A Semana - Opiniões
Aula Aberta de Interdisciplinaridade
Entre livros, filmes, jardins e projetos arquitetônicos
Aula aberta de interdisciplinaridade: Da esquerda para a direita –
A pedagoga Rosângela, o professor Ruy do Espírito Santo, a professora
Ivani Fazenda, a Terapeuta Suely e o editor do Planeta Educação, João Luís.
Não Sei
Não sei... se a vida é curta
ou longa demais pra nós,
Mas sei que nada do que vivemos
tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo,
é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
não seja nem curta,
nem longa demais,
Mas que seja intensa,
verdadeira, pura...
Enquanto durar
Cora Coralina
Os versos da poesia simples, pura e inteligente de Cora Coralina iluminaram os olhos de todos que ali estavam presentes. Através deles nos foi apresentada a imagem de Ivani Fazenda, nossa professora de interdisciplinaridade na PUC. Foram escolhidos pela Silvana, uma de nossas mais quietinhas colegas de curso e imediatamente acolhidos por todos como verdadeiramente representativos do que essa dedicada, prestigiada e bem sucedida professora e pesquisadora do GEPI (Grupo de Estudos e Pesquisas em Interdisciplinaridade) representa para a educação em nosso país.
Ivani tem o poder de tocar o coração das pessoas. Todas as suas aulas começam com um abraço em cada um dos participantes e com uma saudação particular. Não há estrelismo, nem vaidade. Trata-se de uma pessoa que responde com simplicidade e naturalidade aos desafios que a vida lhe impõe. Para ela o maior de todos esses desafios está relacionado a necessidade de realmente melhorar a educação brasileira e, ainda, contribuir para que o intercâmbio com outras universidades e pesquisadores permita que aprendamos e ensinemos a partir de diferentes realidades e experiências.
O pequeno público presente estimulou e contribuiu
muito com a a
Aula Aberta de Interdisciplinaridade do
Grupo de Estudos em Interdisciplinaridade da PUC-SP.
Como nos disse com sabedoria a poetisa Cora Coralina, não sabemos se nossas vidas serão curtas ou longas, apenas temos certeza de estarmos aqui e de que, com certeza temos que agir pelo melhor, para sensibilizar e atingir as pessoas para que elas também possam crescer e viver com mais intensidade tudo aquilo que a vida lhes oferece.
O pensamento interdisciplinar de Ivani Fazenda é aquele que estimula o diálogo constante entre diferentes pensamentos, proposições, teses e ciências. As fronteiras da racionalidade e do cartesianismo são superadas para que a Babel da ciência se desfaça e em seu lugar se estabeleça a riqueza e as possibilidades de trocas que envolvam pedagogos, físicos, arquitetos, historiadores, psicólogos, teólogos, filósofos, engenheiros, médicos,...
De que outra forma podemos ficar sabendo de uma escola em que os livros, relegados ao esquecimento e aos cantos empoeirados de uma sala de dimensões reduzidas, se tornaram novamente prioridade em virtude de um projeto desenvolvido por uma jovem diretora?
Que resolveu ir muito além e criou um projeto de arrecadação de fundos em sua escola para mudar a biblioteca, deslocando-a para a sala dos professores (mais ampla) e incentivando os estudantes a reavaliar o seu contato e interesse em relação à leitura.
Os participantes do GEPI, como a pedagoga Alice (ao lado de
Ivani Fazenda e da terapeuta junguiana Suely), deram depoimentos e
esclarecimentos a respeito de suas experiências interdisciplinares.
E que, para arrematar sua idéia e também satisfazer os professores que estavam num espaço mais reduzido, concebeu e realizou a construção de um belo jardim ao lado da sala reservada aos mestres, com uma porta a ligar os dois espaços para que os educadores pudessem sair e se sentar durante seus intervalos para conversar, descansar e aprofundar suas reflexões.
Pois é, tudo isso foi obra de Rosângela, uma de nossas colegas de curso na PUC, que incentivada pela professora Ivani socializou suas práticas com os colegas e nos fez crer que a Interdisciplinaridade relaciona-se com o bem-estar e com a beleza, com a humanidade e a emoção. Não somos somente razão, também dela precisamos, mas carecemos igualmente do “colo que acolhe”, do
“braço que envolve”, da “palavra que conforta” e do ”silêncio que respeita”.
Em suas aulas, professora Ivani sempre esteve de portas abertas para todos. Generosa, queria compartilhar suas experiências e, ao mesmo tempo, aprender e crescer com as nossas, que valoriza como poucos na academia onde tantas vaidades parecem imperar. Recebeu-nos como se fôssemos velhos amigos ainda no primeiro dia de nossas aulas. Acolheu orientandos que já terminaram seus ciclos de estudos e deu voz a todos eles.
Minha participação no GEPI foi pequena, apesar disso credito a
professora Ivani o aprofundamento de meu conhecimento em
interdisciplinaridade e espero ter colaborado com a adição de algumas
idéias em favor do grupo. O maior saldo foi, no entanto, a amizade
com todas as pessoas do GEPI e com mestra Ivani Fazenda.
Ensinou-nos que a interdisciplinaridade celebra as diferenças e se enriquece a partir dos encontros. Não apenas tolera as desigualdades como pregam muitos, mas percebe a pujança que pode ser encontrada em todos e em cada um de nós. Valoriza as inteligências, as trajetórias humanas, os caminhos profissionais.
Através da interdisciplinaridade brasileira, que tem nome e endereço na pessoa de nossa mestra Ivani e de seu respeitado GEPI, ficamos todos de repente irmanados em nossos projetos, expectativas e lutas por uma escola melhor para todos os brasileiros. Sua última aula, não por acaso aberta a toda a universidade, por isso Aula Aberta de Interdisciplinaridade, relembrou muitas de nossas alegrias e deu espaço até mesmo para algumas tristezas (já que como diz Cora Coralina, há de se respeitar o silêncio e permitir que as lágrimas corram).
Foi nesse encontro final de curso que pudemos nos lembrar de uma imersão feita em sala de aula através da qual fomos deslocados todos para a cidade do Porto, em Portugal. Através dessa imaginária viagem ficamos conhecendo a Casa de Música, obra recentemente finalizada que valoriza a arte e permite que as novas gerações de portugueses saboreiem a cultura a partir de uma de suas mais nobres parceiras. A partir das palavras da professora Ivani embarcamos e vivenciamos em nossas imaginações como seria essa nova obra da arquitetura européia.
Nesse nosso encontro derradeiro do semestre também nos foi apresentada a nobre casa de cultura devotada à música. Para tanto tivemos o prazer de apreciar uma exposição feita pelo colega Manolo, que de forma interdisciplinar científica nos colocou frente a frente com a Casa de Música da cidade do Porto e nos fez entender porque essa construção e seus propósitos tanto encantaram mestra Ivani.
Manolo, arquiteto de formação e professor de coração, desnudou a tal Casa de Música e nos fez adentrar seus espaços amplos, iluminados e devotados à arte musical permitindo que percebêssemos detalhes da mistura entre a contemporaneidade arquitetônica e as tradições da história de uma das mais importantes e antigas cidades de Portugal.
Pudemos ainda pensar em educação para jovens e adultos utilizando cartas para melhorar a linguagem e fazer desabrochar sentimentos de saudade em relação aos parentes. Escutamos relatos que traziam à tona a importância do uso das metáforas na educação. Falamos de filmes que ajudam a entender melhor o mundo, as pessoas, a história e que, conseqüentemente facilitam o estudo e a aprendizagem.
Tivemos ainda a contribuição de Suely, colega da professora Ivani que nos falou um pouco de sua experiência como terapeuta Junguiana e também do professor Ruy do Espírito Santo que nos brindou com sua experiência e com toda a sabedoria de suas palavras. Foi uma autêntica aula aberta, mas mais do que isso, foi interdisciplinar do começo ao fim... bem ao estilo de Ivani, intensa, inteligente, múltipla, interdisciplinar, sempre dando sentido à vida...