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Cinema na Educação

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Ligações Perigosas
A sedutora França dos nobres

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Chordelos de Laclois teve um ano pródigo em 1988, seu romance mais conhecido "Relações Perigosas" foi filmado por dois dos mais conceituados cineastas do mundo atual, o inglês Stephens Frears e o tcheco naturalizado norte-americano Milos Forman. Justiça seja feita, a obra de Laclois é um deleite para quem toma contato com a mesma, trata-se de uma verdadeira obra-prima. Transposta para as telas pelas mãos hábeis e competentes de diretores do porte de Frears e Forman teria que resultar em grandes filmes.

O filme de Frears foi tão bem recebido pelo público e pela crítica que recebeu três prêmios da Academia (o Oscar) no que há de mais importante num filme de época, Figurino e Direção de Arte, além do reconhecimento da grandeza da história com o prêmio pelo melhor roteiro adaptado, obra do consagrado roteirista Christopher Hampton. Além disso, havia sido indicado a 4 outras estatuetas, inclusive a de melhor filme do ano (Michelle Pfeiffer foi indicada a melhor coadjuvante feminina, Glenn Close a melhor atriz e o filme ainda recebeu uma menção técnica com a indicação a melhor Trilha Sonora). É importante ressaltar que os prêmios foram merecidos e que, nessa ocasião a academia pecou apenas pela não indicação de John Malkovich pelo papel de Visconde de Valmont.

O cenário da trama é a França do século XVIII, às vésperas da Revolução, e os nobres parecem totalmente desavisados do que estava por acontecer. Tudo acontece nos domínios dessa gente ociosa, que em virtude de todo o tempo livre de que dispõe, usam seus dias em atividades como ler, passear pelos jardins, ir a missa, assistir espetáculos teatrais e óperas, jogar cartas, tricotar ou maldizer a vida alheia. Entre todas essas ocupações interessantes e desprovidas de qualquer sentido produtivo ou coletivo, o que se destaca com maior ênfase são os jogos de sedução.

A todo momento se percebem situações em que o que está em jogo é a conquista de belas damas ou de rapazes incautos e ingênuos. Desprovidos de qualquer barreira ou obrigação ética e moral, os nobres "atacavam" de forma inclemente qualquer vítima potencial utilizando-se de sutilezas, de uma linguagem rebuscada, de técnicas sofisticadas de aproximação e, principalmente, de medidas baixas, cheias de segundas intenções que os levassem ao triunfo nas situações de conquista em que estavam envolvidos.

O mencionado Visconde de Valmont (John Malkovich) e a Marquesa de Merteuil são, nessa história, os verdadeiros mestres na arte de vencer esse jogo intrincado. Eles se propõem a conquistas aparentemente inviáveis diante das circunstâncias apresentadas, mas nada para eles constitui barreira intransponível. Há de se ressaltar que quanto mais difícil fosse a conquista amorosa a ser empreendida, mais estimulante ela se tornava para cada um deles. Repare inclusive que entre eles se trava uma disputa emocionante e que, vencer significava a glória total (eles tentam a todo momento conquistar um ao outro e, negacear a proximidade do oponente era muitas vezes uma jogada de mestre).

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A proposta principal do Visconde é a de vencer a resistência da Madame de Tourvel (Michelle Pfeiffer, linda e numa de suas melhores interpretações), conhecida pelo seu apreço pelos valores da moralidade católica, bem casada e aparentemente imbatível, por isso mesmo um alvo preferencial para o devasso Valmont. Entre eles trava-se uma disputa fortíssima que envolve a fé, os bons costumes, o respeito ao cônjuge e a ética (personificados na personagem de Pfeiffer) frente a frente com a imoralidade, a leviandade, a mentira e a lascividade (do visconde vivido por Malkovich).

Na outra frente de "batalha", a marquesa de Mertuil (Glenn Close, uma das maiores atrizes americanas) tenta desgraçar a moça (Uma Thurman) prometida em casamento a um de seus ex-amantes. Para isso ela conta com o auxílio do Visconde de Valmont e, com o sincero e devotado amor sentido por um professor de música (a estréia de Keanu Reeves em filmes de porte), de origem humilde, em relação a donzela.

O maior mérito do filme reside nos diálogos afiadíssimos que nos apresentam com clareza a relação dessa nobreza com o mundo que a cercava, caracterizada por um total desinteresse no tocante a tudo o que não envolvesse seus próprios interesses pessoais ou, na melhor das hipóteses, de grupo (quando chegavam a pensar que formavam um grupo, o que dificilmente acontecia). O desenvolvimento da história e suas reviravoltas encantam até o mais cético dos espectadores, fica difícil imaginar tanta criatividade nos escritores atuais! A reconstituição de época é um primor, os ambientes sofisticados dos palácios e "chateaus" franceses, os lindos jardins, as carruagens, o vestuário, os objetos apresentados em cena, os serviçais e muitos outros detalhes desse cotidiano dos nobres tornam-se um recurso fenomenal para que entendamos aquela época e seus hábitos.

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Assistir "Ligações Perigosas" é atividade das mais prazerosas e encantadoras. Trata-se de um filme inteligente e de muitas possibilidades para o ensino da história daquele período. Considero tal recurso imprescindível. Não perca!

Ficha Técnica

Ligações Perigosas
(Dangerous Liaisons)

País/Ano de produção: EUA, 1988
Duração/Gênero: 120 min., drama
Disponível:- VHS e DVD
Direção de Stephen Frears
Roteiro de Christopher Hampton
Elenco: Glenn Close, John Malkovich, Michelle Pfeiffer, Uma Thurman e Keanu Reeves

Links

- http://www.adorocinema.com/filmes/ligacoes-perigosas/ligacoes-perigosas.htm
- http://us.imdb.com/Title?0094947 (em inglês)

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Avaliação deste Artigo: 4 estrelas