Planeta Educação

Cinema na Educação

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Os Intocáveis
Ninguém pode estar acima da lei...

Homens-armados

São Paulo desse início de século XXI se parece um pouco com a Chicago dos anos 1920. O Rio de Janeiro e as demais metrópoles de nosso país também padecem de males semelhantes aos daquela grande cidade norte-americana. Assolados pelos comandos criminosos, os cidadãos honestos e respeitáveis temem as ruas e se escondem em suas casas. As crianças já não brincam pelos parques e jardins das cidades assustadas com a violência que grassa impunemente.

Na Chicago do primeiro quarto de século XX a lei seca estimulara o surgimento de gangues de mafiosos que controlavam a venda ilegal de bebidas alcoólicas. Como os marginais brasileiros de hoje em dia, mandava-se num segmento de mercado ilícito que possuía demanda e que pagava altos preços pelo produto final entregue pelos violentos bandidos.

Naquela época importava-se uísque e outras bebidas destiladas para o mercado interno dos Estados Unidos a partir de países vizinhos, como o Canadá e o México, onde as restrições ao consumo de álcool não existiam. No Brasil do terceiro milênio o contrabando é de armas e drogas provenientes dos grandes centros de produção localizados na América do Sul, principalmente da Colômbia. Diferentemente daquela época, o consumo e venda dos produtos vendidos pelos bandidos hoje em dia é ilegal em praticamente todo o mundo...

Como em Chicago, temos no Rio e em São Paulo líderes criminosos que parecem imunes a ação da justiça ou que, mesmo quando capturados, continuam a literalmente “dar as cartas” de dentro das cadeias públicas, inclusive daquelas de segurança máxima. Atualmente falamos de Marcola, Fernandinho Beira-Mar e outros perigosos marginais. Naquela época tínhamos Lucky Luciano, Frank Nitti, Sam Giancana e, é claro, o mais poderoso e conhecido de todos, Al Capone.

Homem-deitado-fumando-lendo-jornal-impresso

Se há tantas semelhanças, também existem algumas diferenças fundamentais. Se a corrupção e os desmandos entre os órgãos de combate ao crime organizado duraram alguns anos nos Estados Unidos dos mafiosos e foram interrompidos a partir da ação de agentes federais que conseguiram levar esses perigosos gangsteres para a cadeia, no Brasil sofremos, pois mesmo dos presídios continuam os crimes e a violência.

A sensação de impunidade dos bandidos é amparada pela lentidão, inoperância e ineficácia do judiciário. O caos do sistema penitenciário brasileiro é atribuído a falta de investimentos, treinamento dos oficiais que ali atuam, aos salários reduzidos dos policiais e, para a pasmaceira geral, ao uso de celulares em recintos carcerários pelos presos. Não há ações efetivas por parte dos governantes e, tampouco, chamamento das responsabilidades pelos mesmos...

Diante de um quadro onde vemos uma guerra urbana, com o infeliz saldo de mortos aumentando a cada novo dia, os partidos políticos ficam se acusando mutuamente pelos erros na área de segurança pública e aumentando a sensação de insegurança e medo.

Elliot Ness, o agente federal norte-americano que liderou um pequeno esquadrão de policiais a enquadrar e prender Al Capone poderia se transformar num singelo exemplo de como, com boa vontade, disposição, trabalho em prol da coletividade e compromisso com as leis do país, devemos combater o crime organizado.

Desse fantástico embate entre o bem e o mal, tirado da vida real, o talentoso diretor Brian de Palma (considerado por muitos como o sucessor do mestre do suspense Alfred Hitchcock) trouxe para as telas dos cinemas um filme que se tornou rapidamente um novo clássico, Os Intocáveis. Se precisamos de fé, esperança e alento, torna-se ainda mais necessário assistir a essa grande obra do cinema...

O Filme

Homens-a-cavalo

Dois homens soturnos entram num estabelecimento comercial e se encaminham ao balcão. Ali chegando iniciam uma conversa em tom de voz baixo. Estão cobrando do proprietário a compra mensal de uma cota regular de bebidas alcoólicas contrabandeadas do Canadá por sua organização criminosa. Como não conseguem convencer o dono da loja a comprar seu produto o ameaçam e, enquanto tudo isso acontece, um terceiro sujeito aciona um pequeno botão e larga uma bolsa no chão do estabelecimento.

Uma menininha que tinha ido a loja para comprar leite se dá conta do “esquecimento” da bolsa e imediatamente a pega para tentar devolvê-la a seu dono. Quando a criança chega a porta daquele comércio detonam-se os explosivos contidos na mala e o estabelecimento vai pelos ares...

No instante seguinte vemos um jovem oficial, com terno bem cortado a ler o jornal com a foto do local destruído e as manchetes atribuindo o crime aos gangsteres de Chicago. Sua esposa lhe deseja boa sorte no novo trabalho e ele se apresenta aos jornalistas logo que chega ao distrito policial onde irá trabalhar. É Elliot Ness (Kevin Costner, no papel que o consagrou e o transformou num grande astro), o enviado do governo federal que tem o dever de combater e acabar com o crime organizado em Chicago.

Ness logo percebe que não é só com os criminosos que terá que se preocupar. A polícia local está corrompida e os seus planos e idéias são rapidamente repassados a Al Capone (Robert De Niro, em mais uma atuação marcante), o chefão da máfia local.

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Ciente das dificuldades que teria pela frente, Ness procura o apoio de um policial experiente, Jim Malone (Sean Connery, vencedor do Oscar por sua bela atuação). Malone reluta a princípio em aceitar as novas atribuições, mas acaba cedendo desde que certas condições sejam aceitas para que o trabalho realmente seja efetivo.

O experiente policial, descendente de irlandeses, provoca Ness e mostra a ele que contra Capone não há como andar apenas dentro dos limites da lei. Fica claro para Elliot que contra o fogo da Máfia será necessário combater utilizando-se de todos os artifícios previstos na legislação e ainda, sempre que necessário, ir um pouco além disso...

Malone também orienta Ness quanto à necessidade de conseguirem outros policiais que se juntem ao seu grupo. Diante da corrupção que afeta seriamente a polícia local, eles buscam um recruta talentoso na academia e trazem para sua pequena milícia o jovem Stone (Andy Garcia, que também ganhou notoriedade a partir desse trabalho). A chegada de um novo funcionário, chamado Oscar Wallace (Charles Martin Smith), proveniente de Washington (como Ness) completou o grupo.

A partir desse momento formava-se o quarteto que ficou conhecido como Os Intocáveis e que iria notabilizar-se com a prisão de Al Capone. O filme de Brian de Palma nos coloca diretamente em contato com a atmosfera de uma cidade contaminada pela violência e pela corrupção e que, a partir da ação desses agentes federais, é saneada com o combate sério e honesto ao crime organizado. Imperdível!

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Para Refletir

1 - Uma das maiores promessas políticas da história recente do Brasil refere-se à reforma do judiciário. Temos códigos de leis considerados pelos especialistas como alguns dos melhores do mundo. Assistimos ao surgimento ou a revisão de legislações nos últimos anos e há consenso quanto à boa qualidade desses trabalhos. Não possuímos, no entanto, um eficiente sistema jurídico para julgar, analisar, ponderar e punir ou absolver. Que tal propor aos alunos conversas com especialistas no campo jurídico para compreender o funcionamento dos meandros da lei e também conhecer propostas e idéias para tornar esse sistema eficiente?

2 - O que foi a Lei Seca? Por que ela foi criada? Qual era o contexto em que surgiu o gangsterismo nos Estados Unidos dos anos 1920 e 1930? De que forma se efetivou um combate ao crime organizado que redundou na prisão dos líderes da máfia e no fim da violência que assolava cidades como Chicago e Nova Iorque? A história pode ser um interessante meio de entender o funcionamento do crime organizado e as formas encontradas pelos governantes para combater esses marginais. Proponha aos alunos a elaboração de jornais de época ou de cartas (como se tivessem sido escritas naquele período) para explicar os acontecimentos de então.

3 - Crie um debate dentro da escola com base nas pesquisas anteriores quanto ao papel da sociedade civil no combate ao crime organizado. Procure trazer advogados, promotores, delegados e estudiosos da lei para compor um debate mais enriquecido. O brasileiro carece de maior conhecimento das leis, de seus direitos e deveres e a escola, ainda em suas etapas iniciais (ensino fundamental e médio), deve abrir brechas através das quais motive a ampliação das discussões no campo jurídico.

4 - Elliot Ness foi romantizado e transformado num herói através do seriado clássico exibido pela televisão e posteriormente com o filme de Brian de Palma. Vivemos uma época em que há uma abundância de contra-exemplos. No mundo de hoje as pessoas querem ser espertas, levar vantagem em tudo, aproveitar-se da boa-fé e até da ingenuidade de muitos. Precisamos de dignidade, ética, princípios e ações que elevem a humanidade a patamares que tragam ao Brasil e ao mundo maior justiça, harmonia e paz. Que ao menos os bons exemplos, como o de Elliot Ness, ganhem mais espaço e nos permitam sonhar com um amanhã muito melhor para todos...

Ficha Técnica

Os Intocáveis
(The Untouchables)

País/Ano de produção: EUA, 1987
Duração/Gênero: 119 min., Policial
Direção de Brian De Palma
Roteiro de David Mamet
Elenco: Kevin Costner, Robert De Niro, Sean Connery,
Andy Garcia, Charles Martin Smith, Billy Drago, Patrícia Clarkson,
Jack Kehoe, Richard Bradford, Brad Sullivan.

Links
-http://www.adorocinema.com.br/filmes/intocaveis/intocaveis.asp

- http://www.cineclick.com.br/cinemateca/ficha_filme.php?id_cine=6395

-http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=1143

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Avaliação deste Artigo: 4 estrelas