Planeta Literatura
Filmes para ver e aprender
Novas lições da Sétima Arte
Aprendemos sempre. Mesmo quando não estamos numa sala de aula. Até quando aparentemente não temos esse objetivo. A aprendizagem constitui uma realização fantástica que nos lega a possibilidade de entender melhor o mundo onde vivemos e interferir no mesmo. Quando novos conhecimentos passam a fazer parte de nosso cabedal de informações é notório que crescemos, que melhoramos, que evoluímos...
Quando podemos aprender de forma lúdica, aliando o prazer a aprendizagem o processo torna-se ainda muito melhor para seus protagonistas. É por esse motivo que a utilização dos novos recursos das Tecnologias de Informação e Conhecimento foram tão bem recebidos pelos estudantes. Nesse sentido torna-se imperativo que os educadores entendam, se apropriem, utilizem e cultivem com satisfação e saldos certamente muito positivos essas ferramentas da tecnologia em suas aulas.
Como já ressaltei em outros artigos, a utilização de computadores, câmeras digitais, impressoras, DVD players, televisores e tantos outros equipamentos em sala de aula não substitui a sagacidade, o planejamento, a lucidez e o talento dos professores. A eles ainda e sempre caberá o importante e decisivo papel de protagonistas do processo de ensino-aprendizagem em parceria com os estudantes.
É importante destacar, no entanto, que não há retorno na história da humanidade que nos faça abdicar dessas tecnologias em favor de uma realidade sensivelmente mais empobrecida para nossas salas de aula como as que tínhamos há algumas décadas. Não se iludam professores, todos esses equipamentos vieram para ficar e temos que inevitavelmente nos afeiçoar a eles para que possamos sobreviver no mercado de trabalho...
“O filme propicia por si só uma atração especial, é envolvente, mobiliza a atenção concentrada, envolve o espectador, mobiliza aspectos emocionais, explora a percepção, valores, julgamentos, paixão e compaixão, opiniões e até desejos”. (Trecho extraído do Prefácio do livro “Filmes para ver e aprender”).
Entre eles está, com menos destaque, reconhecimento e badalação que seus pares da informática, o DVD player acoplado aos televisores. Essa dupla é, no entanto, literalmente, do barulho. A utilização de filmes em sala de aula é um dos trabalhos que temos promovido através de nosso portal Planeta Educação e a repercussão tem sido extremamente positiva. A receptividade por parte dos educadores, estudantes e de toda a comunidade também é das mais calorosas e prova disso está no grande número de acessos a nossos textos e nos e-mails recebidos semanalmente que comentam, discutem, sugerem e aprofundam as discussões sobre os filmes na escola.
Outra sólida evidência de que estamos no caminho certo é a publicação de novos livros sobre o tema pelo mercado editorial brasileiro. Já tivemos a oportunidade de produzir resenhas em nossa coluna Planeta Literatura sobre títulos como “A História vai ao Cinema”, “A Magia do Cinema” e “Cinema e Educação”. Abrimos nesse novo artigo as portas para uma publicação recente da editora Qualitymark, coordenada pela professora Áurea Castilho, que tem o sugestivo título “Filmes para ver e aprender”.
O mais interessante no caso de todos esses livros é perceber que as propostas não se chocam e que tampouco saturam o mercado. Pelo contrário, cada nova publicação explora um novo viés e propõe-se a auxiliar os professores, estudantes e leitores em geral a melhor compreender as possibilidades do cinema e os elos que permitem uma conexão reforçada e permanente entre os filmes e a escola.
Nesse livro da editora Qualitymark, por exemplo, há uma clara preocupação por parte da organizadora do livro e de seus co-autores no sentido de dar ao leitor diretrizes claras sobre os filmes analisados. Tanto é assim que cada uma das produções cinematográficas analisadas tem seu texto iniciado com os objetivos a serem atingidos na utilização do filme no trabalho em sala de aula.
“Este filme retrata com muita sensibilidade o cotidiano de Dora, uma pessoa que perdeu o contato com o afeto, tornando-se fria e angustiada, e seu encontro com Josué, um garoto solitário, órfão de mãe e determinado a reencontrar o seu pai. Josué, por uma série de contingências, leva Dora a vivenciar mudanças profundas em sua vida. É uma oportunidade excelente para refletir sobre o sentido da vida, valores morais e ética” (Síntese do filme “Central do Brasil”, de Walter Salles Jr., contida no livro “Filmes para ver e aprender”).
Destaque-se ainda que antes mesmo do início do artigo já se apresenta com brevidade um resumo e também a ficha técnica do filme que está sendo analisado para que os educadores possam saber com precisão qual é a produção. E por que isso é imperioso? Porque existem filmes como “12 homens e uma sentença” que possuem mais de uma versão ou ainda filmes homônimos com histórias completamente diferentes (como “Dançando no Escuro” ou “Em nome de Deus”, que não são analisados nesse livro).
A análise dos filmes é pontuada e busca explorar particularidades das sequências mais importantes de cada produção. Nesse sentido os autores procuram utilizar uma prática bastante didática de destacar determinados pontos do texto e dar explicações complementares aos raciocínios ali apresentados em uma Síntese Teórica ao final dos artigos.
Ao preocuparem-se em determinar objetivos a serem atingidos, pontos a serem trabalhados e ainda outros pontos observáveis em cada filme, os autores focam seus textos e dão a eles diretrizes relacionadas as temáticas de suas especializações e trabalhos como professores. Isso não significa que estejam determinando as únicas opções de trabalho que poderiam ser realizadas com as referidas películas, pelo contrário, devemos sempre pensar que há muitas e muitas outras formas de trabalhar com tais filmes.
Costumo dizer em minhas palestras e oficinas sobre o uso dos filmes na sala de aula que não podemos ter a pretensão de assumir os nossos pontos de vista, proposições, idéias e propostas de trabalho como sendo únicas, imutáveis, estáticas ou definitivas. Penso que a cada novo artigo que escrevo para essa coluna os professores devem se sentir estimulados a criar, recriar, repensar, contestar, atualizar e corrigir minhas ponderações a ponto de, no final, terem reinventado a roda...
“Às vésperas do lançamento, a equipe da missão Apollo 13 enfrenta seu primeiro desafio: a substituição de um astronauta, por motivos médicos. Já no espaço e numa operação de rotina, acontece um acidente, o que leva a mudanças radicais dos objetivos propostos. Diante da brusca mudança no projeto, tanto as equipes de apoio em terra, quanto os astronautas interagem para atingir um novo objetivo – retornar à Terra. Face a este novo desafio e com a escassez de tempo e recursos, surgem obstáculos que são superados diante do exercício competente das lideranças” (Síntese do filme “Apollo 13 – Do desastre ao triunfo”, do diretor Ron Howard, contida no livro “Filmes para ver e aprender)
O livro da professora Áurea tem muitas qualidades que o tornam uma das boas referências no mercado editorial para o trabalho com filmes na escola, mas como frisei no parágrafo anterior, não entendam suas inteligentes proposições, reflexões e textos como formas definitivas e acabadas de uso, interpretação e análise das produções ali estudadas. Creio que não é essa a intenção dos autores. Imagino que a generosidade dos autores de compartilhar suas experiências veio agregar para os leitores novas possibilidades e leituras que reforçam os vínculos que temos que necessariamente consolidar nas escolas quanto a relação cinema-escola.
Outra característica muito interessante das análises produzidas no livro é a apresentação de uma bibliografia de apoio para o trabalho com esses filmes. Essa breve lista de livros apresentada no final dos artigos refere-se obviamente aos objetivos e temáticas propostas para a utilização do filme nos conformes do foco dado no artigo pelos autores da publicação. Não há uma temática central que seja prioritária, pelo contrário, o livro explora questões diversas e, nesse ínterim, procura disponibilizar sugestões de títulos que podem reforçar até mesmo o planejamento dos cursos dos professores dessas áreas de atuação.
Como já mencionei, abre-se espaço para que cada professor procure adequar a película aos interesses específicos de sua disciplina e que também, em consequência disso, crie sua própria lista de textos e leituras.
As sugestões metodológicas são inteligentes e pertinentes e completam o acervo de idéias com chave de ouro. Não devem engessar a curiosidade e a inventividade dos professores. O que se espera venha a acontecer é que os educadores leiam o texto de forma crítica, aproveitem as melhores idéias (adaptando-as ao seu contexto de trabalho quando for necessário) e que possam tirar lições e criar novas possibilidades de acordo com seu público e sua área de estudos e pesquisa.
Como bem destaca a professora Áurea Castilho no prefácio de seu livro, o que se espera é que o “livro venha a possibilitar a emergência de novas competências, da capacidade de reflexão e conversação, a aprendizagem da sutileza, seja pelo refinamento na capacidade de perceber, seja pelo desenvolvimento da sensibilidade”. E que dessa forma o cinema na escola se torne cada vez mais uma presença mais que obrigatória...