De Olho na História
Brancos X Vermelhos
A Guerra Civil na Rússia dos Bolcheviques (1917-1920)
A guerra civil na Rússia ocasionou a morte de 800 mil soldados dos exércitos Vermelho e Branco.
Socialistas e Capitalistas lutavam pelo comando de um dos maiores países do mundo.
A posse do governo provisório de Lênin em novembro de 1917, com o apoio do Conselho dos Comissários do Povo e dos Sovietes, colocou os bolcheviques no poder na primeira grande experiência socialista do planeta. Apoiado por alguns de seus principais aliados na guerra contra o czarismo e o menchevismo, como Leon Trotsky (relações exteriores) e Joseph Stalin (Nacionalidades), Lênin tinha ainda que se confrontar com uma iminente guerra civil entre os burgueses e os seus comandados.
Kerensky, que havia liderado o governo menchevique (os socialistas moderados) e que buscara apoio entre os burgueses para efetivar uma transição lenta e gradual para uma nova ordem sócio-política, havia conseguido escapar e arregimentou tropas leais no norte do país. Apesar disso, as vitórias bolcheviques ampliavam o território sob o comando dos revolucionários com conquistas na Rússia central e na Sibéria.
As forças lideradas pelos antigos donos do poder não desistiam e, em janeiro de 1918 organizavam novas milícias que atingiam inicialmente um contingente de aproximadamente três mil homens. O ingresso de mais pessoas relacionadas aos interesses da burguesia levou a formação do Exército Branco.
Entre os integrantes dos Brancos encontravam-se os Kadetts, partidários do grupo político de mesmo nome que tinham ideais liberais. A mistura de forças nessa nova milícia juntava aos liberais os socialistas moderados e, até mesmo, dissidentes dos socialistas revolucionários, descontentes com a centralização política e o governo de linhas ditatoriais que acreditavam ter se instalado em Moscou.
As rivalidades entre brancos e vermelhos eram acirradas pelos princípios políticos
e
pela disputa sobre as terras e recursos da Rússia. Isso levava os soldados a
executar os oponentes, como na imagem acima em que soldados do exército
branco
se preparam para atirar contra um prisioneiro dos vermelhos.
Aos grupamentos políticos que deram origem aos exércitos brancos também se associaram todas as pessoas que tiveram suas posses expropriadas pelo novo governo socialista. A nacionalização das terras, indústrias, bancos, pontos comerciais e a impossibilidade de continuar com atividades relacionadas aos empreendimentos particulares em busca de lucro levaram milhares de ex-proprietários a investir pesadamente nos exércitos brancos. O ateísmo dos socialistas revolucionários também serviu como justificativa para que a Igreja Ortodoxa Russa apoiasse os Brancos.
Com o apoio da população local, os Brancos obtiveram algum sucesso em sua campanha na Ucrânia. Essas vitórias foram, entretanto, extemporâneas e, a reorganização dos bolcheviques e de seu exército vermelho permitiram que a Ucrânia fosse retomada em fevereiro de 1918. Não existia, nesse momento, nenhuma grande área no território russo dominada pelos Brancos.
Paralelamente aos embates internos, o novo governo socialista tinha ainda que se preocupar com o avanço de tropas alemãs, no esforço da 1ª Guerra Mundial, em terras russas. Por esse motivo Lênin se viu instado a assinar o tratado de Brest-Litovsky em março de 1918 em que também a Ucrânia, a Finlândia, o Cáucaso, a Polônia e as províncias Bálticas se rendiam aos alemães. Essas decisões do governo socialista aumentaram as hostilidades contra os bolcheviques e ocasionaram a sublevação na Tchecoslováquia contra os Vermelhos que resultou em quatro meses de domínio Tcheco sobre a região leste do Rio Volga.
Charge do período da Guerra Civil na Rússia mostra o envolvimento do capital
internacional no conflito. Americanos, ingleses, franceses e japoneses enviaram
tropas
e investiram nos exércitos brancos para derrotar os socialistas
revolucionários
russos liderados por Lênin e Trotsky.
A nomeação de Trotsky para o posto de comissário de guerra levou os russos a retomarem o comando sobre o Volga. Sua liderança e comando também ocasionaram vitórias sobre as forças brancas nas regiões russas de Kazan e Simbirsk.
A maior ameaça dos Brancos aos Vermelhos aconteceu em outubro de 1918 quando as tropas do general Yudenich passaram a controlar Gatchina, distante apenas 50 quilômetros da capital do país naquele período, a cidade de Petrogrado.
Isso levou o próprio Trotsky a Petrogrado com a finalidade de organizar a defesa da capital russa. Ocorreu um alistamento em massa na cidade e um grande número de trabalhadores das indústrias locais reuniu-se para formar novas unidades do exército vermelho. Os grandes contingentes de tropas russas levaram a retirada das tropas brancas para a Estonia.
Os Brancos criaram então bases em Omsk, na região oriental da Sibéria. Passaram então a contar com o apoio do capital internacional, interessado em desmantelar o primeiro governo socialista da história. No final do ano de 1918, britânicos, franceses, japoneses e norte-americanos já haviam enviado aproximadamente 200 mil homens para dar apoio às forças anti-bolcheviques.
Aos exércitos vermelhos juntaram-se soldados que anteriormente eram fiéis servidores do czarismo. Isso motivou descontentamento e desconfiança entre os bolcheviques que passaram a temer golpes e traições. Apesar disso o contingente de militares vermelhos atingiu a marca de 500 mil soldados. E, em vista dos temores de deslealdade entre os Vermelhos, Trotsky definiu um rigoroso sistema de punições aos que traíssem a causa socialista nas forças armadas.
O Saldo mais trágico da guerra civil na Rússia foi à morte de aproximadamente
oito milhões de pessoas vitimadas pela fome e pelas doenças. Desabastecidos e
abandonados em zonas de guerra os habitantes das regiões em conflito não
tinham alimentos, lenha para o inverno e remédios para as doenças...
O embate entre as forças se prolongou ainda durante os anos de 1919 e 1920, com os Vermelhos obtendo, gradualmente, o controle sobre as regiões dominadas pelos Brancos. Em 1919 a região de Omsk foi retomada pelos bolcheviques e, em 1920 o Turquestão foi reconduzido ao comando de Lênin pelos exércitos vermelhos. Em novembro de 1920 os últimos remanescentes que lutavam pelos Brancos abandonavam a Criméia e, finalmente a guerra civil russa chegava ao fim.
O saldo trágico de 800 mil soldados mortos durante os três anos de guerra civil na Rússia tornava-se ainda pior ao se adicionarem as vítimas dos embates aproximadamente oito milhões de pessoas que pereceram em virtude da fome e das doenças surgidas em virtude da guerra...