Planeta Educação

Cinema na Educação

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

A Noiva Cadáver
Amor sem barreiras

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Tim Burton é mesmo um cineasta diferenciado. E o mais impressionante é que até num ambiente reconhecidamente conservador como a indústria cinematográfica norte-americana, Burton conquistou seu espaço e é reconhecido apesar de toda a esquisitice dos projetos que tem realizado. A valorização de seu trabalho é justa e deve-se principalmente a sua ousadia.

Há uma clara tendência a reconhecer pessoas ousadas num mundo que se mostra temeroso diante de inovações. Pode-se dizer que o ritmo acelerado de transformações pelas quais passou o planeta nos últimos cinqüenta anos tem assustado um enorme contingente de cidadãos. Também podemos constatar que a zona de conforto na qual nos estabelecemos em nossas vidas pessoais e profissionais tendem a nos deixar acomodados e pouco propícios a tentar inventar e renovar nossos repertórios.

O trabalho de Burton é realmente inovador, mas traz em seu cerne uma outra importante e destacada característica, suas histórias procuram trabalhar com profundidade e consistência temas universais como os sentimentos humanos e as relações entre as pessoas.

Seus filmes falam de sonhos maravilhosos (A Fantástica Fábrica de Chocolate), de pesadelos que nos fazem perder o sono (A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça), das diferenças entre os seres (Edward Mãos de Tesoura), das relações entre familiares (Peixe Grande e Outras Histórias), do fracasso monumental (Ed Wood) ou ainda da complexa vida em sociedade (O Planeta dos Macacos).

Em todos os filmes citados há também o elemento da fantasia. As narrativas de Burton são evocativas de um mundo que pode ser soturno, carregado em cores escuras e tons azulados ou então colorido e alegre em demasia. Tudo fazendo parte de sua necessidade de provocar reações nas platéias que acompanham seus filmes. E o mais interessante é que ele tem obtido sucesso nessa linha de trabalho.

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Tentando ir além dos filmes e criar alternativas que também atinjam o público infanto-juvenil, Burton tem se aventurado no campo das animações. Já havia realizado o interessantíssimo e macabro O Estranho Mundo de Jack. Lançou mais recentemente A Noiva Cadáver, de características mais suaves por se tratar de uma produção que tem como temas principais o amor, o respeito e a lealdade.

É também interessante notar como Burton considera importante a questão da lealdade e do respeito quando percebemos que há um pequeno grupo de atores com os quais o cineasta trabalha regularmente. Johnny Depp, Helena Bonham Carter, Albert Finney e Christopher Lee já estiveram com Burton em mais de uma produção, o que não é muito comum em Hollywood...

Mesmo tendo como pano de fundo uma cidade do final do século XIX e de apresentar um estilo um tanto quanto gótico e melancólico, A Noiva Cadáver conquista os pequenos espectadores ao narrar a história de um amor impossível entre um jovem no esplendor de sua vida e uma encantadora mocinha que morrera às vésperas de consumar seu casamento, assassinada por seu noivo escroque, caçador de dotes...

Estamos diante de um filme que retoma as tradições shakesperianas ao resgatar a idéia de amores impossíveis como em Romeu e Julieta. Poderia ser mais universal?

Ao temperar sua animação com paixões avassaladoras, traições, casamentos, mortes e personagens um tanto quanto estranhos (será mesmo que os protagonistas dessas produções são tão diferentes de nós?) e acompanhar todos os nós que amarram a trama com músicas, danças e situações cômicas, Burton torna A Noiva Cadáver encantador não apenas para as crianças, mas para muita gente crescidinha também...

O Filme

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Casar por amor? Isso não existe entre os membros das mais nobres castas européias. A união matrimonial deveria celebrar a reunião dos bens e dos nomes de importantes famílias. Na maior parte dos casos os casamentos eram apenas contratos estipulados pelos pais e que deveriam ser cumpridos por seus filhos.

No século XIX, os empobrecidos e desprestigiados herdeiros dessas tradicionais famílias já não precisavam casar-se dentro desse grupo social. Deveriam ter que compor seu sangue azul com os ascendentes burgueses, os novos donos da riqueza e do poder.

É por esse motivo que Victoria Everglot (Emily Watson, na versão original) está prestes a se casar com o filho de ricos comerciantes de peixe, Victor Van Dorst (Johnny Depp). Eles nem se conhecem, mas se tornarão marido e mulher em pouco mais de 24 horas...

Felizmente para eles, seu encontro revela que seus maiores temores não se confirmariam. Entre os dois jovens o amor se revela incondicionalmente e abre-lhes a perspectiva de um futuro feliz. Pena que Victor seja tão atrapalhado e não consiga reiterar perante os futuros sogros os votos do casamento que iria acontecer no outro dia...

Assustados com a insegurança do jovem Van Dorst e assediados por um ilustre visitante de última hora que parece interessado em Victoria, os pais da moça parecem dispostos a cancelar o enlace matrimonial. Apavorado com a hipótese de perder a sua jovem noiva, Victor procura abrigo na floresta onde tenta memorizar as palavras que o fariam assegurar o casamento com Victoria.

Descontraído pela ausência das outras pessoas, Victor pronuncia com segurança e firmeza as palavras enquanto a aliança que segurava em suas mãos escorrega e prende-se a um “galho”. Era, na verdade, a mão da jovem noiva-cadáver (Helena Bonham Carter) que, ao escutar o pedido de casamento, retorna ao mundo dos vivos e encontra o cônjuge por quem esperava há tempos...

Entre idas e vindas, Victor tem que escolher com quem irá se casar, tentar impedir um golpe contra Victoria, conciliar as duas jovens “mulheres” de sua vida e salvar toda a situação.

Mais uma vez Burton se supera e nos coloca em contato com uma história fantástica, terna e encantadora. Assistam!

Para Refletir

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1- A desestruturação da família tem gerado grandes problemas para a escola. O amor entre marido e mulher está desacreditado. O desapego tem sido a regra em muitos matrimônios. As pessoas se casam já pensando que “se não der certo, podemos nos separar”... Precisamos de bons exemplos para superar essa crise de valores. É claro que as crianças percebem as crises e acabam sendo envolvidas e influenciadas por esses dramas da vida real. Temos que repensar os relacionamentos e a forma como eles estão sendo concebidos. Tornamos cada vez mais o amor um sentimento que é como um produto, um item de consumo. O que podemos fazer a esse respeito?

2- A Noiva Cadáver é uma grande brincadeira em forma de história criada por Burton. Contesta os casamentos arranjados, coloca os formalismos em xeque, nos mostra que não devem existir barreiras para o amor e que a lealdade e o respeito entre as pessoas, apesar de suas diferenças é essencial. Forme uma roda na sala de aula com seus pequenos alunos e inicie uma conversa sobre o filme. Verifique se as palavras amor, lealdade e respeito aparecem nesse bate-papo. Busque o significado desses vocábulos para as crianças. Façam painéis, escrevam conjuntamente a história do filme (cada linha escrita por uma criança), montem teatrinhos, tentem elaborar histórias em quadrinhos,...

3- Uma alternativa interessante para trabalhar com essa animação é tentar estruturar com os alunos uma rádio-novela. Para tanto é necessário “mapear” a história, selecionar falas, criar um roteiro alternativo, dividir os papéis e personagens entre as crianças, providenciar gravadores e fitas,... Depois de tudo isso é preciso que os alunos memorizem suas falas e que procurem falar com sentimento para dar a necessária entonação dramática ou cômica ao projeto. Tenham certeza que seria muito divertido (já realizei projetos assim e foi bárbaro o resultado).

4- Destaquei no texto introdutório a ousadia de Tim Burton. Seu principal parceiro em alguns desses projetos tem sido Johnny Depp, que também se notabilizou pelos papéis pouco usuais que tem escolhido. Depp conduz a sua carreira com grande sucesso devido, em grande parte, a seu destemor (e ousadia) em assumir projetos diferenciados, inovadores. Exemplos como esses têm que nos motivar a buscar diferentes alternativas em nossos projetos e trabalhos. Chega da mesmice. É hora de revolucionar, de inventar, de recriar nossas práticas e existências...

Ficha Técnica

A Noiva Cadáver
(Corpse Bride)

País/Ano de produção: EUA, 2005
Duração/Gênero: 78 min., Animação/Comédia
Direção de Tim Burton e Mike Johnson
Roteiro de Caroline Thompson
Elenco (vozes): Johnny Depp, Helena Bonham Carter,
Christopher Lee, Emily Watson, Albert Finney,
Richard E. Grant, Tracey Ullman, Paul Whitehouse.

Links

http://www.adorocinema.com/filmes/noiva-cadaver/noiva-cadaver.asp

http://www.cinemaemcena.com.br/Ficha_filme.aspx?id_critica=6283&id_filme=2374&aba=critica

http://parceiros.cineclick.com.br/criticas/index_texto.php?id_critica=9110

Avaliação deste Artigo: 4 estrelas