Diário de Classe
Simulando uma Redação de Jornal
Transforme seus alunos em repórteres
Os jornais nos colocam todos os dias em contato com a realidade de nosso país e do mundo. Discutem temas relevantes do cotidiano nas mais diversas áreas de atuação humana. Trazem a tona os debates políticos, as novidades da economia, o que há de mais recente na área cultural, as descobertas da ciência ou ainda os fatos do esporte. Há os jornais da televisão, do rádio, e também os de papel. Mais recentemente temos os noticiários da internet que nos informam minuto a minuto o que está acontecendo em nossa nave-mãe, o planeta Terra (e até mesmo fora dele).
Mas, como são feitos os jornais? De que forma são rastreadas as notícias? Quem as escreve? De onde vem as imagens que nos revelam os fatos? O que pode e o que não pode ser notícia? Quem decide o que vai e o que não vai ser colocado nos noticiários? Enfim, como funciona a redação de um jornal?
Esse seria o ponto de partida fundamental para que pudéssemos levar adiante um projeto na escola de simulação de uma redação de jornal. Projeto esse que deveria servir de base para o estabelecimento de um jornal escolar de publicação periódica (semanal, quinzenal ou mensal), através do qual se discutissem os temas da escola, da comunidade, da cidade e até do Brasil e do mundo em que vivemos.
O ideal nesse início seria que a escola e os professores envolvidos articulassem a visita dos alunos a um jornal de sua cidade ou região para que os procedimentos regulares de trabalho e produção desse importante veículo de informações fossem conhecidos pelos estudantes. Nesse sentido seria válido visitar jornais diários publicados em papel, rádios, estações de televisão para conversar com os jornalistas que ali trabalham ou até mesmo sites de internet especializados em notícias.
Vários profissionais trabalham na redação de um jornal e a concatenação de seus
esforços é que torna possível ao grande público o acesso as notícias do dia.
Caso uma dessas alternativas não seja possível, há ainda a chance de marcar uma entrevista ou um bate-papo na própria escola com algum profissional da área que possa dar esses esclarecimentos ou ainda tentar conversar com veículos de informação como esses através da própria rede mundial de computadores.
O que faz o repórter para obter suas notícias? Aonde vai? Com que fala? De que forma armazena as informações obtidas? Quando redige seus textos? Que preocupações deve ter ao redigir seus artigos? Quem obtém as imagens para as matérias? Para quem são enviados os artigos depois de escritos? Todos os textos produzidos são aproveitados? Há o aproveitamento integral de tudo o que foi escrito num texto? São necessárias revisões desses textos?
E na redação do jornal, como é trabalhada a informação obtida? As fotos que acompanham as matérias, como são selecionadas? Quais os critérios que definem que uma imagem deva ou não ser aproveitada no noticiário? Quem é o editor? Qual o seu papel numa publicação diária ou periódica? Como separar o joio do trigo entre tantas notícias diárias? Há reuniões para definir as prioridades? Há algum manual de ética para a profissão? As empresas do ramo possuem diretrizes claras quanto a sua linha editorial?
Tendo uma noção clara do funcionamento de um jornal pode-se passar para uma etapa prática. Nesse segundo momento do projeto os estudantes, devidamente orientados pelos professores, estabelecem alguns tópicos que serão trabalhados em sua redação de jornal. Nessa experiência inicial seria importante que esse trabalho fosse orientado na direção de temas relacionados aos tópicos das disciplinas ou a questões nacionais ou internacionais de grande repercussão.
Por exemplo: Se os alunos estão trabalhando a abolição da escravatura, os professores podem direcionar a redação do jornal para coletar informações históricas, literárias, geográficas, sociais e culturais relacionadas a questão. Se o país estiver envolvido num momento eleitoral, a temática pode ser o voto consciente, as dificuldades relativas ao pleito, a falta de informação dos eleitores,...
O repórter tem que ir a luta atrás das informações que irão compor seu noticiário. Para isso
precisa contatar fontes, elaborar questionários, pesquisar seu tema, trabalhar em equipe,...
No âmbito internacional, acontecimentos como guerras, revoluções, festivais culturais, grandes eventos esportivos ou a morte de alguma personalidade da política, economia ou arte pode servir de inspiração para essa primeira versão do jornal. Os acontecimentos no Oriente Médio, a ascensão da economia de países como a Índia ou a China, a Copa do Mundo ou as Olimpíadas ou festivais como o de Cannes e Veneza podem ser os temas de trabalhos dos alunos.
O importante é definir rumos. Num começo de trabalho os novos recrutas precisam de orientações claras e objetivos bem definidos. Nesse sentido faz-se necessário o pulso forte do comandante da embarcação, no caso os docentes envolvidos no projeto.
Tendo escolhido o tema e cientes do esquema de trabalho de uma redação de jornal, definam atribuições e escolham equipes que irão compor as diferentes partes do seu jornal. Procure seguir as bases operacionais de jornais regulares para facilitar seu trabalho. Nesse sentido as suas brigadas estarão sendo direcionadas para segmentos como política, economia, sociedade, cultura, ciência, educação, esportes e lazer.
Defina as equipes e estipule funções básicas para cada uma delas. Quem será o editor, os repórteres, os fotógrafos e os revisores de texto. As equipes devem sempre ter em mente que as decisões tomadas quanto as matérias publicadas são de responsabilidade inicial dessa pequena brigada. Posteriormente elas serão discutidas com o restante da redação e com o editor-chefe, no caso um dos professores ou todos eles ao mesmo tempo.
Para evitar qualquer dificuldade quanto aos temas direcionados a cada grupo formado procure fazer um sorteio para definir quem fica com cultura, esportes, política,... Inicialmente todos têm uma tendência a procurar esportes, lazer ou cultura e dificilmente se manifestam em favor de política, economia ou ciências...
A redação final do texto é a etapa mais importante do trabalho do jornalista. O artigo
tem que ter coerência, lógica, bom vocabulário e evitar repetições de idéias.
O próximo passo é correr atrás das informações. Elas estão em livros, na internet, em outras publicações (como jornais ou revistas) e nas pessoas especializadas ou envolvidas nos acontecimentos. Nesse sentido é preciso buscar as fontes indo à bibliotecas, lendo jornais, vasculhando as revistas de informação, pesquisando em sites de busca ou especializados e agendando entrevistas com as pessoas de interesse.
Se o tema são as doenças respiratórias e sua maior incidência numa época especifica do ano, temos que correr atrás de médicos e geógrafos que nos falem por que isso acontece, qual a relação do clima com as doenças, como é o clima nessas épocas do ano, onde o problema é maior ou menor em nosso país,...
Antes de sairmos a cata dessas informações todas temos que preparar nossa busca definindo quais são as dúvidas e questões que temos. Nesse sentido devemos formular conjuntos de questões coerentes e definidoras de nossas maiores dúvidas, evitando a repetição, erros de português ou falta de coerência e lógica na formulação dessas perguntas.
Os estudantes têm que ser orientados a sair com gravadores, câmeras de vídeo (se o jornal for no formato televisivo), papel e lápis (ou caneta) na mão para anotar as informações obtidas junto aos entrevistados agendados. A equipe de reportagem tem que ser acompanhada por um fotógrafo que irá fazer as imagens que ilustrarão a reportagem. Todas as visitas a locais que serão alvo das matérias ou a pessoas têm que ser agendadas para evitar contratempos.
Na medida em que as informações forem obtidas e trazidas para a “redação”, os dados obtidos através das diferentes fontes devem ser emparelhados para que possam ser selecionados e utilizados na composição dos textos dos repórteres. O material em questão é oriundo das entrevistas, fotos, pesquisas de campo, levantamentos em jornais e revistas, buscas na internet ou em livros. A composição dos textos é uma etapa delicada desse trabalho e exige atenção e muito empenho por parte do “jornalista” e de sua equipe.
Com as matérias redigidas o texto deve então ser repassado ao editor, que já acompanhou todo o processo de obtenção e produção dos textos. Nesse momento é feita uma revisão que irá definir o que irá ou não ser publicado no jornal. O editor desse trabalho deve sentar-se com sua equipe de trabalho e definir em conjunto o que será publicado e os motivos da seleção ou exclusão de certos itens ou segmentos dos textos.
Ao final da produção de todas as equipes (em prazo previamente estipulado pelos editores-chefes, ou seja, os professores), reúnem-se todos os componentes do jornal para definir a formatação final do diário a ser publicado. Estipulam-se as atribuições de editoração, a quantidade de cópias, quando será disponibilizado para o mercado (no caso, dentro da própria escola, na comunidade, entre os pais,...).
Finalizado o projeto, abrem-se as perspectivas para que a prática se torne regular dentro do contexto escolar. Espera-se que, ao final de todo esse trabalho, surjam jornais, rádios, blogs, sites ou mesmo noticiários gravados em VHS, Cds ou DVDs que sejam regularmente distribuídos ou apresentados para a escola ou para a comunidade. E, quem sabe, também surjam vocações nas áreas de comunicação...