Planeta Educação

A Semana - Opiniões

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Quem são nossos heróis?
Quais são os nossos valores?

Símbolo-do-super-homem

Mais veloz que o som. Tão forte quanto dez ou vinte homens. Capaz de ver e ouvir a distâncias incríveis. Defensor dos fracos e oprimidos. Leal e honesto. Esse é o perfil de alguns dos heróis dos quadrinhos que há décadas têm alimentado a imaginação de crianças, adolescentes e até mesmo adultos do mundo inteiro. E no mundo real, quem são os nossos heróis? Que valores esses personagens de carne e osso encarnam?

Será que nosso herói é aquele sujeito que quer se mostrar forte a partir das vitórias que obtém nas guerras? Será que o que desejamos é que se mantenha o ritmo de destruição e mortes que o mundo tem assistido depois do dia 11 de Setembro de 2001? O nosso pretenso exemplo seria por acaso um cowboy transformado em presidente que tem como objetivo manter a ordem à custa de suas forças bélicas?

Não deve ser. Não consigo acreditar nessa hipótese. Apesar da reeleição desse sujeito, seus índices de rejeição atingem níveis recordes e demonstram como os norte-americanos estão arrependidos de dar mais quatro anos no comando de sua nação a esse cowboy.

O herói também pode ser um simples operário. Homem de origens humildes que depois de muitos anos de luta conseguiu ascender ao posto mais importante da nação que representa. Sua peregrinação em busca do poder político tinha o claro intuito de melhorar a vida de seus conterrâneos e ajudar seu país a superar as mazelas e desigualdades sociais que atormentam o cotidiano de tantos e tantos cidadãos pobres e desamparados...

Esse operário/presidente que busca a reeleição continua a vagar pelo país (e pelo mundo) alardeando suas propostas de benfeitorias sociais. Enquanto isso, em seu país, surgiram denúncias graves de corrupção envolvendo alguns de seus principais aliados/assessores. As evidências são fortes e, dizem que se isso tivesse acontecido num país mais sério, muito provavelmente tudo terminaria em impeachment e não em pizza...

Foto-de-mãos-dadas
Estenda suas mãos. Seja solidário. Nosso heroísmo constrói-se no cotidiano.

É esse o nosso herói? Não creio. Esperava-se mais do homem que conseguiu reverter todas as expectativas quanto às possibilidades para sua vida. Acreditava-se que esse homem iria moralizar a máquina pública, combater ferozmente a corrupção, dizer não aos fisiologismos políticos e as alianças comprometedoras.

Talvez o nosso herói seja o craque que ganha a Copa do Mundo. Forte e pleno de saúde. Pulmões abastecidos, ele corre pelos quatro cantos do gramado atrás de uma bola, defende, ataca, arma jogadas e faz gols. Levanta as taças dos mais importantes torneios do mundo e nos faz feliz, mesmo que por breves instantes...

Para tanto acumula fortunas, roda o mundo, conhece as mais importantes personalidades do mundo. Sua glória efêmera parece ser o alimento que sustenta e mata a fome de milhões de fãs do esporte. Alguns deles até mesmo se dedicam a nobres causas sociais, fundam instituições de amparo a pessoas carentes...

Será somente isso o que esperamos de nossos heróis? E quando eles perdem os pênaltis decisivos, o que fazemos? Não acabamos transformando-os em vilões e até mesmo execrando-os publicamente (que o diga Barbosa, o goleiro do Brasil na Copa de 1950)?

E o que são os estádios senão arenas como o Coliseu que alimentam nossos sonhos e ilusões durante algumas horas? Será que tudo não passa apenas de artifícios criados para nos fazer crer que ainda há heróis como os olímpicos gregos dos clássicos jogos da Antiguidade? O esporte não seria o “ópio do povo”?

Foto-de-um-casal-rindo
A maior força está no diálogo, no companheirismo, na honestidade.

Alguns acreditam que os nossos heróis são os soldados ou os policiais. Há aqueles que dizem que são os bombeiros. Todos eles homens valentes que no cumprimento de seu dever se arriscam e salvam vidas, combatem inimigos poderosos, mantêm a ordem.

Muitos pensam que os médicos é que são os grandes heróis por salvarem as vidas de pacientes que não teriam nenhuma chance sem a intervenção desses especialistas. Outros creditam aos professores e seu dom da palavra, sua capacidade de ensinar e suas orientações/exemplos à construção do mundo digno e justo que buscamos. Por isso os educadores seriam os verdadeiros heróis da história.

Mas no que consiste o heroísmo se não pensarmos nos modelos que nos são apresentados pelos filmes, pela literatura ou pelas histórias em quadrinhos?

Segundo o dicionário Aurélio, heroísmo consiste na qualidade de herói ou de heróico. Para a palavra herói o mesmo Aurélio constrói a idéia de homem extraordinário pelos feitos guerreiros, valor ou magnanimidade.

Algumas pessoas se aproximam mais de alguns desses atributos, principalmente do primeiro, ou seja, da idéia de que são grandes guerreiros. Outros aparentam estar mais próximos da idéia de valores que os colocam de forma destacada num pedestal. A referida magnanimidade é talvez o
atributo mais difícil de ser atingido.

O que podemos entender é que, no geral, o que se espera de um herói é que seja capaz de reunir sua capacidade de luta e articulação a uma invejável ética (permeada por valores universais como a tolerância, o respeito, a fraternidade, a ética, a paz e o amor) e, principalmente, adicionar a tudo isso a capacidade de se mobilizar em favor do próximo, estendendo-lhe a mão em qualquer circunstância e independentemente de qualquer condição.

Foto-de-Cristo-na-cruz
Nos tornamos heróis quando não condicionamos nossa ação a nenhum
tipo de retorno ou troca. A ação do legítimo herói ocorre em qualquer
circunstância e independente de qualquer condição.

É nesse momento que descartamos qualquer pessoa que relacione seu apoio a trocas, a barganhas. Por isso tendemos a afastar dos políticos qualquer possibilidade de reconhecimento e consideração quanto a heroísmo.

O profissionalismo dos atletas que alegram os campos e quadras, circuitos e piscinas também nos faz pensar que suas realizações estão relacionadas a seus próprios interesses e que, a alegria que trazem a partir de suas jogadas é apenas conseqüência de seu trabalho bem feito. Isso não os desqualifica, pelo contrário, atitudes tomadas em relação a grupos carentes e participação em campanhas beneficentes têm feito com que eles realmente se aproximem muito da idéia de heroísmo que possuímos.

Profissionais de outras áreas de trabalho também realizam seus feitos movidos pela necessidade de sobrevivência e de subsistência, por isso acabam como os anteriores se distanciando um pouco do conceito de herói construído a partir de nossos dicionários.

Então heróis são apenas fruto de nossa imaginação?

O heroísmo não é ato contínuo entre os seres humanos. Somos muitas vezes derrotados por nossas fraquezas. Somos vítimas do orgulho, da mesquinharia, da ambição e também da indiferença. Nem sempre acertamos. Apesar disso em alguns momentos atingimos a iluminação e conseguimos nos transformar em verdadeiros e legítimos heróis.

O caminho pleno para essa condição passa necessariamente pela coerência entre princípios e prática, entre aquilo que pensamos e o que fazemos de nossas vidas. Não adianta pregar em favor da luta contra a fome ou em favor da defesa do meio ambiente se não agirmos nesse sentido. Temos que propor e agir em favor de idéias de paz, tolerância, respeito e amor sempre que pudermos.

Esses exemplos começam em nossas próprias casas, no relacionamento com nossos familiares, nas amizades que fazemos, no tratamento com as pessoas com as quais trabalhamos,...

O cotidiano é que revela os verdadeiros heróis, aqueles que devem ser lembrados para sempre. Por isso tantas pessoas se lembram de seus pais, de alguns professores, dos médicos que os atenderam com presteza e respeito, de bombeiros que se sacrificaram para salvar tantas vidas ou de policiais e soldados que corajosamente defenderam tantas pessoas.

Quando penso em heroísmo sempre me lembro de meus pais. Também tenho em mente pessoas como Gandhi, Mandela, Chaplin, Ayrton Senna ou Martin Luther King que, cada um a seu modo, tentaram construir um mundo um pouco melhor. Acima de tudo e de todos coloco apenas a luz de Deus e de seu Filho, mensageiros e realizadores dos valores que norteiam a existência de muitas e muitas pessoas, inclusive a minha...

Avaliação deste Artigo: 3 estrelas