Planeta Educação

Cinema na Educação

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Click
O que é qualidade de vida para você?

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Adam Sandler é um artista surpreendente. Surgiu como comediante no programa Saturday Night Live, entre os anos de 1991 e 1995. Seu sucesso no célebre show de humor da televisão norte-americana logo lhe abriu os caminhos para que pudesse iniciar promissora carreira no cinema. Poucos esperavam, no entanto, que ele conseguisse avançar além do gênero que o consagrou e muitos foram aqueles que apostaram que sua carreira nas telas dos cinemas seria breve.

Sandler conseguiu superar as expectativas negativas quanto a longevidade de sua carreira no cinema (De sua estréia, como protagonista, em 1995, com o filme “Billy Madison” até o presente ano de 2007, já se passaram 12 anos e o ator continua emplacando sucessos) e, para a surpresa ainda maior de todos, sua carreira ultrapassou a linha divisória que separava a comédia de outros gêneros e tornou o ator ainda mais conhecido e admirado.

Exemplos de sua versatilidade estão presentes em títulos como “Embriagado de Amor”, “Como se fosse a primeira vez”, “Espanglês” (que já foi objeto de análise da coluna Cinema na Educação, confira o link http://www.planetaeducacao.com.br/new/colunas2.asp?id=451), “Tratamento de Choque” e no recente “Click”. Nesses filmes a verve cômica do ator não sai de cena, mas há sempre uma preocupação recorrente de discutir temas sérios, maduros e de importância.

Em “Click”, do diretor Frank Coraci, a trama toda gira em torno de um controle remoto universal... Na verdade um objeto desejado pelo personagem de Sandler, arquiteto ocupado que sempre que está em sua casa confunde-se ao manipular os diversos controles remotos que acionam a televisão, o aparelho de som, o ventilador de teto, o portão da garagem,...

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E se essa breve sinopse o faz pensar em parar de ler esse artigo imaginando que a produção é, na verdade, mais um daqueles filmes comerciais distribuídos em farta escala pela indústria cinematográfica hollywoodiana, não faça isso. “Click” tem a intenção de nos fazer rir em vários momentos de seus 98 minutos de exibição, mas quer ir além da piada escrachada, do riso debochado ou mesmo do sorriso amarelo que as comédias por vezes nos provocam.

Há uma preocupação evidente no roteiro de nos colocar em contato com situações que poderiam acontecer no cotidiano de qualquer um de nós. E o mais importante é que essas questões referem-se à forma como nos relacionamos com o tempo e com as pessoas, especialmente com aquelas pessoas que realmente nos são caras e muito especiais e que, tantas vezes, parecemos não perceber...

O personagem de Sandler persegue insistentemente o sucesso profissional. Não se trata, segundo o arquiteto vivido pelo ator, de chegar ao topo apenas por valorização pessoal, como uma forma de inflar o próprio ego, como acontece com tanta gente que conhecemos. O que ele busca realmente é valorização profissional e, como conseqüência disso, mais e melhores rendimentos.

Com isso, acredita poder dar a sua família o conforto e as benesses materiais que nunca teve e que seriam indispensáveis ao que ele pensa ser “qualidade de vida”. Sacrifica dessa maneira o tempo matando-se de trabalhar e estando ausente da vida familiar mesmo quando está em casa.

Isso significa que trabalhar e prosperar na carreira não são causas justas pelas quais devemos lutar? Não, em absoluto. Não é isso que o articulista que vos fala pretende fixar como idéia trabalhada no filme em questão. Seguindo a ótica do capitalismo que se estabeleceu no Planeta com todo o vigor a partir da Idade Moderna, não se deixa tão facilmente de lado a idéia de que “o trabalho enobrece o homem”.

O que o filme “Click” traz a tona é a preocupação que devemos ter quanto ao que nos move ao trabalho, a produção, ao sucesso em nossas carreiras... E é nesse ínterim que surge a imagem forte e consolidada da família (tão desgastada nessa nossa época em que tudo é descartável) como sendo o principal motivo de todo e qualquer trabalho que seja desenvolvido por alguém.

Você não tem tempo para seus filhos? Já não dispensa a mesma atenção a seu cônjuge? Liga pouco ou quase nunca para seus pais? Esqueceu-se dos irmãos? Não visita tios ou avós há um longo período? E sempre se desculpa dizendo que não há tempo disponível para isso já que tem que se dedicar à carreira e ao sucesso dos empreendimentos em que está envolvido... Está na hora de rever seus princípios e filosofia de vida antes que seja tarde demais... Assista “Click” e pense a respeito disso!

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O Filme

Michael Newman (Adam Sandler) é um jovem e bem-sucedido arquiteto que continua ambicionando conquistas em sua carreira profissional. Ele pretende ascender à condição de sócio da empresa onde trabalha e na qual é considerado um dos melhores profissionais que ali atuam. O proprietário da firma, conhecedor do talento e do interesse de Newman, a todo o momento o provoca e estimula a dar mais de si para a empresa ao prometer-lhe cargos melhores e sociedade na empresa.

Newman tem uma bela esposa e dois filhos. Ama profundamente aos membros de sua família e a considera seu maior tesouro. Por isso mesmo acredita que deve se sacrificar ao máximo em sua carreira para atingir uma condição invejável dentro da empresa. Busca com isso a solidez financeira que irá permitir conforto e qualidade de vida elevada para sua mulher e as crianças.

Para que isso aconteça, ele trabalha muito, até mesmo quando está em casa. Por vezes adormece no sofá de tanto trabalhar e em várias ocasiões fica tão confuso que ao parar para descansar acaba sempre se confundindo com os controles remotos que acionam a TV, o ventilador ou o portão da garagem. Isso sempre o deixa nervoso e, por isso, numa dessas ocasiões ele sai de casa em direção a uma loja de departamentos para comprar um controle remoto universal...

O que ele não sabe é que o aparelho que está adquirindo não serve apenas para ligar as quinquilharias domésticas que possui. Esse controle mexe, na verdade, com o ritmo e os rumos de sua vida. Permite que ele esteja presente em alguns momentos ao mesmo tempo em que adianta seus projetos ou acelera os momentos ruins e diminui o desenrolar dos acontecimentos bons...

Como isso irá afetar realmente sua vida? O resultado será benéfico a sua carreira? E a estabilidade da família? O que aconteceria se tivéssemos o poder de controlar os rumos de nossas vidas a partir de um aparelhinho como esse? Você gostaria de ter um? Ao assistir o filme estrelado por Adam Sandler (e que conta ainda com a participação de Christopher Walken e Kate Beckinsale) podemos chegar a algumas respostas... Portanto, não perca tempo e dê um “Click” em sua telinha e também em sua vida...


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Para Refletir

1- Consumimos, consumimos e consumimos. Mas realmente do que precisamos para atingir a felicidade? Será que a tão sonhada TV de última geração é o que nos fará chegar ao êxtase? Ou o carro do ano é que nos trará a alegria? Talvez aquela casa na praia ou as férias no exterior sejam as respostas aos nossos anseios... Seria interessante que nas escolas se fizesse um trabalho para o surgimento de gerações futuras de consumidores mais conscientes de seus direitos, responsabilidades e, principalmente, necessidades. E como um filme da estirpe de “Click” nos ajuda nesse quesito? A produção dirigida por Frank Coraci nos coloca em contato com a idéia de que a felicidade reside naquilo que compramos, no que podemos ter... E não no que realmente importa... Que tal incitar um projeto sobre o consumo consciente a partir de um debate tendo esse filme como base?

2- Família é a mais importante instituição humana. É em nossas casas que encontramos a segurança, o carinho, o apoio, a paz e o amor que precisamos (ou pelo menos deveria ser). Apesar disso, dedicamos menos tempo à família e, mesmo quando estamos em nossos lares, muitas vezes estamos distantes e alheios aos filhos e cônjuges, aos irmãos e aos pais. “Click” também coloca essa situação em destaque e ainda nos provoca a repensar as relações familiares. A escola pode e deve trabalhar idéias de integração familiar e de maior valorização das relações entre as pessoas que vivem num mesmo lar. Que acham de criar projetos que contemplem essa questão? Enviem sugestões...

3- Um trabalho interessante para ser realizado nas escolas tendo por base a tecnologia (evidenciada no filme a partir do controle remoto universal) seria fazer um levantamento da evolução dos equipamentos domésticos vivida pela humanidade nos últimos 30 ou 40 anos. Só para se ter uma idéia, no início dos anos 1970, ter uma televisão em casa era situação rara e vivida apenas por famílias abastadas. TV colorida então,... Hoje em dia, em casas de classe média para cima, há praticamente um aparelho em cada cômodo da casa. Como isso afeta as relações familiares? E os outros aparelhos, de que modo alteraram a rotina doméstica? Quais foram os benefícios da incorporação de tantos equipamentos? E os malefícios?

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Ficha Técnica
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País/Ano de produção: EUA, 2006
Duração/Gênero: 98 min., Comédia
Direção de Frank Coraci
Roteiro de Steve Koren e Mark O´Keefe
Elenco: Adam Sandler, Christopher Walken, Kate Beckinsale, Sean Astin, Jennifer Coolidge, Henry Winkler, David Hasselhoff, Rachel Drach, Jenae Altschwager.

Links

http://www.adorocinema.com/filmes/click/click.asp
http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=11595

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