Cinema na Educação
A Lista de Schindler
Renascendo das cinzas
Seria difícil não prever as merecidas premiações (entre as quais os Oscars) dados a esse filme de Steven Spielberg. Qualidades não faltaram nesse filme excepcional, desde um roteiro extremamente bem costurado, atores e atrizes pouco conhecidos do grande público até aquele momento, que primam por atuações impecáveis e que, a partir de então, passaram a ter grande destaque (inclusive em outros filmes importantes), a belíssima fotografia em preto e branco (que, de acordo com o diretor Spielberg era fundamental por retratar fidedignamente um período que estamos habituados a visualizar sem as cores, além do que, eu completaria dizendo que a crueza das situações apresentadas nos choca enormemente da forma como foram disponibilizadas, o filme perderia impacto se as sequências fossem coloridas!), a seriedade e o respeito com que foi tratado um tema delicado e ao mesmo tempo espinhoso, a reprodução esmerada de época, a mão segura do diretor na condução da trama e a qualidade dos efeitos visuais e sonoros.
A ação começa num fino restaurante alemão, onde podemos ver vários oficiais nazistas acompanhados por belas mulheres que, obviamente, não são suas esposas, ao fundo podemos ver um show, onde lindas coristas dançam com grande alegria, os garçons passam para lá e para cá carregando garrafas de vinho e comidas finas; Oskar Schindler (interpretado pelo expressivo Liam Neeson) chega então a esse local, já tendo pré-definido todo o itinerário pelo qual deve passar e as pessoas com as quais deve entrar em contato. Veste um terno elegante, junta-se a oficiais e passa a financiar um constante ir e vir de boas bebidas; a princípio ninguém o conhecia, ao final do período todos o tratam com cortesia e intimidade, inclusive uma das principais figuras do alto escalão dos exércitos de Hitler. Sua primeira vitória havia sido conquistada.
Obtidos contatos que poderiam garantir sua sede de lucros e prosperidade numa época em que existem muitas possibilidades para isso, abertas inclusive pela perseguição ostensiva aos judeus, Schindler inicia negociações para operar uma fábrica de panelas para abastecer o exército alemão durante a guerra vindoura. Entre o que pretende obter (e consegue!) estão as instalações e a mão de obra gratuitas, que seriam, a princípio resquícios provenientes da expropriação e humilhação pela qual passou a comunidade judaica alemã; além disso, Schindler acerta diretamente com investidores judeus a concessão de empréstimos para realizar os investimentos necessários para a efetivação de seus empreendimentos (tudo isso ocorrendo extra-oficialmente e, para os judeus, constituindo-se num investimento de alto risco e pequenas ou nulas possibilidades de lucratividade ou mesmo de reaver seu capital).
Nesse ínterim, os alemães impõem aos judeus todo o tipo de privação, desde a imposição da estrela de Davi sendo utilizada como um símbolo da sua exclusão social, passando pela perda de suas propriedades e empresas, estabelecendo-se como perseguição frontal e ofensiva com o estabelecimento dos guetos e consolidando-se, enquanto política oficial discriminatória com a construção dos campos de concentração para onde são enviados os sobreviventes das violências anteriormente citadas.
Os campos de concentração trazem em sua raiz a idéia de segregação e a semente que dá origem a "solução final", quando se transformam (algumas dessas localidades) em campos de extermínio (com a introdução de câmaras de gás e fornos crematórios). Num dos guetos surge outro importante personagem, o administrador das empresas de Schindler, o sério e competente Stern (protagonizado pelo oscarizado Ben Kingsley, que já havia brilhado como Gandhi, em filme de sir Richard Attemborough) que serve de fio condutor da história da comunidade judaica com a qual Oskar Schindler irá se relacionar. Ele é o primeiro a ser salvo do extermínio nos campos nazistas.
Com o passar do tempo, a atitude do personagem central modifica-se, sua voracidade em busca de rendimentos modifica-se em função de uma causa nobre, relacionada a salvação dos trabalhadores de sua empresa de panelas (que passam a fazer parte de uma lista, a qual se refere o título do filme), todos eles judeus, o grupo completo trabalhando como escravos, em troca da garantia de vida no dia seguinte (enquanto possuem valor como mão de obra a ser utilizada na indústria, preserva-se a vida dessas pessoas, se ficassem fracas ou doentes, eram descartados e exterminadas). Não há explicações quanto ao motivo que levou Schindler a gastar tudo o que ganhou para tentar salvar essas pessoas, o que interessa é que ele dedicou-se a isso, que ele superou as dificuldades e os empecilhos de um sistema repressor sustentado em seus pilares pelo ódio aos judeus e que sua história de vida é verdadeira.
Há no filme passagens que nos tocam profundamente, podemos ver a separação das famílias, o descaso com a vida dos prisioneiros pelos soldados e oficiais alemães, cenas de extermínio onde mulheres, crianças, doentes e idosos (vítimas preferenciais já que não podem produzir com o mesmo vigor e capacidade que os homens adultos) são assassinados a sangue frio enquanto, num paralelo, confrontando-se com a penúria e as dificuldades dos prisioneiros, os nazistas participam de festas, promovem suas invasões, apropriam-se de imóveis, lucram com o trabalho escravo ou, o que pode ser considerado ainda mais grave, pouco parecem se importar com o resultado de ações tão grotescas, tão hediondas, tão desumanas. A insensibilidade e a insanidade coletivas dos adeptos de Hitler parecem caminhar lado a lado, os resultados todos hoje conhecemos.
Além de um excelente trabalho sobre essa importante particularidade da 2ª Guerra, "A Lista de Schindler" nos permite discutir a barbárie cometida nos campos de concentração e extermínio (além de outras atrocidades), nos possibilita pensar nos motivos que levam um país ou um grupo deles a provocar uma guerra tendo-se em vista os resultados possíveis em termos de destruição e perdas humanas, nos encaminha para uma reflexão acerca da solidariedade e da paz e nos faz procurar as razões da perda da sensibilidade humana.
Confrontar-se com imagens fortes como aquelas do filme tem que, necessariamente, provocar atitudes e estimular ações que resultem no repúdio a situações como as descritas por Spielberg, essa nobre causa instala-se como proposta do filme e procura nos mobilizar em nossas aulas pelo diálogo, pela compreensão e pela cooperação entre os povos. Obrigatório assisti-lo!
Ficha Técnica
A Lista de Schindler
(Schindlers List)
País/Ano de produção:
EUA, 1993
Duração/Gênero: 195 min.,
drama
Distribuição: CIC Vídeo
Direção de Steven Spielberg
Elenco: Liam Neeson, Ben Kingsley, Ralph
Fiennes.
Links
http://www.adorocinema.com/filmes/lista-de-schindler/lista-de-schindler.asp
http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=1616
http://us.imdb.com/Title?0108052 (em inglês)