Planeta Educação

Ensino de Línguas

Camila Hayashi Psicopedagoga pelo Instituto Nacional de Pós-Graduação, cursando MBA em Marketing pela Fundação Getúlio Vargas; Coordenadora Educacional da empresa Planeta Educação. E-mail: camila.hayashi@fk1.com.br

O que você precisa para aprender uma língua estrangeira?
As interferências no aprendizado de línguas...

É surpreendente o contraste entre a facilidade com que uma pessoa aprende uma língua estrangeira e a quase impossibilidade que uma outra pessoa encontra diante desta mesma tarefa. Maior ou menor facilidade para línguas pode ser causada por diversos fatores. Veja exemplos abaixo:

Idade: Por razões de ordens biológicas e psicológicas depreende-se que quanto mais cedo se iniciar esses estudos, melhor e mais rápida é a aprendizagem de uma língua estrangeira. O ritmo de assimilação das crianças é muito mais rápido.

Formação Lingüística: Quanto maior o grau de semelhança que a língua materna possui com a língua que está sendo estudada, mais fácil se torna essa aprendizagem. Por exemplo: alemães, holandeses, suecos e até mesmo os brasileiros, possuem mais facilidade para aprender o inglês do que, por exemplo, os japoneses ou chineses.

Versatilidade lingüística: Muitas vezes, a língua estudada é a terceira língua do indivíduo. Isto também é muito importante. Os monolíngües demonstram uma forte dependência em relação à sua língua materna para estruturarem seu pensamento, ao passo que os bilíngües são mais versáteis mentalmente, pois já estiveram expostos à situação de aprender uma nova língua.

Esta versatilidade lingüística vem acompanhada por uma versatilidade cultural, o que também facilita a identificação com a cultura alvo.

Acuidade Auditiva: A língua é um fenômeno essencialmente oral e, considerando-se que o aparelho articulatório de sons do ser humano (cordas vocais, cavidade bucal, língua,...) mostra-se extremamente limitado quando comparado ao universo lingüístico criado por sua mente, deduz-se facilmente a importância que diferenças fonéticas íntimas vêm a ter. 

Não só a percepção, mas também a articulação de sons dependem diretamente do aparelho auditivo, uma vez que o ouvido funciona como uma espécie de monitor da fala. Sabemos também que a capacidade auditiva pode variar consideravelmente de uma pessoa para outra. 

Quem não tem boa audição, portanto, leva desvantagem, da mesma forma que uma pessoa de baixa estatura estaria em desvantagem para se tornar um bom jogador de basquete.

Características de personalidade: Fatores de ordem psicológico-afetiva podem causar impacto direto na capacidade de aprendizado, influindo tanto positivamente como negativamente. Pessoas introvertidas e reservadas normalmente mostram um ritmo de assimilação mais lento, principalmente na produção oral, pelo simples fato de se exporem menos e evitarem muitas das oportunidades de comunicação com que se defrontam quando em ambientes da língua estrangeira. Os principais fatores que atuam como filtros dificultadores da assimilação são:

  • Perfeccionismo: tendência de se preocupar excessivamente com a forma; idéia radicalizada do conceito de certo e errado em se tratando de línguas. A pessoa não se sente confortável na incerteza e prefere não correr riscos de cometer deslizes0.
  • Falta de autoconfiança: baixa auto-estima, talvez causada por traumas durante a educação recebida em casa ou na escola, pode produzir carência de autoconfiança que inibe a iniciativa criativa, elemento essencial no aprendizado de línguas.
  • Dependência da eloqüência: A precisão e elegância no falar é uma conquista alcançada ao longo da vida, fruto de uma carreira acadêmica. Essa habilidade com nossa língua materna representa segurança e poder, dos quais é difícil abrir mão. Isso torna a tarefa de começar de novo na língua estrangeira, do quase nada, aos tropeços, de forma rudimentar, como se pouco inteligentes fôssemos, o que pode ser extremamente frustrante.
  • Autoconsciência: consciência da própria imagem; preocupação excessiva com o que os outros podem pensar de si.
  • Ansiedade: causada pela expectativa excessiva de obtenção de resultados. A atitude ideal face ao desafio de se assimilar uma língua estrangeira, é a de perseverança e continuidade.
  • Provincianismo: apego excessivo à identidade lingüística e cultural; forma extrema de monocultura. Atitude de se fechar naquilo com que se identifica, seu jeito de ser e de falar; de se sentir inseguro fora deles - problema freqüentemente observado em adolescentes.

Por outro lado, auto-estima e autoconfiança, desinibição, criatividade (habilidade de improvisação), tolerância consigo próprio, empatia, curiosidade e perseverança são características positivas.

Memória: a capacidade de reter e relembrar informações e experiências é sem dúvida uma habilidade mental que influi no aprendizado de línguas. O grau de capacidade de memória de cada um pode depender de fatores biológicos e psicológicos, mas vai depender muito também de fatores externos.

Pesquisas sobre a fixação e a retenção das lembranças permitem determinar que retemos bem aquelas experiências nas quais tivemos participação direta. Ao contrário, esquecemo-nos com facilidade o que é neutro, mal estruturado e pouco significativo.

Assim como a química é mais facilmente aprendida em laboratório do que na sala de aula, também as formas (palavras, expressões) da língua estrangeira ficarão mais facilmente retidas na memória se aprendidas em situações reais de comunicação, em vez de num ambiente descontextualizado de uma sala de aula.

Disponibilidade mental: O grau de disponibilidade mental da pessoa para com a língua estrangeira é inversamente proporcional ao número e ao peso das preocupações de ordem familiar, profissional e financeira com que a pessoa vive. Quanto menor a disponibilidade mental, tanto menor a capacidade de memória e o ritmo de assimilação.

Motivação: A motivação é uma força interior propulsora, de importância decisiva. Assim como aprendizado em geral, o ato de se aprender línguas é ativo e não passivo. Não se trata de se submeter a um tratamento, mas sim de construir uma habilidade. 

Não é o professor que ensina nem o método que funciona; é o aluno que aprende. Por isso, a motivação do aprendiz no aprendizado de línguas é um elemento chave. Experiências anteriores de resultados negativos, podem desencorajar o aluno de uma nova tentativa. Também aquele que não se identifica com a cultura estrangeira, - ou que às vezes até a despreza, - normalmente por falta de informação a respeito da mesma, estará desmotivado a aprender sua língua.


Independência: O pleno desenvolvimento da competência na língua estrangeira ocorre quando o aprendiz, além de ser movido por um interesse ou necessidade pessoal, assume o controle de si mesmo neste processo, adquire consciência de suas habilidades e de suas limitações, e desenvolve uma estratégia que consegue tirar vantagem de suas habilidades e compensar suas deficiências. Portanto, independência em relação a professores e programas é, no plano psicológico, um elemento fundamental.

Tempo de dedicação e grau de envolvimento: Logicamente, quanto mais tempo for dedicado ao contato com a língua estrangeira, tanto maior será o grau de assimilação. Não só o tempo de contato, entretanto, mas também o grau de envolvimento afetivo e psicológico, por ocasião do contato, terão influência decisiva. 

Por exemplo, se o contato for com a língua falada, se o aluno estiver conversando com algum estrangeiro, quanto maior o envolvimento afetivo com essa pessoa, ou quanto maior o grau de interesse ou de importância da conversa, tanto melhor a assimilação. Se o contato for com texto escrito, se o aluno estiver tentando ler um texto em inglês, quanto maior for o interesse do aluno pelo assunto, tanto maior sua assimilação.

Desta forma, podemos concluir que programas de ensino de línguas serão mais eficazes se oferecerem ambientes autênticos que estimulem a motivação e serão menos eficazes se predeterminarem o mesmo ritmo para todos. 

Devem levar em consideração diferenças individuais, permitindo que cada um construa seu desenvolvimento de acordo com seu talento, motivação e disponibilidade. Ou seja, devem saber explorar o talento dos mais rápidos, bem como respeitar o ritmo de assimilação daqueles que precisam de mais tempo para o aprendizado.

Referência:

Schütz, Ricardo. O que É Talento para Línguas? Disponível em http://www.sk.com.br/sk-talen.html. Acesso em 20 jun 2004.

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