Carpe Diem
Instantes
Coluna Carpe Diem
Se eu pudesse viver novamente minha vida, na próxima, trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria mais tolo ainda do que tenho sido, na verdade, bem poucas coisas levaria a sério. Seria menos higiênico. Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios. Iria a mais lugares aonde nunca fui, tomaria mais sorvete e menos lentilha, teria mais problemas reais e menos problemas imaginários. Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto da vida: claro que tive momentos de alegria. Mas, se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos. Porque, se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos, não perca o agora. Eu era um desses que nunca ia à parte alguma sem um termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas; se voltasse a viver viajaria mais leve. Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera e continuaria assim até o fim do outono. Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças, se tivesse outra vez uma vida pela frente. Mas, já viram, tenho 85 anos e sei que estou morrendo...
Poema atribuído a Nadine Stair
O tempo tem passado com incrível rapidez. A cada vez que fecho os olhos e os reabro em seguida tenho a sincera impressão de que muitas e muitas transformações se efetuaram. Não tenho receio do envelhecimento. Faz parte da existência humana e, se bem recebido e trabalhado, o passar do tempo pode ser deveras agradável e satisfatório mesmo quando atingimos a “melhor idade”.
O que me faz tremer, aquilo que realmente me amedronta é perder as oportunidades de ser feliz. E a felicidade reside não em grandes presentes, embrulhados no mais belo papel da loja, com laço vermelho a lhe conferir ainda mais dignidade e beleza...
A felicidade está, como nos dizem alguns sábios e poetas de plantão, nas pequenas coisas da vida. No sorvete que deliciosamente saboreamos numa tarde de verão. Num mergulho na piscina. Na bicicleta que pedalamos pelas ruas para que o vento possa mexer nossos cabelos e suavizar o calor exasperante...
Atingimos o êxtase quando abraçamos alguém que tanto amamos ou quando nos sentamos à mesa com amigos e familiares para uma tradicional e apetitosa refeição no final de semana. O gol marcado numa saudável brincadeira ou a página lida de um autor que tanto nos intriga ou diverte também são exemplos corriqueiros da felicidade simples e breve, mas autêntica e duradoura nos confins de nossa memória...
Quantas não foram as vezes que desejamos congelar nossas vidas em determinados momentos apenas pelo fato de que eles nos faziam saciados e agraciados pela alegria suprema. O reconhecimento de nosso esforço pelo professor mais exigente da escola, a promoção na firma em que trabalhamos, o tão sonhado “sim” que sai da boca da pessoa amada...
E há pessoas que preferem descartar o tempo e suas amplas possibilidades de alegria a se desgastar com pequenos problemas. Existem aqueles que deixam de conversar com amigos e parentes por longos períodos e, depois de tudo, nem ao menos se lembram porque deixaram para trás a companhia de pessoa tão estimada...
Não sou do tipo que sempre se lembra do guarda-chuva ou do pára-quedas. Tenho dado preferência ao sorvete e não a lentilha. Receio, porém, que preciso correr mais riscos, mostrar-me menos perfeccionista, subir em muitas montanhas e não levar a vida tão a sério quanto tenho levado...
Como tantas pessoas, também me vejo, às vezes, em luta com problemas que são imaginários e não tão reais. Preciso andar mais leve. Tirar o excesso de peso de minha mochila para aliviar a coluna. Caminhar mais com o pé no chão e, brevemente, fazer a tão sonhada volta ao mundo...
Ainda não cheguei aos 85 anos e, portanto, ainda tenho algum tempo pela frente para poder errar mais e ter muito mais momentos bons do que tive até agora...