Planeta Educação

A Semana - Opiniões

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

O “caçador de crocodilos” deixa saudades...
Steve Irwin – A morte prematura de um ambientalista

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Quando cheguei em casa e disse a meu filho que o “caçador de crocodilos” tinha morrido ele imediatamente ficou amuado. Cara fechada, semblante triste, olhos a indicar que as lágrimas poderiam rolar. Para o meu menino, Steve Irwin, o ambientalista que se tornou conhecido mundialmente em virtude de seu programa de televisão exibido pelo canal Animal Planet, era um daqueles amigos que entram em nossa casa praticamente todos os dias...

Também fiquei chocado com sua morte prematura. Irwin tinha apenas 44 anos e estava no meio de mais uma de suas filmagens quando foi atingido por uma arraia. O golpe fatal desferido pelo animal marinho com sua cauda o atingiu no peito, na altura do coração, praticamente vitimando-o no ato. Deixou a esposa e dois filhos pequenos, pelos quais tinha grande devoção.

Expliquei para meus filhos que a profissão escolhida pelo ambientalista era de alto risco. Mesmo sabendo que Irwin lidava com animais selvagens desde sua infância e que tinha grande prática e conhecimento sobre o assunto, ao lidar com bichos que não tinham contato com seres humanos ele se arriscava e podia, a qualquer momento (como acabou acontecendo), ser atacado por alguma dessas feras.

Comentei com as crianças que há certas áreas de trabalho em que os riscos são iminentes até mesmo para os melhores especialistas do mundo, caso reconhecido do “caçador de crocodilos”. Dei a eles como exemplo a situação do melhor piloto de fórmula 1 do mundo, o brasileiro Ayrton Senna, falecido em 1994. Mesmo sendo considerado por milhões de pessoas como um dos maiores esportistas do ramo, Senna foi vitimado por problemas mecânicos em seu carro durante uma prova em que liderava...

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Irwin queria nos colocar em contato com espécies ameaçadas de extinção ou temidas.

A morte, por si só, já é um tema que causa muita confusão na cabeça das crianças (e de muitos adultos também). Nossa formação de base cristã não nos ensina a lidar de forma amadurecida com a grande certeza de nossas breves passagens por esse mundo. Todos nós iremos, qualquer dia desses, dar adeus e vagar para uma outra instância...

Apesar dessa constatação, que qualquer um de nós compreende desde os nossos primeiros encontros com a morte (através do falecimento de amigos, parentes, conhecidos), teimamos em não aceitar o que é certo e fatal (sem ironias) para o destino (ou futuro, se preferirem), de todos os seres humanos desse planeta.

É certo que um adeus prematuro, de pessoas que estão no auge de sua existência pessoal e profissional machuca ainda mais o coração das pessoas. Quando as pessoas que faleceram deixam para trás uma família órfã de sua existência as circunstâncias da despedida tornam-se ainda mais amargas. Se a pessoa em questão é uma figura pública, de grande destaque numa determinada área de atuação e com projetos que ajudaram a melhorar o mundo de alguma forma, aumenta e muito a sensibilidade de todos quanto à perda...

Até mesmo porque somos carentes no mundo atual de pessoas que realmente devotem seu tempo e sua existência as causas nobres que ajudam a melhorar nossas existências e, até mesmo, garantir a sobrevida de tantas pessoas ou espécies. Esse era o caso de Steve Irwin. Seu programa na televisão o notabilizou mundialmente e permitiu a ele realizar seus projetos e sonhos enquanto ambientalista atuante.

Irwin dizia que a maior realização de sua vida profissional era ter levado ao grande público a preocupação com o destino de várias espécies animais que despertavam inicialmente grande repulsa e pavor, como os crocodilos e as cobras. Através de suas peripécias em diversas localidades da Austrália e de outras partes do mundo, procurava os animais escondidos em florestas, desertos, rochas, rios e oceanos para apresentá-los ao grande público que assistia a seus programas.

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O ambientalista e sua esposa Terri rodaram o mundo e produziram inúmeros programas através

dos quais pretendiam conscientizar as pessoas da necessidade de preservar a vida animal.

Costumava falar de répteis, batráquios, cobras, lagartos, felinos e tantas outras espécies com a devoção e o carinho de uma pessoa que realmente amava os animais. O mais comum era dizer que achava aquele espécime por ele encontrado um fabuloso exemplar, dotado de qualidades excepcionais, perigoso por alguns de seus artifícios de defesa e proteção, mas destacando que esses bichos deviam ser protegidos e jamais provocados pelos seres humanos.

Em suas produções tinha sempre a preocupação de dizer ao seu público, formado por uma legião de pequenos fãs (crianças e adolescentes), que aquilo que estava fazendo não deveria ser repetido ou tentado por ninguém, já que se constituía em atitude perigosa e destinada apenas a profissionais que tivessem os necessários conhecimentos para esse trabalho.

Queria que seu programa fosse interessante, animado, divertido e empolgante para os espectadores, mas procurava ser didático e ensinar um pouco de ciência e ambientalismo através da televisão e do horário a ele destinado. Partia do princípio que os animais fascinam todas as pessoas e que devemos aproveitar essa grande curiosidade e interesse para despertar nas pessoas a necessidade de proteger todas as espécies, especialmente aquelas que estão mais desprotegidas ou ameaçadas.

O título de seu programa, “o caçador de crocodilos”, é uma referência a sua origem australiana e sua vida em fazendas. Seu pai foi o grande exemplo de sua vida. O patrono dos Irwins lidava com espécies locais de grande periculosidade tanto em sua propriedade quanto em outras localidades, para as quais era convocado em situações emergenciais. Steve cresceu vendo tudo o que o pai fazia e logo também estava envolvido com esse trabalho.

Resolveu ir, além disso, e decidiu dedicar sua existência aos animais selvagens, temidos e incompreendidos pela grande maioria da população australiana e mundial. A televisão lhe deu a oportunidade de ir além das fronteiras locais e se tornar uma celebridade mundial. Nem por isso perdeu seu jeito simpático de interiorano da Austrália.

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Steve Irwin em família. O ambientalista criava seus filhos entre os animais e esperava que

no futuro eles se tornassem seus sucessores em seus projetos de proteção dos animais.

Era atencioso com todas as pessoas. Dedicava-se especialmente às crianças. Parecia entender que a mudança viria principalmente a partir da conscientização das novas gerações. Em vida criou um zoológico em seu país de origem, no qual cuidava pessoalmente dos animais (sempre tendo ao lado sua esposa Terri, também devotada ambientalista). Não havia incorporado à arrogância e a pretensão das pessoas que atingem a fama e o estrelato...

Na medida em que conseguiu acumular recursos financeiros investiu na compra de terras e criou nas mesmas uma grande reserva ambiental, para a qual levava animais desalojados de florestas, ameaçados de extinção, atropelados ou que corressem risco de morte. Dedicava-se ao reflorestamento das áreas dessa propriedade e ao estabelecimento de locais onde os animais pudessem viver em paz.

Irwin revelou-se também dedicado pai de família. Possuía uma ligação muito forte com os pais e descrevia a morte da mãe como o momento mais triste de sua existência (a senhora Irwin faleceu num acidente de automóvel no ano 2000). O nascimento de seus dois filhos, um casal, permitia a ele sonhar com uma possível aposentadoria, quando passaria o bastão de seus projetos para sua filhinha Bindi e o pequeno Bob.

Bob, por sinal, já havia sido apresentado aos animais selvagens numa polêmica apresentação de Irwin em seu zoológico na Austrália. Nessa ocasião o menino entrou no cercado dos crocodilos carregado por seu pai, que estava alimentando as feras diante de um grande público presente nas arquibancadas. Para Steve era apenas mais uma apresentação, como as inúmeras que já havia realizado naquele mesmo local. A presença de seu filho, ainda um bebê, era um “batismo de fogo”. Acreditava o ambientalista que para perder o medo e encarar com naturalidade esses encontros, os contatos deveriam se iniciar o mais cedo possível.

Apesar de todos os cuidados que havia tomado e, evidentemente, sendo pai daquele bebê, Steve Irwin foi duramente criticado pelos meios de comunicação. Foi o episódio mais desolador de sua vitoriosa carreira. Nem mesmo suas explicações em programas de televisão, sempre ladeado por sua esposa e tendo os filhos a tiracolo, conseguiram diminuir o impacto das críticas que recebera.

Foi, no entanto, apenas um lapso em sua tão criativa, empolgante e vivaz existência. Irwin deixará saudades e o episódio será esquecido. Sua obra em vida foi importante e está sendo saudada tanto na Austrália quanto em outros países. Sua morte chocou seus fãs e fez com que vídeos e mais vídeos de seu programa (ou de entrevistas dadas por ele) fossem colocados no YouTube (www.youtube.com). O governo australiano dedicou honras de chefe de estado ao ambientalista em seu enterro. O mundo perdeu não um “caçador de crocodilos”, mas um idealista e realizador que empenhou sua vida na luta pela proteção dos animais....

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