Carpe Diem
Não quero o poder
O Último Discurso
Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar – se possível – judeus, o gentio... Negros... Brancos...
Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo – não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades.
O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens... Levantou no mundo as muralhas do ódio... E tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria; Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.Charles Chaplin
(Trecho do discurso final do filme “O Grande Ditador”)
Pode parecer hipocrisia da minha parte, mas faço minhas as palavras de Charles Chaplin em seu célebre “Último Discurso”, pronunciado no clássico filme “O Grande Ditador”, ou sejam... “...não pretendo ser um imperador”. Penso que o mundo já tem imperadores demais. Há reis em demasia. O poder que corrompe está por todos os lados e tentamos nos mostrar alheios a toda a corrupção que polui tantos ambientes pelos quais transitamos...
Como Adão e Eva, envolvidos pelas doces e sedutoras palavras da serpente que lhes prometia a chave do paraíso ao lhes dar a maçã, o fruto proibido, temos sidos tentados a vender nossas almas ao diabo. E nem ao menos percebemos que nossas maçãs nos são dadas sob diferentes formas. Disfarçadas por rótulos e embalagens vistosas e belas que escondem, em seus receituários e ingredientes, inúmeros produtos tóxicos que envenenam as nossas existências e nos fazem cada vez mais perniciosos, maledicentes, céticos,...
Não quero o poder. Não almejo o comando das ações. Quero a compreensão. Preciso do diálogo. Luto pelo entendimento. Busco valorizar a todos e ajudar a formar equipes por onde passo. Não acredito que as estrelas possam brilhar se ao seu redor não existir o negro manto da noite que as realça e, por isso mesmo, penso que todos precisamos de todos.
Não há vitórias se alguém se julga mais importante ou melhor do que os demais elementos que compõem o cenário. O que seria de Jesus Cristo na célebre “Última Ceia”, retratada magistralmente por Leonardo da Vinci, se os apóstolos e Maria Madalena por ali não estivessem com ele para a divisão dos pães e das atribuições e responsabilidades que resultaram na constituição de um dos maiores movimentos de idéias de todos os tempos?
Há, no entanto, derrotas certas no horizonte quanto o astro do time fica esperando a bola no pé a todo o momento e comemora os gols de seu time utilizando-se daquele momento de celebração coletiva para fazer publicidade de algum produto e ganhar mais alguns “cobres” para engordar sua conta bancária... Quem, entre os anônimos coadjuvantes dessa celebrada virtuose esportiva vai se dispor a lhe passar a bola?
Vivemos num mundo que é cada vez mais egocêntrico e egoísta nas pessoas que o habitam. Se não bastassem a vaidade, o orgulho e a competição exacerbada que nos compelem a atitudes tão extremas quanto sacrificar um “amigo” para conseguir uma promoção em nossos empregos, vemos ainda a tecnologia que também nos mobiliza ao isolamento, ao afastamento e ao surgimento dos eremitas virtuais...
E como Chaplin era sensível. Seus filmes demonstravam, já nas décadas de 1930 e 1940, como no caso dessa obra inesquecível que é “O Grande Ditador” ou ainda no não menos memorável “Tempos Modernos”, que as máquinas e equipamentos que surgiam e nos davam perspectivas de melhores dias no amanhã estavam, na realidade, nos tornando menos e menos humanos...
Temos que suplantar os nossos infortúnios resgatando a humanidade perdida. Somente com doçura e afeição, como nos diz Carlitos, poderemos realmente retomar a trilha da felicidade. Ainda há esperanças, afinal, como atesta o próprio “Último Discurso”, “Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo”...