A Semana - Opiniões
A Copa do Mundo e a Escola
Preocupações e possibilidades quanto à febre do futebol
Como um fenômeno climático que se repete de tempos em tempos, a Copa do Mundo organizada pela FIFA a cada 4 anos irá se realizar a partir do próximo dia 09 de junho. Serão 30 dias durante os quais todos os demais temas de interesse ficarão em segundo plano. Política, Cultura, Economia, Cotidiano, Ciência e artes serão relegados a um breve esquecimento.
No Brasil, onde a paixão pelo futebol é exacerbada, já se respira com muito maior intensidade os ares da Copa do Mundo há pelo menos um mês. As primeiras discussões se referiam a lista de jogadores brasileiros que iriam ao torneio; Logo depois iniciou-se a divulgação dos planos e locais de treinamento do escrete nacional; Agora são os treinos e amistosos. Logo mais serão os jogos...
A mídia, comandada pela Rede Globo, já montou um gigantesco esquema de cobertura que a todo o momento lança novas notícias para abastecer/estimular o interesse do grande público pelo torneio. Há canais especiais na Internet, equipes de comentaristas renomados nas rádios, suplementos sobre o evento nos jornais...
Complementando essa febre, disseminaram-se por todo o país os álbuns de figurinhas com os jogadores das seleções que vão à Copa. Nas escolas, alunos de todas as idades se reúnem para trocar os cromos durante os intervalos para completar essa relíquia preciosa sobre o maior evento esportivo da Terra.
A febre da copa tomou as escolas com os álbuns de figurinhas das seleções.
Patrocinadores, indústrias e lojas também entraram no ritmo da Copa e criaram promoções para vender seus produtos ou serviços que dão prêmios de interesse especial para os aficionados do futebol. Através dessas promoções estão dando bolas e camisetas, concedendo descontos ou sorteando televisores de plasma e viagens para a Alemanha...
É claro que diante dessa intensa e ampla divulgação, de um torneio que por si só já é extremamente popular, a repercussão dos jogos, torneios e acontecimentos relacionados à Copa do Mundo também atinge com grande força as escolas. O mês de junho tende a ser particularmente complicado para os professores, orientadores e diretores...
A empolgação natural das crianças, adolescentes e jovens em relação ao torneio mundial de futebol envolvendo seleções neste ano de 2006 supera o envolvimento dos torneios anteriores. A atual geração de jogadores brasileiros, capitaneada pelos astros do “quarteto mágico” (Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo, Adriano e Kaká) do técnico Carlos Alberto Parreira, aumentou as esperanças numa nova conquista e promoverá alterações no cotidiano escolar em dias de jogos da seleção.
Dispensar os alunos das aulas em jogos do Brasil ou manter as aulas?
Em alguns estabelecimentos de ensino os estudantes serão dispensados nos períodos em que ocorrerão os jogos da seleção canarinho; outras instituições educacionais irão instalar aparelhos de televisão para que seus alunos, professores e funcionários possam assistir as pelejas. Alguns educadores acreditam que essas interrupções de aulas ou dispensas de alunos não deveriam acontecer. Pensam estes especialistas que se perdem aulas, conteúdos, exercícios ou mesmo avaliações nesses dias/horários...
Será que teríamos freqüência às aulas se os estudantes não fossem dispensados nos horários/dias de jogos do Brasil? Os alunos que fossem obrigados a ir à escola nesses dias teriam a mesma disposição e atenção às aulas sabendo que os jogos da seleção estariam acontecendo naquele momento? A agitação nas ruas com os fogos sendo lançados a cada gol brasileiro permitiria aos pupilos participar com seriedade das atividades escolares?
Pode-se argumentar que essa particularidade dos jogos em horários de aula (duas partidas serão realizadas às 16 horas) só está acontecendo agora, com a Copa na Europa, devido à proximidade dos fusos horários da Alemanha e do Brasil... Mas daqui a quatro anos, com o evento previsto para a África do Sul, os horários serão semelhantes aos da competição de 2006...
O que fazer? Particularmente acredito que o espaçamento de quatro anos entre uma Copa do Mundo e outra edição do mesmo evento nos permite o luxo de dispensar os alunos nos dias ou horários de partidas do Brasil. Se houver algum prejuízo real na carga horária pode-se sempre recorrer à reposição de aulas...
A cada quatro anos o mundo se envolve numa intensa disputa pela Copa do Mundo.
Podemos deixar os nossos alunos fora desse espetáculo?
Há, no entanto, outras preocupações e até algumas possibilidades relativamente ao advento da Copa do Mundo. Entre as preocupações poderíamos citar: - faltas excessivas para ver outros jogos (muitas vezes com a anuência da própria família); desconcentração nas aulas; descomprometimento com trabalhos, tarefas ou avaliações; desconexão da realidade extra-futebolística (como mencionei no princípio desse artigo, as pessoas parecem se esquecer de importantes questões políticas, econômicas, culturais,...).
Quanto às possibilidades... é hora de aproveitar o encontro de nações dos 5 continentes e propor projetos, trabalhos e até avaliações tematizadas nos países participantes da Copa. Temos que fazer com que os alunos descubram a realidade, a cultura, os padrões étnicos, os hábitos e todos os assuntos relevantes de nações como a Alemanha, Angola, Coréia do Sul, Arábia, México, Suécia, Portugal, Austrália,...
Nesses projetos podemos (e devemos) estimular o uso da Internet. É possível (e recomendável) que se busquem filmes, livros ou músicas desses países. Temos que criar linhas do tempo contando as histórias de todos esses povos ou ainda vislumbrar através da geografia e dos mapas os aspectos físicos, sócio-econômicos ou humanos de cada nação... Basta apenas um pouco de imaginação para usufruir dessa competição para compor argumento, promover a cultura e construir o conhecimento...
Teríamos então gols de placa não só nos campos da Alemanha, mas também em nossas escolas...