Planeta Educação

A Semana - Opiniões

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Quem tem medo de computador?
As inseguranças dos professores diante dos computadores

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Conheci um alemão chamado Hans que me confessou, com sinceridade, que tinha medo de computadores. Assim como muitas outras pessoas, receava o amigo germânico que os computadores fossem máquinas tão fantásticas que poderiam ameaçar seu emprego ou confrontar sua inteligência. Acho que Hans estava influenciado por filmes como 2001, Uma Odisséia no Espaço (do fantástico diretor Stanley Kubrick), em que o computador Hal dominava uma estação orbital e tentava direcionar os acontecimentos conforme seus próprios interesses...

Esse relato sobre o alemão que tinha medo de computadores é uma história real. Vivenciei essa experiência quando fiz meu intercâmbio nos Estados Unidos, ainda com 15 anos de idade, no longínquo ano de 1983. Nessa ocasião os computadores já estavam chegando às escolas de Ensino Fundamental e Médio na terra do Tio Sam. Eram máquinas extremamente simples quando comparadas com o que temos hoje em dia (Commodores 64, Apples de 1ª ou 2ª geração).

Como se trata de um caso que ocorreu nos primórdios da era dos computadores domésticos (ou Personal Computers), até dá para entender um pouco a angústia de Hans. Todos temos uma certa paúra diante daquilo que é novo, inédito e desconhecido. O intercambista alemão estava apenas sendo introduzido a uma nova possibilidade, ou seja, o uso dos computadores.

Nem desconfiávamos o que iria acontecer num futuro relativamente próximo quanto à utilização desses equipamentos no cotidiano das pessoas. Hoje em dia há computadores em praticamente todos os setores produtivos, redes mundiais dessas máquinas estão interligadas distribuindo informação simultaneamente aos fatos e acontecimentos mais importantes, pesquisas são feitas através da Internet, pessoas se conhecem e até iniciam romances pelos sistemas eletrônicos que foram criados,...

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As novas gerações já nasceram praticamente ligadas aos computadores e
as novas tecnologias. Para as crianças e adolescentes dos novos tempos
esses equipamentos são tão comuns em seu cotidiano quanto a geladeira,
o rádio ou a televisão.

Investimentos maciços têm sido feitos para que essa tecnologia chegue aos quatro cantos do mundo. Nesse sentido há também um esforço considerável para que os computadores entrem em definitivo no ambiente escolar e se tornem ferramenta indispensável ao trabalho de professores e alunos.

Em países mais ricos e desenvolvidos os projetos relacionados à utilização da rede mundial de computadores estão sendo aperfeiçoados a partir de parcerias entre o estado e as empresas privadas para que as novas gerações de habitantes dessas localidades já nasçam praticamente plugados às tecnologias de informação e comunicação.

O que se pretende é que esses equipamentos sejam percebidos como aliados do nosso trabalho e também em nosso cotidiano doméstico. Para as crianças e adolescentes que já nasceram tendo a sua frente um monitor, um mouse e um teclado tudo é consideravelmente fácil e natural. Essa geração navega pela Web sem grandes dificuldades, conversa com amigos do outro lado do mundo utilizando os comunicadores instantâneos, consegue informações para seus trabalhos e projetos escolares, visitas museus on-line,...

As maiores dificuldades estão entre as pessoas que, como eu, nasceram antes do surgimento dessa tecnologia e da ampliação do raio de influência, ação e penetração desses equipamentos (ou seja praticamente o mundo inteiro). Não que todos vejam os computadores como obstáculos intransponíveis, difíceis de entender ou manusear, ameaçadores da paz e da tranqüilidade de nossos lares e empregos,...

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Não perca a paciência, os computadores vieram para ficar e teremos que
aprender a lidar com eles, tornando-os nossos aliados e permitindo, dessa
forma, que nos integremos ao mundo que se configurou ao nosso redor...

Mas, como Hans no início dos anos 1980, ainda há aqueles que teimam em desconfiar dessas maquininhas prodigiosas chamadas computadores. E os temores e inseguranças são muito grandes principalmente entre os professores brasileiros, justamente as pessoas que deveriam criar empatia mais rapidamente quanto a essas ferramentas de trabalho.

De onde tiro essa conclusão? De encontros com educadores, palestras em escolas, oficinas de sensibilização quanto à utilização dessas tecnologias no ambiente educacional, conversas informais com professores ou ainda através de leituras em revistas e artigos especializados. Essa afirmação não é minha, é baseada em relatos e casos verificados no cotidiano das escolas brasileiras.

O estado ou os mantenedores de instituições particulares têm investido em laboratórios e até mesmo ajudado os professores a comprar equipamentos para que esses educadores tenham em suas próprias casas acesso aos computadores e a Internet. Parte da verba repassada aos municípios para investimentos em educação tem sido destinada ao aperfeiçoamento das redes com a instalação de computadores e cursos de utilização dos mesmos em sala de aula.

Mesmo assim, com todo esse esforço sendo feito, muitos e muitos professores do Brasil inteiro demonstram insegurança em adicionar essa importante ferramenta de trabalho ao seu uso cotidiano em suas aulas.

Professores, acreditem, os computadores não irão substituí-los e nem, tampouco, vieram apenas para figurar como um modismo passageiro nas escolas. Essas máquinas vieram para ficar. Por esse motivo temos que, literalmente, “meter as caras” e não temer o choque de gerações que nos separa do nascimento dessa tecnologia...

Foto-de-fios-de-computador
Temos que aprender a “plugar” nossos equipamentos para que eles
facilitem a nossa vida e o nosso trabalho. Para isso é de fundamental
importância que superemos nossas incertezas e inseguranças para que
também possamos nos conectar no universo de possibilidades que
nos são oferecidas por essas ferramentas...

Se não sabemos, devemos aprender a utilizar os computadores e a Internet. A partir de nossos primeiros e ainda cambaleantes passos no mundo da informática a tendência é que consigamos perceber que os computadores não são nenhum “bicho de sete cabeças” e que, em curto prazo, eles podem até mesmo se tornar grandes e importantes aliados em nossa relação com os estudantes.

Até mesmo porque, se não conseguirmos nos aproximar, entender e nos apropriar das possibilidades que nos são legadas por essas tecnologias, é muito provável que aí sim, sejamos ameaçados quanto aos nossos empregos...

Minha filha Thaís, de 9 anos de idade, me perguntou outro dia se os computadores eram inteligentes. Tinha acabado de assistir um filme na televisão em que essas máquinas possuíam essa capacidade. Disse a ela que os filmes já retratavam alguma coisa que pode até acontecer num futuro não muito distante, mas que mesmo assim eu não acreditava que alguma inteligência artificial possa superar os seres humanos.

Ao reafirmar esse posicionamento por escrito, através desse editorial, quero dizer que as máquinas são incríveis quanto às possibilidades que nos legam a partir de nossa interação com as mesmas, dirigindo e coordenando seu funcionamento a partir dos dados e informações que nelas colocamos.

Computadores sem seres humanos são como automóveis que não possuem motoristas ou ainda instrumentos musicais que não contam com os músicos para fazê-los sonorizar e dar graça às nossas vidas. Vou um pouco além disso, digo que os sistemas informatizados são como teatros de marionetes, ou seja, sem a mão humana e a criatividade própria das pessoas, não há história, não há vida,...

Professores, vocês são os artífices da vida, tanto nas escolas quanto na utilização dos computadores. Através dessas máquinas é possível fazer relatos de aulas, planejamentos, apresentações, disponibilizar imagens, mostrar filmes, utilizar músicas, programar pesquisas,... Nada disso, porém, é possível sem que os educadores descubram as possibilidades e recursos existentes nos computadores, softwares ou na Internet.

Seus alunos, de todas as faixas etárias, já estão com a tecnologia agregada a seus cotidianos e histórias de vida. O embate que travamos, enquanto geração que vivencia a transição entre a era pré-computadores e o período em que essas máquinas são parte do cotidiano, precisa ser vencido por todos e por cada um de nós individualmente, em nossas batalhas diárias, mesmo que isso demande esforço, tempo, alguns tombos, hematomas e aparentes derrotas. Ao final desse esforço temos que ter dominado nossas incertezas, inseguranças e medos e definir nosso domínio sobre os computadores...

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