Planeta Educação

Carpe Diem

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Confrontando a Matrix
Coluna Carpe Diem

Morpheus - Você acredita no destino, Neo?
Neo - Não.
Morpheus – Por que não?
Neo - Porque eu não gosto da idéia de que não tenho o controle de minha vida.
Morpheus - Eu sei exatamente o que você quer dizer. Deixe-me dizer por que você está aqui. Você está aqui porque tem o dom.
Neo - Que dom?
Morpheus - Eu tenho assistido você, Neo. Você não usa o computador como uma ferramenta. Você o utiliza como se fosse uma parte de você. O que você pode fazer dentro de um computador não é normal. Eu sei. Eu presenciei isso. O que você faz é mágica.
Neo - Não é mágica.
Morpheus - É sim, Neo. É sim. De que outra forma você poderia descrever o que tem acontecido a você? Nós fomos treinados nesse mundo para aceitar apenas o que é racional e lógico. Você já pensou por quê? Quando crianças nós não separamos o possível do impossível o que explica porque quanto mais jovem é uma mente mais fácil é para torná-la livre enquanto uma mente como a sua pode ser muito difícil.
Neo - Livre do que?
Morpheus - Da Matrix. Você quer saber o que é isso, Neo? É aquele sentimento que você tem ao longo de toda a sua vida. Aquela sensação de que há algo de errado no mundo. Você não sabe o que é mas está lá, como um estilhaço em sua cabeça, te deixando maluco, trazendo você até mim. Mas o que é isto? A Matrix está em todos os lugares, está ao nosso redor, até mesmo nesse quarto. Você pode vê-la da sua janela, ou em sua televisão. Você a sente quando vai para o trabalho, ou para a Igreja ou quando paga seus impostos. É o mundo que foi colocado diante de seus olhos para torná-lo cego quanto a verdade.
Neo - Que verdade?
Morpheus - Que você é um escravo, Neo. Que você, como todo mundo, nasceu cativo... Mantido dentro de uma prisão que você não consegue cheirar, provar ou tocar. Uma prisão para sua mente.Infelizmente ninguém pode dizer o que é a Matrix. Você tem que ver por si mesmo.
Neo – Como?

(Trecho do roteiro original do filme “Matrix”, elaborado pelos irmãos Andy and Larry Wachowsky).

Platão já nos alertava em sua célebre “Alegoria da Caverna” quanto aos limites que nos são impostos em nossas vidas a partir de nossa própria mente. Quantas não foram às vezes em que dissemos para nós mesmos que não seríamos capazes de fazer alguma coisa. Várias foram as ocasiões em que nos sentimos impotentes, incapazes e insignificantes diante de circunstâncias que nos pareciam improváveis e incontroláveis a partir de nossas parcas forças...

Acreditar em si mesmo é o princípio elementar que deveria mover os seres humanos na direção da realização. A concretização dos sonhos nos parece tantas vezes impossível que não percebemos que sua impossibilidade é fruto exatamente dessa nossa forma de pensar limitadora, castradora...

Isso não quer dizer que devemos apenas acreditar em nossas próprias forças. Seria muito fácil se dessa forma pudéssemos realizar as façanhas com as quais desejamos fazer nossos nomes conhecidos e respeitados nessa Terra.

Precisamos também da coragem, da força e da determinação que vemos em Neo, o herói de Matrix, cultuado filme de ficção científica dos irmãos Wachowsky. Todas essas qualidades percebidas no herói não aparecem desde o primeiro momento em que lhe é dada a oportunidade de tentar desvendar o mistério da Matrix.

Mesmo os heróis hesitam. Durante alguns poucos segundos Neo ficou a pensar se realmente deveria enfrentar as forças que o tornavam escravo em sua própria mente. Sua dúvida é igual a de milhões de pessoas no mundo todo, que diariamente se entregam a uma rotina que os exaure, oprime e que lhes impõem grilhões.

A coragem de superar as adversidades segue como próximo passo para que consigamos enfrentar nossos medos do insucesso, do fracasso. A força está dentro de cada um de nós (parafraseando outro famoso filme de ficção científica) para que possamos tropeçar, nos levantar, aprender com nossos erros, corrigir a rota, evitar futuras colisões e atingir nossos objetivos.

Porém se não fosse pela determinação, que unida à coragem, à força e à confiança em nossas próprias capacidades, o que seria de nós, seres humanos? Estaríamos ainda pendurados em árvores ou escondidos em cavernas? Atingiríamos as luzes ou chegaríamos a lua? Voaríamos ou construiríamos tudo aquilo que concebemos em nossas imaginações?

A ficção é apenas mais uma forma de contestarmos a mesmice e desafiarmos nossas limitações. Aprender com os filmes a confrontar nossos medos e superar barreiras que nos parecem intransponíveis não é, porém, lição que possa ou deva ser esquecida...

Avaliação deste Artigo: 4 estrelas