Aprendiz de Feiticeiro
Formaturas: Hora de Adeus e Agradecimentos

Ainda me lembro dos primeiros dias de todos. Acanhados e tímidos. Medindo cada centímetro do novo espaço em que estavam entrando. Olhavam uns para os outros com desconfiança mas com alguma esperança. Alguns esboçavam sorrisos de “canto de boca”; outros preferiam manter uma postura mais distante. Todos estavam evidentemente nervosos e preocupados com o que iria acontecer nos próximos anos...

A cada novo mestre-feiticeiro que entrava naquelas salas eles procuravam demonstrar um pouco de suas personalidades. Cooperativos, quietos, agitados, questionadores, participativos, preguiçosos, curiosos, empreendedores, estudiosos, atrasadinhos e tantos outros “tipos” iam se revelando a cada novo dia perante os grandes magos que ali se apresentavam.

O tempo foi dando a cada um deles mais espaço. Foram ficando mais flexíveis e adaptados aos caldeirões, fornos, fogões, ingredientes, histórias e casos que a eles eram relatados diariamente. Afeiçoavam-se mais de alguns daqueles mestres na magia que desejavam tanto aprender. Tinham resistência a outros. Tudo dependia, em suma, do encanto que os conhecimentos apresentados em cada encontro despertavam sobre todos aqueles aprendizes de feiticeiro. Todos, ao final, revelaram-se igualmente importantes...

Tinham que aprender de tudo e as primeiras lições foram, sem dúvida, as mais difíceis de todas. Limpar o chão, esfregar as janelas, caprichar na higienização dos caldeirões, manter os instrumentos de corte devidamente afiados, guardar com o necessário cuidado os ingredientes e ainda chegar elegante ao final de tudo era tarefa árdua para muitos deles... Demorou certo tempo até que muitos deles atingissem os níveis cobrados por seus mestres.

Os grandes feiticeiros, acompanhados de seus livros de magia, ensinavam nas salas de aula e também nos corredores das escolas de bruxos... Não se esqueça de agradecer a cada um deles pelo tempo que compartilharam...

Alguns até desistiram durante a trajetória proposta. Sentiram saudades da família, do conforto que tinham, da tranqüilidade de suas vidas anteriores. Não sonhavam realmente em se tornar feiticeiros. É preciso muita dedicação, força de vontade e suor para superar os obstáculos que se colocam na frente de um futuro mago.

A magia, como qualquer outro tipo de conhecimento, exige também paixão e determinação. O talento individual entra em pequenas porções, percebidas e adicionadas ao longo do caminho. É ingrediente importante, que irá permitir aos futuros bruxos que se destaquem em meio a tantos outros que anualmente conseguem obter essa titulação...

Mas mesmo o grande talento, aquele encontrado em apenas alguns poucos magos que irão ter luz própria de grande intensidade, depende de outros fatores essenciais. São características que não estavam inseridas em nenhum dos tópicos trabalhados com os aprendizes de feiticeiro que durante todo esse tempo se encontraram com aqueles impressionantes bruxos e que, ao mesmo tempo, permearam todos os momentos que eles viveram juntos...

Revelavam-se na disciplina de mestres que se esmeravam em chegar na hora e que sempre tinham os mais atualizados feitiços em suas anotações; Estavam presentes na generosidade que aqueles bruxos e feiticeiras tiveram ao dividir seus conhecimentos sempre os acompanhando de sorrisos e enorme paciência para ensinar; Mostravam-se também fora das aulas, quando esses professores de magia tratavam a todos com enorme respeito, dos alunos aos diretores da instituição, dos serventes aos cantineiros...

As lições incluíam a honestidade intelectual que fazia com que os mestres sempre indicassem as fontes nas quais buscavam sua inspiração e seus conhecimentos; Esses mestres, feiticeiros com notáveis poderes e saberes eram, além de tudo, humildes e procuravam sempre olhar seus aprendizes e os demais nos olhos, eles procuravam nunca se apresentar como imortais ou como deuses... Tinham enorme clareza quanto aos limites de sua magia e de seus conhecimentos...

Dúvidas, erros, incertezas e inseguranças foram sendo deixadas para trás. Em lugar de tudo isso foi surgindo uma nova pessoa, dotada de conhecimentos que a tornaram mais poderosa e presente no mundo em que vivemos... Usem com sabedoria esses saberes...

E o tempo foi passando. As lições foram sendo aprendidas. Algumas mais facilmente. Outras nem tanto. Erros foram cometidos. Acidentes aconteceram. Falhas que se fizeram perceber e que eram necessárias para que os vôos posteriores de cada um daqueles aprendizes pudesse acontecer com maior segurança quando os mesmos tivessem que pilotar suas próprias vassouras e caldeirões...

Os bruxos do futuro ganharam suas primeiras vestes e chapéus de feiticeiros. Nelas se estampavam seus nomes. Com orgulho eles passaram a vestir-se com aquele figurino que os aproximava de seus mestres. Alguns já se sentiam tão seguros que passaram a achar que sabiam tanto quanto seus tutores. Outros, que tinham os pés no chão, sabiam que ainda teriam que conhecer muitos feitiços até que pudessem se equiparar a seus professores...

Os feiticeiros-professores, por sua vez, viam com orgulho o crescimento dos herdeiros de seus conhecimentos. Sabiam que estavam preservando conhecimentos através de todos aqueles jovens curiosos. Sempre acreditaram naquilo que faziam. Percebiam-se como seres finitos, com defeitos (aparentemente imperceptíveis a muitos de seus aprendizes), ainda com muitos saberes novos a adicionar a seus já bem-sucedidos feitiços...

Com a experiência que o tempo e os estudos haviam dado a cada um deles, tentavam orientar as energias de seus vibrantes e empolgados aprendizes para a magia regida pela ética e pela cidadania, mesmo que no reino dos bruxos... Onde muitas coisas erradas aconteciam e estampavam o noticiário de seu mundo.

Não há mais mestres e aprendizes a partir de hoje. Nos tornamos colegas de profissão, compartilhamos saberes e esperanças, dividimos lições e ética, trabalhamos todos juntos por um mundo mais justo, digno e melhor para todos...

Eram companheiros de seus aprendizes não apenas nas salas onde discutiam seus conhecimentos. Estavam também nos corredores daquela escola de bruxos a conversar, a todo o momento disponível, com aqueles alunos mais interessados e sedentos pela arte e ciência dos encantos e da magia.

E, como tudo que é bom acaba um dia... Uma nova fase para a vida de seus estudantes teria que um dia começar. Fecham-se as janelas e as portas da escola de bruxos (não de forma definitiva, até mesmo porque o que se espera é que muitos desses novos feiticeiros retornem, em busca de novos saberes e de aperfeiçoamento) e, em contrapartida, as portas do mundo real, aquele que deve acomodar esses novos magos, começa a se abrir para cada um deles...

E o que se espera é que todos tenham vôos seguros, mas que saibam que as intempéries e os contratempos surgem até mesmo no mais calmo e doce céu de brigadeiro... E que bom que os problemas existem, até mesmo porque se não fosse assim, quem precisaria de bruxos tão bem formados e hábeis?

Saibam, feiticeiros que estão se formando ao final de cada novo ano, seja qual for sua especialização... O que cada um de seus mestres em magia lhes deseja é que tenham um futuro brilhante, cheio de conquistas que coloquem seus nomes e vidas num eterno Olimpo (sem se esquecer que mesmo os deuses da mitologia grega, afeitos às paixões próprias dos seres humanos, também sentiam dores, erravam ou que estavam fadados a quedas...) e que, ao final de suas vidas possam olhar para trás e vislumbrar histórias das quais se orgulhem de ter contribuído para um mundo mais justo, humano, digno e melhor para todos...

Obs. Através dessa analogia com o mundo dos bruxos queremos enviar um grande abraço a todos os formandos do Brasil e aos profissionais da educação que os ajudaram a chegar lá para a composição de um país do qual nos orgulhemos mais no futuro. Parabéns a todos!