Carpe Diem
Crise de Consciência...
Carpe Diem
Murrow – Isso pode não fazer bem a ninguém. Ao final desse discurso algumas pessoas podem acusar esse repórter de trair seu próprio ninho seguro, e a sua organização pode ser acusada de ter acomodado de forma hospitaleira a um herege e a perigosos pensamentos. Mas a elaborada estrutura das grandes redes de rádio e televisão, agências de publicidade e patrocinadores não será abalada ou alterada. É o meu desejo, e também a minha obrigação, tentar falar com vocês companheiros de jornada com seriedade a respeito do que está acontecendo no rádio e na televisão. Se o que eu tenho a dizer pode ser considerado, então somente eu posso ser responsabilizado por aquilo que estou dizendo. Nossa história será o que nós estamos fazendo dela. E se existirem historiadores daqui a cinqüenta ou cem anos, e se forem preservadas as imagens de apenas uma semana de trabalho das três grandes redes de televisão, eles irão então encontrar, em preto e branco ou em cores, as evidências da decadência... Escapismo e isolamento em relação às realidades do mundo em que vivemos. Atualmente estamos ricos, gordos, confortáveis e complacentes. Nós criamos verdadeira alergia a notícias desagradáveis ou perturbadoras. Nossa mídia é reflexo disso. E a menos que abandonemos nossa comodidade e reconheçamos que a televisão na maior parte de seu tempo está sendo usada apenas para nos distrair, iludir, entreter e alienar – então a televisão e aqueles que a financiam, aqueles que a assistem e os que a produzem – irão ver imagens totalmente diferentes muito tardiamente...
Trecho do roteiro original do filme “Boa Noite, Boa Sorte” Escrito por George Clooney e Grant Heslov Traduzido por João Luís de Almeida Machado Extraído do link http://www.dailyscript.com/scripts/Good_Night_and_Good_Luck.pdf
Há um exercício necessário que todos deveriam fazer com grande regularidade. Não me refiro aqui a parte atlética e aos exercícios físicos. Nem tampouco ao também fundamental cuidado que temos ter com a nossa formação e aperfeiçoamento cultural. Ambos são verdadeiramente importantes para a nossa saúde e completude. Nesse sentido é muito válido voltar no tempo e perambular pela história para retomar os ensinamentos dos gregos que já nos diziam, antes de Cristo, “mens sana in corpore sano”...
O que nos cabe nesse espaço de reflexão é destacar um exercício que anda relegado ao esquecimento em nossa sociedade, marcada por tantos erros, enganos e descaminhos. Trata-se, como o título dessa pensata evidencia, de legarmos algum tempo para refletirmos com consciência sobre nossas vidas... Quem somos? Aonde chegamos? O que estamos construindo? Qual a nossa contribuição real para a melhoria do mundo? Será que somos realmente aquilo que um dia sonhamos?
E o princípio dessa dúvida é estimulado a partir da crise de consciência de um jornalista engajado que se vê, de repente, no meio do “olho do furacão”, engolido pelo cotidiano, ensurdecido, cegado e emudecido pelas circunstâncias escusas do meio em que trabalha.
Suas afirmações exortam seus colegas, durante uma cerimônia em que está sendo premiado por seu trabalho, a refletir sobre os rumos da televisão, do rádio, da publicidade e da comunicação de massa nos Estados Unidos na virada dos anos 1950 para a década seguinte. Esse bravo repórter inclusive informa os colegas ali presentes que suas palavras serão duras e que muitas pessoas podem inclusive pensar que ele está, literalmente, “cuspindo no prato em que comeu” e criando problemas para seus empregadores.
Sua honestidade, se adequadamente interpretada, visava levar a cúpula das emissoras de televisão e rádio, os jornais escritos, os anunciantes e seus colegas de trabalho, ou seja, outros jornalistas, a perceber os perigosos rumos que a mídia em seu país começava a trilhar... Caminhos esses que levavam a criação de um modelo alienante em que os espectadores não seriam levados a refletir ou analisar as informações que as redes informativas direcionassem a eles...
Como a verdade pode ser extremamente dolorosa, o jornalista em questão alerta seus interlocutores que a responsabilidade por todas as afirmações ali apresentadas é toda dele. Mas evidencia que a responsabilidade pela alienação derivativa da mídia que estava surgindo e se estabelecendo era de todos aqueles que se relacionavam a esse segmento de trabalho. Sua crítica destaca que a complacência e a acomodação são qualidades inerentes ao mundo profissional no qual os ali presentes estão inseridos...
E você? Também está sendo complacente? Sente que está acomodado? Reserva tempo para pensar nas conseqüências de seus atos para a comunidade em que vive? Consegue dormir em paz todos os dias? Ou será que seus pecados cotidianos são tão grandes que a insônia virou rotina em suas noites? Está na hora de pensar um pouco a esse respeito... Antes que uma forte crise de consciência venha atormentá-lo...