De Olho na História
Lutando contra a Miséria
Bangladesh e Etiópia: Entre os países mais pobres do mundo
A ONU (Organização das Nações Unidas) criou um programa através do qual se dedica a estudar, analisar, compreender e projetar alternativas para as quarenta nações mais pobres do mundo. Esse projeto pode ser apreciado e compreendido em sua essência e propósitos a partir do acesso ao portal da UNCTAD (United Nations Conference on Trade and Development), disponível no link http://www.unctad.org.
Através do estudo das condições de vida nesses países miseráveis, em que a renda per capita diária é de apenas 1 ou 2 dólares, surgiram relatórios que nos colocam em contato com a duríssima realidade de vida desses povos. Além disso, programas de apoio e superação da pobreza tem sido implementados nas regiões em questão e, após a aplicação dos primeiros projetos, já se tornou possível avaliar os impactos dessas transformações e averiguar em que pontos e condições já ocorreram melhorias.
O projeto da ONU, conhecido como Programa de Ação para as Nações menos desenvolvidas, está em processo desde 2001 e tem realização prevista até 2010. Para entendermos melhor tanto o projeto quanto a pobreza e a carestia das populações desses países fizemos aqui um resumo das condições de vida e alterações alcançadas a partir da implementação do plano da ONU em dois países de diferentes regiões do planeta, a Etiópia (na África) e Bangladesh (na Ásia).
O país africano, por exemplo, já conseguiu melhorar de forma expressiva alguns de seus indicadores sócio-econômicos, mas ainda tem o alarmante índice de 94,7% de sua população vivendo em condição de pobreza. Seu povo tem que sobreviver com uma renda diária de apenas 2 dólares (equivalente a menos de 5 reais).
A partir de uma política fiscal que tem procurado aumentar a parca arrecadação governamental, recursos crescentes têm sido destinados às áreas de maior importância social, como a educação e a saúde, ou a setores vitais da economia, que no caso da Etiópia resume-se a agricultura.
O acesso à água potável e a escola são necessidades básicas que precisam
concretizar-se na Etiópia para uma quantidade cada vez maior de pessoas
para que o país possa superar seus altos índices de pobreza.
Na educação os resultados demonstram um crescimento de 26% nas verbas aplicadas pelo governo. Isso elevou o percentual de crianças e adolescentes que freqüentam as escolas de 61 para 68%. Dado também relevante e importante dentro do contexto africano foi a ampliação de oportunidades educacionais para as meninas. Antes do projeto ser colocado em execução apenas 4 meninas em cada 10 freqüentavam escolas na Etiópia enquanto os números mais recentes indicam que atualmente 60% das garotas conseguem chegar aos bancos escolares locais.
Na saúde, as campanhas de vacinação para a imunização contra doenças contagiosas atingiam apenas 27% da população. Essa taxa elevou-se para 60%. O atendimento da rede de saúde pública cresceu pouco, passando a atender 64% da população contra um índice anterior de 61%. O alto patamar de pobreza do país atenta contra a saúde local, pois a desnutrição e a subnutrição, a baixa renda, o desemprego e o analfabetismo tornaram-se adversidades que impendem os etíopes de superar suas doenças, saturando os gastos públicos no setor, lotando os postos de atendimento e hospitais e levando a continuidade de um perigoso e inescapável círculo vicioso no qual o país está envolvido...
A infra-estrutura de apoio necessária para a criação de melhores condições de vida é extremamente deficiente no país. Apenas 17% da população têm acesso à eletricidade e o índice relativo à água potável é de somente 36%, mesmo levando-se em conta os progressos obtidos com o auxílio da ONU. A expectativa da ONU é de que até 2010 a água limpa esteja ao alcance de pelo menos 70% da população etíope.
A economia do país depende em larga escala da agricultura (que emprega aproximadamente 80% da mão de obra economicamente ativa do país e responde por 43% do PIB). O deficiente setor industrial (responde por 15% do PIB) daquela nação estagnou-se diante da falta de novos investimentos e encontra-se muito atrasado em relação aos outros países do mundo, até mesmo quando comparado a concorrentes africanos.
Dependente da agricultura, e em especial da produção de café, e contando
com uma infra-estrutura de apoio (transportes e comunicação) bastante
deficiente a produção econômica da Etiópia não consegue acompanhar o
crescimento populacional e as necessidades de seu povo.
As estradas do país são poucas e insuficientes para atender o necessário crescimento econômico esperado pelo governo e pelo povo. Além de reduzidas em número, essas rotas precisam de reparos e manutenção, pois se encontram deterioradas. A taxa de crescimento econômico do país atingiu os índices previstos pela ONU, chegando a 6,8% em média até o ano de 2005 (superando, por exemplo, os parcos índices brasileiros).
Ainda assim há uma grande dependência da agricultura, especialmente da produção de café (maior produto de exportação nacional). O país carece de maiores investimentos por parte de outras nações, não possui mão de obra especializada para o trabalho industrial, seus ganhos estão vinculados a produtos agrícolas, o país sofre com acidentes naturais freqüentes e, ainda há problemas no campo político (como a corrupção e a instabilidade da democracia local, abalada por denúncias de fraudes nos pleitos mais recentes). O resultado disso é que o saldo da balança comercial etíope continua no vermelho com débitos de aproximadamente 2 bilhões e 800 mil dólares.
Bangladesh por sua vez, apesar de ainda figurar entre os países mais pobres do mundo, tem sido mais eficiente na luta contra a miséria que abate sua população. Mesmo assim mais de 63 milhões de pessoas no país vivem abaixo da linha de pobreza. Há um evidente desnível entre a zona urbana e a rural no país, sendo que o campo abriga a maior parte dessa população miserável.
As cidades têm sido também muito mais bem sucedidas em melhorar as condições de vida do povo de Bangladesh. Desde a implementação do projeto da ONU aproximadamente 1% da população urbana do país tem superado anualmente a condição de pobreza e atingido melhores condições de vida (quando a aplicação dos planos das Nações Unidas começou no país, em 2001, 25% da população urbana vivia em condições de pobreza e/ou miséria; esse índice é de 18% atualmente). Os resultados obtidos nas cidades de Bangladesh não se repetem na zona rural, onde ainda prevalece a pobreza extremada.
Há um grande desnível entre a condição sócio-econômica da zona urbana e da
zona rural em Bangladesh. As cidades estão em pleno processo de superação da
pobreza, enquanto o campo está estagnado e concentra elevados índices de miséria.
Fator importante para o combate a pobreza foi a redução dos índices de crescimento da população. Até o ano 2000 a taxa de crescimento era de 1,7% ao ano enquanto os dados mais recentes revelam que houve um decréscimo para 1,3%. Investimentos governamentais em saúde e educação também foram vitais para que o combate a pobreza no país fosse mais efetivo.
As escolas do país hoje têm espaço tanto para os meninos quanto para as meninas, não havendo mais a diferenciação que excluía as garotas de participar e usufruir dos benefícios da educação. O país possuía em 1990 um índice de 77% de crianças matriculadas freqüentando suas escolas. Esse percentual subiu para patamares próximos daquilo que se espera a nível mundial, atingindo a expressiva participação de 96% de crianças em salas de aula do país.
A mortalidade infantil, um dos principais índices para que possamos entender as condições de saúde do país, sofreu sensível redução. Enquanto no final da década de 1990 morriam 66 em cada 1000 crianças nascidas, atualmente as perdas humanas são de 45 para 1000. Ainda é elevado esse percentual, pois se o compararmos aos países em desenvolvimento como o Brasil (17 mortes para cada 1000 nascimentos) ou ricos, como o Japão (3 mortes para cada 1000 nascimentos), perceberemos o abismo que separa esses países pobres das expectativas que existem para uma boa ou ótima qualidade de vida.
Além dos investimentos sociais, o governo local, com o apoio da ONU, tem conseguido novos investidores que permitiram ao país receber o dobro de recursos diretos investidos no país em apenas 4 anos (Em 2000, Bangladesh recebia aproximadamente 383 milhões de dólares enquanto em 2004 esse valor subiu para 652 milhões).
A infra-estrutura em transportes e comunicações também tem recebido subsídios da iniciativa governamental e estrangeira, permitindo-se dessa forma uma ligação mais rápida e integrada entre os setores produtivos do país. A indústria está crescendo e espera-se que brevemente suplantará a agricultura como principal setor da economia local (o segmento industrial atualmente equivale a 20% do PIB do país).
Investimentos em educação e crescimento da indústria com o apoio
de empresas e financiadores internacionais têm permitido a
superação dos altos índices de pobreza em Bangladesh.
A taxa de crescimento anual do país é de 5% em média nos últimos anos. Apesar disso o endividamento externo continua alto e o país precisa se esforçar para superar o desnível sócio-econômico entre o campo e a cidade.
O que podemos perceber através desses dois exemplos é que são necessários esforços internacionais para auxiliar os países em sua luta contra a pobreza. Organizações como a ONU têm que contar com o suporte dos países ricos e das principais empresas existentes no planeta para que os investimentos iniciais, necessários para a superação dos males mais imediatos associados a pobreza, como o analfabetismo, a falta de estrutura para a vida das populações desses países (água tratada, saneamento básico, estradas, comunicações, habitação), a superação de epidemias e os tratamentos essenciais na saúde, o surgimento de empresas e a criação de empregos realmente se efetivem.