Planeta Educação

Aprender com as Diferenças

 

Cordel: Façanhas de um Cego
Benedito Generoso da Costa

06/05/2003

Quem é filho da Bahia
Já traz a verve na mente,
Foi assim com Rui Barbosa,
Castro Alves e mais gente;
Porque o bom Deus o quis,
Lá também nasceu Luís,
Um cego inteligente.

Cegueira não é defeito
E pode até ser um dom,
Não é nada se é do corpo
Que tem o espírito bom,
Mas cegueira espiritual,
Essa sim é grande mal,
Não vê cinza nem marrom.

Ruim quem se torna mudo
Quando é preciso falar,
Ou faz de conta que é surdo
Por não querer escutar,
Pior é o cego sem ser
Porque se recusa a ver
O que se deve enxergar.

Quanto ao Luís, o que eu sei
É o pouco que ouvi falar
Desse simpático cego,
Porém posso imaginar
Que ele vê com a alma
O balançar de uma palma
E até as ondas do mar.

Embora digam que ele
Tem uns trejeitos marotos
E cavalga sobre os trouxas
Como se montasse potros,
Não creio e sei que o Luís
É um cidadão feliz,
Talvez mais do que nós outros.

Esse cego enxerga muito,
Já ouvi alguém dizer,
Do que ele é capaz
Nós ainda vamos ver,
Com sua mente acurada
Vem como quem não quer nada
E a todos vai surpreender.

Um sujeito que encontrei,
Recém vindo da Bahia,
Contou-me e até jurou
Por Santa Virgem Maria
Que o Luís é cego no duro,
Mas caça até rãs no escuro
Como fosse à luz do dia.

Disse-me ainda esse cabra
O que agora revelo:
Certa vez viu o Luís
Treinando para um duelo,
De costas ele atirava
E o alvo sempre acertava,
Pois é rei do parabélum.

Depois pegou a viola
E enfrentou um repentista,
Cantando de improviso
Provou ser mesmo um artista,
Tal como aqui na Usina
Demonstrou que sua sina
É ser mestre cordelista.

Falam que é namorador,
Mas isso é problema dele,
Eu só quero enaltecer
Tudo o que há de bom nele,
Que o Domingos e o Airam,
Dos quais eu também sou fã,
Levem meu abraço a ele.

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