenamente quando diz que a escola especial segrega e realmente é verdade, não minimizando a importância da escola especial e de seus profissionais, porém, sentimos na prática o quão é importante prepararmos a nossa criança o mais cedo possível para estarem juntas, viver o mundo. Poupar a criança de vivenciar experiências que serão significantes, só retarda cada vez mais as possibilidades de poderem se desenvolver e realizar as aventuras naturais da idade. Muitas mães têm medo de seu filho cair e sempre que possível oriento as mesmas que cair faz parte do processo natural da vida. Toda criança cai e adulto também...
Nosso desafio é fazer o que é necessário e estimular a levantar sempre; não tenha medo, movimente e desafie seu filho. Acredite que é possível. Barreiras atidudinais são o maior empecilho até mesmo em relação a nós profissionais da área que muitas vezes acreditamos que ainda é cedo. O bom de tudo isso é que os desafios estão sendo colocados; as reflexões e debates cada vez mais freqüentes e as mudanças estão acontecendo e certamente com essas mães guerreiras e corajosas nos impulsionam e juntos iremos longe.
Um grande abraço,
Maria Lúcia Oliveira Carvalho
Trabalho no Centro Estadual de Atendimento ao Deficiente Visual - CEADV em Rio Branco, capital do Acre, como Coordenadora da Intervenção Precoce juntamente com uma Equipe de Profissionais competentes e comprometidos com as pessoas com deficiência visual... Onde a cada dia erramos e acertamos, acreditamos, trabalhamos e sonhamos.
Resposta da Autora do Artigo Publicado
De: Rosangela C Gera [rosangelacgera@yahoo.com.br]
Enviado em: quinta-feira, 18 de janeiro de 2007 11h 50.
Para: Marta Almeida Gil; Elisete Baruel; luciaceadv@hotmail.com
Assunto: Resposta: [PLANETA] Acre Parabeniza
Marta e Elisete também fiquei feliz com esse retorno da Maria Lucia, me faz pensar que estamos no caminho certo e que precisamos continuar.
Estou cada vez mais convencida de que o lugar de todas as crianças é o mesmo, cada uma aprendendo e ensinando com suas diferenças e sua maneira de lidar com elas. Basta olhar com atenção para uma turma onde não há deficiências aparentes que logo perceberemos quantas diferenças e dificuldades cada criança apresenta, e por que a deficiência aparente de algumas delas, não pode se incluir nessa peculiaridade que é também "aceita" pela escola?
Seria muito bom que toda a escola e sociedade já tivessem percebido isso, poderíamos nos ocupar de outras questões, mas o trabalho ainda é árduo pela inclusão, esse ainda é um momento de implantação, de transição, enfim.
Sobre as quedas ou supostos preconceitos que uma criança com deficiência pode enfrentar na escola, não vejo isso como um problema exclusivo dessa criança. Todos têm seus momentos na escola, não?
E porque nossas crianças com deficiência precisam ser poupadas disso?
Foi esse um dos argumentos que ouvi dos professores do IBC quando travei uma discussão sobre escola especial na lista dos ex-alunos do IBC.
A vizinha da Laura e também sua coleguinha de turma, tem 4 anos e é obesa. Durante 1 semana chorava todos os dias porque não queria ir à escola até que um dia falou a mãe:
“A Ana Carolina não deixa eu brincar junto com ela por que diz que barrigão não entra na brincadeira."
E a professora então foi procurada pela mãe que lhe contou o ocorrido.
E o que ela fez?
Conversou com a turma, explicou que todos têm diferenças, foi hora de mostrar, perna seca e comprida, bunda grande, orelha de abano, narigão, narizinho, quem anda diferente, quem enxerga diferente, e aproveitar a grande oportunidade para falar sobre preconceito para crianças de 4 anos, e tudo vai bem, as crianças que são muito melhores do que nós, conseguem entender e seguir em frente.
Agora o que é a escola se não esse espaço para ensinar respeito, cidadania e solidariedade? Qual o problema se a criança tiver que enfrentar o preconceito na escola? Ela não terá que enfrentá-lo na vida?
A escola deve achar sim, as oportunidades para ensinar o que é certo, para formar nossos filhos cidadãos de verdade, nos ajudar nessa tarefa, e não colocar a possibilidade de que uma criança sofra preconceito como empecilho a que freqüente uma escola não especializada. Afinal, o que mais há lá dentro são preconceitos de toda ordem a serem enfrentados e combatidos diariamente.
A escola boa e competente ensina todas as crianças. Dedica-se a aprender o que não sabe. Respeita pessoas. Vê crianças e não o seu jeito de falar, andar, enxergar, gesticular. Se fosse mãe de uma criança sem deficiência e visse a escola em que meu filho estuda rejeitar uma criança com deficiência, digo hoje sem nenhuma hipocrisia ou demagogia, depois de tudo que aprendi e estou aprendendo sobre inclusão escolar que retiraria o meu filho dessa escola, porque ela não serve para ensinar coisas tão importantes quanto conteúdo escolar que é o respeito ao direito que cada criança tem e que é garantido pela Constituição.
Ei pessoal era pra ser só um e-mailzinho.
Beijo,
Rosangela
Médica e mãe de uma garotinha cega de 4 anos que cursa a Educação Infantil em uma escola regular na rede privada de ensino. Colatina-ES.