Planeta Educação

A Semana - Opiniões

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Mudanças
Dores que levam ao parto...

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Acredito que a mudança de cor da pele realizada pelo camaleão não seja dolorida, isso deve ser conseqüência dos milhares de anos de evolução vivenciados pelos antecessores da versão atual desse animal incrível. Talvez nos primórdios, quando essa capacidade natural estava se desenvolvendo, algumas dores tenham incomodado essa espécie. Valeu a pena? Sem dúvida, as transformações pelas quais passa o camaleão permitem a ele defender-se de seus predadores e também conseguir alimentos...

Que ninguém duvide que a transformação da lagarta em borboleta, que aparenta ser um fantástico passe de mágica, também não deve ser fácil. Camadas de matéria orgânica se sobrepõem entre a lagarta e a borboleta, representando estágios de maturação que, sendo superados aos poucos, permitem o surgimento de um dos mais belos seres vivos da Terra.

E o corte da cebola? Já pararam para pensar a respeito? Leva-nos às lágrimas com enorme facilidade para que tenhamos, ao final, um dos mais populares e saborosos ingredientes para nossas saladas, temperos, caldos, ensopados,... Temos que sofrer um pouco, com os nossos olhos sendo afetados pelo jorro invisível de partículas que nos fazem literalmente chorar.

E o nascimento de um filho? As transformações pelas quais passa o corpo de uma mulher, dando-lhes novas feições, causando-lhes desconfortos e estranheza são apenas a primeira etapa de uma maravilhosa realização. Se não bastasse tudo isso, que acompanha a futura mãe por um período de aproximadamente nove meses, há ainda o parto...

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O nascimento leva as luzes da existência.

Mas o parto é a luz no fim do túnel para a criança que está nascendo e também para os pais, especialmente para a ansiosa mamãe. O milagre da vida acontece a partir de um momento tenso, em que o corpo feminino se contrai para forçar (de preferência com delicadeza, expressando toda a preocupação e zelo da mãe em relação ao rebento) a chegada ao mundo de um novo ser humano.

E por que toda essa preleção antes de entrar no tema das mudanças? É que, invariavelmente temos um indisfarçável temor quanto a alterações radicais no rumo de nossas vidas. A simples mudança de endereço ou de cidade já nos tira, irremediavelmente, de nossa zona de conforto e parece nos desestabilizar...
Já perceberam também que nos sentimos como autênticos “peixes fora d’água” quando trocamos de emprego? Não conhecemos ninguém nos primeiros dias, temos dificuldades para localizar salas e departamentos, não encontramos recursos e materiais de trabalho, desconhecemos até mesmo (em alguns casos) a localização dos banheiros,...

E o que dizer de alterações que transformam a nossa prática profissional?

Essas são ainda mais complicadas, pois na realidade, dependem de nossa capacidade de auto-avaliação e de correção de nossos próprios rumos. Não há, pelo que sei e já tive a oportunidade de ler, tarefa mais ingrata e difícil do que corrigir ou rever nossos próprios princípios, crenças ou práticas.

Conseguimos opinar a respeito dos outros com grande facilidade. Sempre consideramos que nossas experiências são alternativas viáveis para a solução de problemas vividos pelas pessoas com as quais convivemos, seja em casa ou no trabalho. Nos esquecemos que a vida humana é tão diversa quanto cada grão de areia que encontramos numa bela praia...

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Temos que aprender a ouvir, a pesar e refletir.

E o que isso significa? Que as variações na história de vida de cada pessoa do planeta acabam indicando caminhos para a resolução de seus problemas que muitas vezes nos parecem os menos indicados, mas que para nossos interlocutores são, na verdade, as melhores soluções do mundo.

Nesse sentido temos que apurar nossos ouvidos e aprender a ouvir o que os outros têm a nos dizer a partir de suas experiências e estudos. Essa é uma atitude louvável e saudável para qualquer pessoa em sua breve passagem por esse planeta; ela depende, no entanto, da capacidade que devemos ter de pesar e refletir a respeito do que nos foi ensinado.

É somente a partir do momento em que nos propomos a realmente escutar e ponderar o que escutamos que podemos avaliar e nos remeter às mudanças que se fazem necessárias em nossas vidas. Não realizamos esse exercício com freqüência, na verdade preferimos à acomodação aos conceitos, idéias e práticas com os quais convivemos há muito e muito tempo...

E por que precisamos mudar?

Pensem numa máquina. Totalmente nova. Equipamento de última geração. Capaz dos mais incríveis resultados no que se refere a sua função. Quando saímos da faculdade, com o diploma debaixo de nossos braços é dessa forma que deveríamos nos sentir para ingressar no mercado de trabalho e garantir nosso lugar ao sol nessa feroz selva onde se disputam as melhores posições e cargos.

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Dialogue com o mundo ao seu redor.

Por erros estruturais que não analisaremos nesse editorial sabemos que as universidades brasileiras, mesmo as melhores, acabam deixando lacunas que serão preenchidas, em parte pela participação no próprio mercado de trabalho e, em outras oportunidades pelo esmero pessoal do profissional em melhorar a sua condição profissional através de cursos que o capacitem e o atualizem além de suas bases iniciais.

A própria vida acaba nos dando lições que quando são bem aprendidas permitem melhorar tanto nossas experiências profissionais quanto as pessoais.

Em todos os casos mencionados como momentos de aprendizagem para o aperfeiçoamento de nossas qualidades profissionais os mais importantes ingredientes são aqueles relacionados ao próprio indivíduo e a relação que estabelece com o mundo ao seu redor.

A perspicácia, a capacidade de dialogar, o empenho em escutar, a percepção em relação ao mundo e as pessoas, a sensibilidade na relação com os outros e com a natureza, a curiosidade que mobiliza em direção ao auto-aperfeiçoamento, o respeito em relação à experiência alheia e alguns outros fatores que podem fazer a diferença para uma pessoa são resultantes da intensidade do abraço que direcionamos a nossa existência.

Quando nos propomos a simplesmente retribuir um abraço, sem entusiasmo ou qualquer paixão, estamos apenas mantendo o passo, desacelerado e pouco (ou nada) propenso a qualquer mudança. Se, por outro lado, não apenas retribuímos o abraço que o mundo nos dirige, mas também somos os responsáveis por inúmeros outros que mobilizam mais e mais pessoas, daí sim estamos fazendo a diferença nesse mundo.

Estou sempre propenso a aprender. Não tenho medo de mudar se considerar que isso é fundamental para melhorar a minha vida e a de outras pessoas. Procuro ouvir e dialogar, pesar e considerar, analisar e refletir com enorme freqüência. Acredito na vida e penso que há muitas pessoas que não vivem, simplesmente vegetam. Quando encontro pessoas assim procuro despertá-las para as fantásticas possibilidades que se colocam para cada um de nós a cada novo nascer do sol...

Não quero ser apenas um potencial galo. Para isso tenho que quebrar a casca do ovo, sobreviver às intempéries ao meu redor, modificar caminhos quando necessário, me sobrepor em algumas situações, dar minhas opiniões mesmo sabendo que por isso serei vidraça e não me esquivar jamais. Nada de ser avestruz e esconder a cabeça debaixo da terra diante de qualquer situação, deixe o seu canto de galo ser escutado por todos...

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