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Elisete Oliveira Santos Baruel Diretora de Educação da Vitae Futurekids; Pedagoga; Especialização e Extensão na Área da Aprendizagem e Fracasso Escolar pela USP; Especialização em Gestão em Educação e Novas Modalidades de Ensino – Educartis Corporation pela FECAP – Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado; Estágio Supervisionado no Projeto Educativo “Fazer a Ponte” – Ministério da Educação de Portugal e Study Group Reggio Emilia – Itália – Preschools and Infant-Toddler Centers – Istituzione of the Municipality of Reggio Emilia – Friends of Reggio Children International Association. E-mail: elisete.baruel@fk1.com.br

Sopro no Corpo
Vive-se de Sonhos

Durante a nossa vida convivemos com pessoas muito diferentes de nós, considero isso fantástico, na diferença percebemos o que nos falta e o que temos demais.

Quando comecei a ler o livro de Marco Antonio de Queiroz, a quem nos referimos atenciosamente como MAQ, conforme o próprio autor gosta de ser chamado, senti que a história ia além de uma autobiografia, na verdade trata-se de um relato franco e bem humorado da construção do seu novo “eu”, logo após ele ter ficado cego.

Com muita desenvoltura para escrever, MAQ nos convida a compreender a luta de uma pessoa cega para conquistar um espaço digno numa sociedade que exclui o diferente e o deficiente.

Mas o que é ser deficiente? O que é ser cego? Pode acontecer comigo? Ele não imaginava que aos 21 anos ficaria cego em conseqüência da diabete, na verdade nunca se preocupou muito com o fato de ser diabético.

Jovem, classe média, praias do Rio de Janeiro, namoradas, amigos, muita música e sol. Cenário perfeito para se viver sem limites, sem pensar no dia de amanhã, apenas viver intensamente. Quando acordou cego, imaginou que aquilo não podia estar acontecendo com ele. Viajou para Europa, buscou especialistas renomados, foi em busca da visão.

Esperança, sofrimento da família, apoio dos amigos, sentimentos confusos que o levaram a caminhar sem saber aonde iria chegar.
A cura não veio, o estado sentimental da cegueira se instalou e ele tinha duas opções: lamentar e sentir pena de si mesmo ou lutar para ser um cego realizado, construindo um novo MAQ, diferente, deficiente, mas muito feliz.

Transcrevo alguns fragmentos do livro que retratam bem a sua coragem e força:

“Eu me encontrava, na verdade, redescobrindo o mundo, tocando, cheirando e aprendendo a ouvir tudo”.
“O problema é que na palavra cego estão embutidos muitos valores depreciativos, como dependência, tutela, alienação, ignorância, etc. Se chego para alguém que não é cego e o chamo de cego, a pessoa se sente agredida, mas se alguém me chama de cego não me sinto da mesma forma. Por quê? Será só pelo fato de eu ser cego mesmo? Não, é porque o significado, o conteúdo da palavra, para mim, é bem diferente do que é para as pessoas em geral. Muita gente tenta me consolar e diz: Cego é aquele que não quer ver. Eu diria que essa pessoa não é um cego, mas um idiota. Para elas deve haver dois tipos de cego: o cego simplesmente cego e o cego simplesmente idiota que, usualmente, tem visão. Brabo mesmo deve ser o cego que é cego e que também é idiota. Seria no conceito dessas pessoas, no mínimo, duas vezes cego...”.

Palavras verdadeiras, duras, sinceras de quem sentiu de fato as dificuldades de se adaptar a uma nova situação. Desenvolveu a capacidade de “aprender a aprender” tudo o que já havia aprendido como vidente: ler, escrever, andar, nadar, amar com os olhos do coração.

Sofreu mais com as desigualdades do que com a deficiência. Conheceu novos amigos, compartilhou suas angústias com outros cegos, consolou e foi consolado. Apaixonou-se, casou e teve um filho. MAQ é diferente? É deficiente? Acredito que sim e não. Somos únicos, seres ímpares, em construção.

Com a leitura do livro fica uma proposta, que na verdade é um grande desafio. Vamos tentar nos fazer mais humanos? Como? Sentindo as reações que despertamos nas pessoas, porque observando quem está ao nosso lado nos vemos também. Tendo atitudes de acolhimento com o outro que nos solicita, independente do tempo, do local e do momento.

Sabendo ouvir e falar com o deficiente auditivo, conseguindo nos comunicar com o cego, oferecendo as mãos para aqueles que possuem dificuldades motoras e de locomoção, e acreditando que todos são valiosos, embora diferentes.

Recomendo a leitura do livro caso você queira se emocionar, chorar e sorrir!
A generosidade do autor socializando suas vitórias e derrotas podem nos motivar a quem sabe, um dia, escrever a nossa história.

Ficha Técnica do Livro

Sopro no Corpo: Vive-se de sonhos

Autor – Marco Antonio de Queiroz
Gênero - Autobiográfico
1ª Edição 1985 - Editora Rocco
Edição Atualizada 2005 - Editora Rima Especial
Imagens – Site www.bengalalegal.com

Avaliação deste Artigo: 5 estrelas