Planeta Educação

A Semana - Opiniões

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

As lições do Cirque du Soleil
Renove sua linguagem, não tenha medo de ousar

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Estive ontem à noite na derradeira apresentação do Cirque du Soleil em São Paulo. Como sempre a platéia estava lotada. Pessoas dos mais diferentes bairros da capital paulista ou do interior e até caravanas provenientes de outros estados tiveram a chance de conhecer um dos espetáculos desse circo que está reinventando a arte circense no mundo. Não é à-toa que os ingressos para o show “Saltimbanco” tenham se esgotado rapidamente (apesar de caros para os padrões nacionais) e que já existam planos para o retorno da trupe canadense ao nosso país já para o ano que vem...

Não irei utilizar o presente artigo para exaltar ainda mais os efeitos e qualidades de um espetáculo primoroso como o que pude acompanhar na noite de ontem. Ainda me sinto extasiado em relação aos números, artistas, músicas, iluminação, figurinos e demais componentes dessa incrível apresentação. Os sentidos dos espectadores, entre os quais me incluo, foram todos direcionados para a mágica, a destreza e a habilidade de artistas selecionados pelos quatro cantos do mundo exatamente para criar no público esse magnetismo e tornar cada um ali presente uma criança durante as pouco mais de duas horas de duração do show...

E quem entre nós não sonhou um dia em voltar a ter o olhar cândido, incrédulo e doce de uma criança diante dos mirabolantes efeitos que somente um grande espetáculo de circo pode proporcionar? Andamos tão anestesiados pelo cotidiano que nos consome, assola e assalta que o cheiro da pipoca, o riso provocado pelos palhaços, o vôo dos acrobatas ou as peripécias dos malabaristas são sempre muito bem vindas para nos fazerem lembrar quem somos...

A despeito desse necessário e fundamental fôlego redobrado que o Cirque du Soleil pôde conceder a todos aqueles que tiveram o privilégio de assistir a sua apresentação no Brasil e no mundo, há outras importantíssimas contribuições que o circo canadense trouxe para nós. Não nos é possível destacar alguma delas como sendo mais importante que as demais, por isso mesmo a ordem de apresentação das mesmas é aleatória.

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Voe. Se contorça. Acredite em sua força e elasticidade...

Começo ressaltando a necessidade do sonho. Não apenas o sonhar vago, distante e que não promove realizações. E sim aquele que alimenta o espírito e faz com que tenhamos força para transcender, ir além daquilo que a vida espera de nós, rompendo as barreiras do destino previsto para o nosso futuro.

Como no caso do Cirque du Soleil, composto a partir do sonho de produção e realização de um espetáculo circense que realmente revigorasse o segmento, abalado por crises sérias e profundas que ameaçavam extinguir tal arte num período de tempo bastante reduzido. Confrontar o mercado competitivo do entretenimento com uma arte milenar, em decadência em várias partes do mundo (constatada a partir do encerramento das atividades de vários circos), tendo pela frente a primazia das diversões eletrônicas e cibernéticas (ou virtuais) na preferência das novas gerações é realmente tarefa digna de pessoas muito corajosas.

É mais ou menos como pensar num novo deputado ou senador, que nunca antes trabalhou no congresso, a adentrar seu espaço de trabalho para os próximos quatro anos tendo a coragem de realmente abraçar causas, valores e posicionamentos éticos independentemente dos conchavos, artimanhas, influências, ingerências ou lobbies aos quais seja submetido. Nem mesmo a possibilidade de não conseguir a reeleição poderia mudar o seu foco de trabalho, voltado para o povo que o elegeu. Será que alguém será assim, tão autêntico em seu trabalho nas futuras legislaturas que se estabelecerem?

Invariavelmente pensamos que uma pessoa deve se submeter ao seu novo ambiente de trabalho e colegas, para se ambientar e poder exercer seu trabalho em paz. Será que não podemos demonstrar nossa força e poder criativo? Nossa coragem e determinação em relação aos nossos valores e crenças, mesmo quando nossa forma de pensar aparenta estar em desuso? O Cirque du Soleil promoveu essa pequena revolução no mundo do entretenimento ao trazer de volta ao cenário mundial, de modo inovador e muito criativo, os espetáculos circenses. E os políticos? Quem terá coragem de fazer isso? E na educação, há professores dispostos a pagar esse preço e renovar o trabalho nas escolas? Onde estão? Quem são? O que estão fazendo?

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Vivencie o riso. Admire-se com a cor. Divirta-se com as performances.

Como disse anteriormente, não basta apenas sonhar de olhos abertos. De nossas cabeças devem brotar projetos que se efetivem. Para tanto temos que reunir forças, contar com pessoas que também alimentem esperanças para o futuro de nossas áreas de atuação. Conjuntamente com esses outros idealistas ou sonhadores temos que articular a ação que permita que nossa “viagem a lua” ou “volta ao mundo” realmente aconteçam.

O Cirque du Soleil reúne artistas do mundo todo. De cada um dos continentes e dos mais variados países (inclusive do Brasil), são recrutados novos agentes que ajudam a energizar ou revitalizar o projeto ano após ano. Essas pessoas são selecionadas a partir de exaustivos processos de avaliação de suas habilidades, condições físicas, disciplina e empenho em treinamentos. Para vencer e fazer parte da melhor trupe circense do mundo é necessário ter muita qualidade técnica, mas também disciplina para treinar e estar fisicamente muito bem preparado.

Quando assistimos ao espetáculo temos sempre a impressão de que tudo é muito fácil. Assim nos fazem pensar todos aqueles artistas magníficos a partir de suas incríveis atuações. Não podemos e nem devemos nos esquecer das horas e horas passadas por cada um em academias, a produzir os músculos necessários, a forçar braços e pernas, a flexibilizar os membros e a memorizar movimentos e números a serem executados. Somente depois de muito esforço é que as composições estarão definitivamente prontas para a apresentação ao grande público.

É mais ou menos como o trabalho que realizo ao escrever as colunas e artigos que fazem parte do acervo do Planeta Educação. Não tenho a pretensão de equiparar a arte circense ao mundo das letras, tampouco a produção incipiente e inicial de minha carreira. Gostaria apenas de destacar que os textos que compõem o breve acervo desse nosso modesto portal são decorrentes de muita leitura, estudo, atualização por jornais e revistas, navegação em sites, cursos feitos, eventos culturais acompanhados,...

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Compartilhe a graça. Perceba as luzes. Acompanhe a música. Sonhe...

A “musculação” necessária para os dois trabalhos não é a mesma, assim como para tantos outros projetos ou realizações profissionais, mas em todos os casos uma produção bem sucedida, que obtenha bons resultados depende muito de preparação anterior que a maior parte das pessoas não observa, percebe, entende ou valoriza. Costumo dizer que para escrever ou dar aulas tenho que fazer a minha lição de casa direitinho... O mesmo é válido para qualquer profissão, como tem demonstrado muito bem o Cirque du Soleil...

Outro quesito fundamental para o sucesso do Cirque du Soleil é a criatividade. A partir da imaginação de seus idealizadores e artistas, o circo canadense procura pensar e repensar números e apresentações. Para tanto estudam e analisam projetos anteriores de sua própria autoria e, principalmente, viajam o mundo e a história atrás de novas referências para atualizar seus shows e apresentações.

Alguns dos maiores gênios da humanidade, entre os quais Einstein e Chaplin costumavam dizer que suas grandes realizações eram frutos de enormes esforços e de alguma inspiração. Esses trabalhos árduos aos quais se referiam eram justamente a pesquisa, o exame do mundo, a argúcia em relação ao contexto e as pessoas, a capacidade de entender o que está acontecendo aqui e agora para poder projetar diferenças e abrir as janelas do amanhã, onde antes nenhum mortal entrou...

No mundo da gastronomia atual temos entre os maiores e mais conceituados chefs um jovem espanhol de nome Ferran Adriá. Seu restaurante (El Bulli), tem reservas de mesas confirmadas para os próximos três anos. Também é interessante saber que o funcionamento de seu estabelecimento ocorre apenas num dos semestres de cada ano. Isso poderia acarretar para os leigos comentários maldosos que o qualificassem como preguiçoso ou rico demais a ponto de não trabalhar nos outros meses do ano.

Não, não é nada disso, pelo contrário, no restante do tempo, Adriá pesquisa ingredientes, alternativas de trabalho, instrumentais novos ou antigos que possam ser utilizados em suas produções gastronômicas e estuda ciências para aplicar tais saberes na cozinha... Preciso falar mais alguma coisa? Deu para entender de onde veio seu sucesso e sua reconhecida genialidade no ramo?

E é justamente a partir de casos como o desse renomado chef espanhol ou do mais impressionante circo do mundo, o Cirque du Soleil, que temos que encontrar exemplos e inspiração para que nossas próprias realidades deixem de ser marcadas pelo marasmo ou pela mesmice. Na política, na educação, na saúde, no esporte, na engenharia ou em qual ramo for temos que procurar novas fórmulas, renovar as práticas, criar linguagens alternativas e promover o surgimento da esperança num mundo melhor... Faça do seu sonho uma realidade boa para você e para o mundo, como os artistas do melhor circo do mundo estão fazendo para milhares e milhares de pessoas com a sua arte...

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