Planeta Educação

A Semana - Opiniões

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Caos na Paulicéia
São Paulo contra o crime

Desenho-alguém-com-arma-apontada

Ônibus incendiados. Agências bancárias atacadas. Policiais mortos. Escolas fechadas. Portas do comércio baixadas muito antes da hora normal. População assustada. Ruas desertas por volta das 19 horas. Esse é um retrato aproximado do Caos que se estabeleceu na cidade e no estado de São Paulo neste final de semana em que se comemorou o dia das mães (12-13-14 de maio de 2006).

Parecia uma autêntica guerra civil. Até mesmo o crescente número de vítimas registrado assemelhava-se a índices de regiões que estão envolvidas em conflitos armados, como o Iraque (até a manhã dessa 3ª feira já se contavam mais de 90 mortos).

As bravatas desferidas pelos líderes do PCC (Primeiro Comando da Capital) ameaçando a polícia, a comunidade e o patrimônio público iam, aos poucos, se concretizando em diversas regiões da capital dos paulistas e em cidades do interior. Rebeliões em praticamente todos os presídios do estado colocavam a vida de carcereiros e policiais capturados em risco.

Rajadas de metralhadoras alternavam-se com trágicos espetáculos pirotécnicos em que as cinzas devoravam bancos e lotações que deveriam levar os passageiros para o trabalho ou para casa.

Na segunda-feira a metrópole paulistana acordou sem transporte público disponível para seus milhões de usuários habituais. Filas e mais filas se formavam nos pontos a espera de informações e possibilidades de fazer o trajeto entre seus domicílios e as empresas onde trabalham. Inúmeras pessoas não tiveram como chegar e acabaram voltando para casa.

Imagem-de-um-ônibus-incediado
Não podemos permitir que o patrimônio público e privado seja destruído
pelos marginais. Não é possível que tantas vidas sejam sacrificadas.
As forças governamentais têm que se articular para
combater com efetividade o crime organizado.

As autoridades silenciadas não emitiam comunicados. As forças policiais estabelecidas travavam uma intensa e incansável batalha contra os marginais nos presídios ou ainda iniciavam uma operação de busca e apreensão de arsenais e quadrilhas escondidas pelas cidades afetadas.

O que havia começado como uma crise paulista tomou maiores proporções com o surgimento de rebeliões em penitenciárias do Paraná e do Mato Grosso. O governo federal oferecia apoio ao governador de São Paulo, que dizia ter tudo “sob controle”...

Os meios de comunicação veiculavam edições especiais ou abordavam o assunto de forma praticamente intermitente. O dia inteiro foram feitas reportagens especiais sobre o caos na paulicéia. Entre várias informações concedidas pairavam dúvidas a respeito das declarações dadas por algumas autoridades que afirmavam que tudo estava controlado.

Como tudo poderia estar controlado se nas ruas as pessoas viam as chamas do inferno consumindo veículos e prédios? É possível dizer que tudo estava em ordem depois de mais de 90 mortes em apenas três dias? E a conturbação no já caótico trânsito de São Paulo, que chegou a atingir mais de 200 km de congestionamento durante o dia?

E o que motivou toda a fúria desses bandidos? Segundo as fontes oficiais toda a confusão teria sido causada pela transferência de presos ligados ao PCC para um novo presídio de segurança máxima. Além disso, os líderes desse comando criminoso tinham sido despachados para o DEIC na capital paulista, onde seriam interrogados e julgados.

Desenho-de-um-homem-desesperado
Sentimos medo. Ficamos acuados num primeiro instante. Fomos surpreendidos
pelos acontecimentos, mas não podemos perder a queda de braço para os bandidos...

De acordo com a cúpula da polícia paulista já existiam informações de que poderia ocorrer uma reação por parte dos comandados do PCC. Os policiais civis e militares nas ruas pareciam desconhecer essa informação. Tornaram-se alvos fáceis para os ataques dos bandidos entre sexta-feira e domingo.

Alguns desses policiais foram pegos à paisana, em seus horários de folga, nos bairros em que moravam. Outros tantos foram atacados em seus postos de trabalho. A polícia tem endereço, seus carros têm identificação, seus representantes usam uniformes e tudo isso facilitou a ação dos bandidos em sua fúria e rebeldia contra o estado e a corporação.

A partir do momento em que os policiais se protegeram contra tais ataques kamikazes dos bandidos ocorreu a alteração dos alvos. O objetivo passou a ser causar o pânico, deixar a população apavorada, alterar o ritmo da cidade, convulsionar o transporte público e obrigar as empresas a fechar suas portas mais cedo...

E o que podemos fazer em relação a isso? Devemos nos fechar em nossas casas, atrás de portas, paredes e grades e dar aos marginais o controle sobre a cidade? Ou será que devemos nos encorajar e enfrentar a situação com o apoio das autoridades para restabelecer a normalidade da vida em nossas cidades?

Há várias medidas a se tomar, algumas delas são de responsabilidade do estado e das forças de segurança. Outras são da população.

No que se refere aos governos e a polícia cabe ganhar essa queda de braço, não deixar os bandidos pensarem que têm o controle da situação. Para isso, como estão fazendo, devem inicialmente retomar o comando sobre as penitenciárias.

Foto-de-dois-bandidos
Precisamos reformular o sistema penal e penitenciário. Carecemos de
rápidas mudanças no judiciário para evitar que novas crises como a que
vivenciamos em São Paulo voltem a acontecer. (foto do filme “Carandiru”)

Quanto aos presídios, deve ser feita uma operação pente fino muito bem realizada para tirar de cena qualquer armamento ou instrumento de comunicação com o mundo externo, como os celulares, considerados como os grandes vilões dessa crise por alguns especialistas.

As visitas aos presos devem ser proibidas por alguns dias e, assim que forem retomadas, têm que contar com um rigoroso sistema de revista para evitar que qualquer tipo de recurso possa chegar às mãos dos presos. E se esses celulares ou armas atingem os presidiários a partir dos próprios policiais que controlam as cadeias é importante que eles passem a ter consciência de que essa prática é causadora de grandes estragos como rebeliões, ataques a delegacias e mortes de seus companheiros de farda...

Os presos de alta periculosidade, como os líderes do PCC ou de outros comandos, devem ser isolados do contato com outros presos e colocados em penitenciárias como a de Presidente Bernardes, onde as possibilidades de comunicação com o mundo externo são praticamente nulas.

Deve ser feita uma articulação entre os governos federal, estaduais e municipais para uma ação mais efetiva e alinhada entre as diversas forças de combate ao crime existente em nosso país. A política partidária não pode interferir nessa aliança, é uma questão que transcende os interesses mesquinhos dos partidos...

Cabe também ao estado criar meios através dos quais a informação flua com maior facilidade entre as corporações policiais. Outra responsabilidade premente dos governos é a de equipar e treinar com o máximo de qualidade os policiais militares e civis. Dar a esses policiais melhores salários também deve ser, obrigatoriamente, assunto em pauta...

A população não pode se esconder. Temos que nos proteger, é claro, mas não devemos abandonar nossas atividades e dar aos bandidos a cidade que com tanto suor estamos construindo a cada dia. As atividades têm que voltar ao normal o mais rapidamente possível. Devemos cobrar as necessárias medidas a serem tomadas pelos nossos governantes e buscar informações sobre o que está acontecendo.

A coragem e a obstinação dos policiais e da população podem derrotar o caos que nos trouxe tanto medo e insegurança. Olhem por seus filhos e familiares com mais cuidado, mas não deixem de viver tudo aquilo que têm que viver, pois como diz o poeta:- “Não deixe o sol morrer, Errar é aprender, Viver é deixar viver...”

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