Aprender com as Diferenças
Uma Escola Para Todos e por Todos
Rosangela Gera
A escola especializada segrega por definição mesmo. Para ela vão crianças diferentes, que não "podem" aprender no mesmo espaço escolar das demais e nem ter os mesmos educadores. É este o conceito. E a meu ver este é o maior de todos os prejuízos que esse modelo acarreta. E por conta desta segregação, pessoas sem deficiência, em sua maioria nunca dividiram seus bancos escolares com colegas diferentes, com necessidades diferentes em seu modo de falar, escutar, enxergar, andar e compreender.
Criamos uma sociedade onde há espaços segregados desde que nascemos e começamos a aprender as coisas. Portanto são engenheiros, arquitetos, profissionais das mais diversas áreas que acham normal que cegos não leiam livros ou sites, que cadeirantes não precisem de mais espaço ou rampa para suas cadeiras, serviços só para quem escuta e fala como todos e por aí vai. Necessidades diferentes não são sempre lembradas e quando requisitadas muitas vezes são renegadas e por isso estamos à volta com as ações nos Ministérios Públicos, não é verdade?
Este é um dos maiores problemas das instituições, as crianças e os estudantes não se misturam na escola. Mas precisarão se misturar futuramente nas universidades, no mercado, nos espaços de lazer. A sociedade mudou, estamos de frente para outras perspectivas, de escola, de trabalho, de lazer, de acessibilidade a produtos e serviços. Tudo por conta das novas tecnologias, dos avanços das nossas leis. Enfim, de uma evolução da humanidade. Há alguns anos, não muitos, crianças cegas só aprendiam braile em instituições ou escolas especializadas.
Hoje os sites ensinam braile, a inclusão escolar questiona essa restrição e escolas superiores já são obrigadas a terem a LIBRAS em seus currículos. Estamos vivendo outro momento, este em que as pessoas com deficiência estão tomando a rédea da situação e questionando a legislação e o não cumprimento dela, exigindo vagas no mercado de trabalho, acessibilidade dos serviços e produtos e também um lugar garantido na escola que deve ser de todos. Um aluno com dislexia precisa de uma estratégia diferente para aprender a ler, um aluno cego também, um surdo idem, e outro que não seja cego, surdo ou disléxico pode ter uma dificuldade diferente, e a escola precisa ensinar a todos. Porque é preciso que se respeite à diversidade desde cedo, e isso se faz oferecendo a todos no mesmo espaço condições para isso.
Acredito que pelo fato de até pouco tempo pessoas com deficiência terem tido um lugar especial para elas é que hoje estão tendo que sair em busca dos direitos que não são respeitados. Quando se produz livros, não se pensa que cego precisa ler.
Por quê? Por que estudantes universitários cegos não conseguem seus livros para os cursos que fazem igualzinho os demais colegas? Por que uma criança cega em fase alfabetização não tem os livros da Ana Maria Machado, do Ruth Rocha, da mesma maneira que seus coleguinhas?
Provavelmente porque as Instituições especializadas davam conta de ensinar crianças cegas, os demais da sociedade não precisavam se ocupar disso.
Por que nunca se pensou como uma pessoa cega poderia apreender os desenhos em relevo?
Quem estudava isso fora das Instituições?
A quem interessa produzir punções e regletes: punção e reglete, material utilizado para escrever o braile que sejam adaptadas as mãozinhas de uma criança de 5 e 6 anos?
E o material escolar dessas crianças porque não vem com enfeites e cheirinhos igual a das demais crianças?
Eu respondo: Porque estavam sendo ensinadas apenas nas instituições, não tinham e ainda não têm visibilidade suficiente para a elas serem destinadas produtos de qualidade. Olha, teria muito mais a falar sobre isso. Sou absolutamente contra a segregação escolar. Acho que ela deve existir para as situações especificas e mesmo assim, sempre que possível de maneira parcial, e quando altamente necessário.
Não podemos deixar nossas crianças com algum tipo de deficiência escondidas em escolas especializadas, e só depois apresentarmos a sociedade depois que já "aprenderam" a como se portar nela. Não, todos têm direito desde que nascem a terem acesso ao mesmo tipo de informação e serviço. Assim, aprendem desde cedo aqueles que não tem deficiência de que o lugar de todos é o lugar de todos, e assim, só assim poderemos ter esperança de que essa consciência mude e possamos construir uma sociedade de fato inclusiva.