Uma Noite de Terror!
Blind Joker
Quando um dos quatro
homens tentou me pegar, fugi por uma porta lateral.
Eles correram atrás de mim.
Pulei da varanda sobre o teto de um dos carros estacionados,
amassando-o quase completamente e pulei ao chão, correndo
rente ao muro da casa.
Podia ouvir os gritos dos meus perseguidores e os latidos dos
cães, agora também em meu encalço.
Nem pensava em olhar para trás, só queria saber
como me livraria da sanha daqueles bandidos. Quando alcancei o
portão, percebi que era apenas fechado por um trinco.
Puxei a lingüeta e saí, batendo-o atrás
de mim, no exato momento em que os cães chegavam,
esbarrando-se contra este.
Continuei correndo pelas ruas escuras do condomínio,
até chegar à guarita de entrada.
Abri o portão, deixando-o escancarado, e corri
até onde deixara meu carro.
O interessante é que eu sabia que meu carro estava ali, mas
não sabia como chegara e nem quando.
Entrei e como a chave encontrava-se na ignição,
liguei o motor e saí do local em disparada.
Eles não se deram por satisfeitos.
Logo três carros me perseguiam pelas ruas da cidade.
Eu dirigia como louco, embora fosse de madrugada e o trânsito
estivesse tranqüilo.
Vez por outra, um farol alto refletia no retrovisor interno,
ofuscando-me.
Minha cabeça latejava e meu corpo denunciava as marcas do
espancamento que sofrera na mão dos bandidos.
Não conseguia entender porque estava prisioneiro daqueles
homens e nem mesmo o que eles queriam comigo.
O que eu teria ou saberia que valia tanto?
Tentei fazer uma retrospectiva das últimas horas, mas
não conseguia lembrar de nada até o instante da
minha fuga.
Como fui parar naquela mansão? Quem era o chefe desses
bandidos?
As respostas não vinham, mas meus perseguidores se
aproximavam.
Desesperado, entrei numa rua transversal, tentando
despistá-los.
Percebi que um carro também entrou na mesma rua, logo
atrás do meu, "cantando" os pneus.
Aumentei a velocidade tentando me distanciar e me preparando para
entrar numa outra rua, em uma intersecção que
havia a algumas quadras adiante.
Quando estava a uns cem metros da citada esquina, tive meu caminho
bloqueado por dois automóveis, deixando-me sem qualquer
alternativa, a não ser a de colidir com estes
veículos, provocando um acidente e talvez a morte dos
ocupantes destes e até a minha própria.
Instintivamente pisei forte no freio, travando as quatro rodas do
carro, riscando o asfalto, com um barulho arrepiante e estridente.
Imediatamente sentiu-se no ar o cheiro de borracha queimada.
Assim que meu carro parou, foi cercado por quatro daqueles brutamontes,
todos armados.
Um deles, que parecia o chefe, abriu a porta do meu carro e quase me
estrangula ao retirar-me à força de dentro.
Fui arrastado até um dos carros que parara à
frente do meu e jogado no chão, diante da porta traseira.
O vidro foi baixado e então pude ver o rosto do meu algoz.
Andrea Bocelli, o cantor cego!
Não entendi nada.
O que o Bocelli poderia querer comigo?
Que mal eu lhe teria feito?
Não me contive e gritava, repetindo desesperado:
- Andrea, o que você quer comigo?
- Andrea, o que você quer comigo?
- Andrea, o que você quer comigo?
Ao gritar pela terceira vez, recebi um murro na barriga e pude ouvir
claramente estas palavras:
- Acorde, descarado! Quem é esta Andrea?
Fim.
"Brincar, sorrir e sonhar, são coisas sérias!"
Editor: Luís Campos - Blind Joker
Salvador - Bahia – Brasil.