Cinema na Educação
Frankenstein de Mary Shelley
Criadores e Criaturas
As recentes notícias a respeito de clonagem humana e o bem sucedido folhetim das 8 da noite veiculado pela Rede Globo, "O Clone", de autoria de Glória Perez, colocaram em pauta uma das maiores aspirações humanas, superar o Criador e gerar a vida. Através da Ciência, pretende-se criar condições para que possamos realizar o surgimento da vida sem recorrer aos encaminhamentos que a natureza nos oferece. Diversas questões aparecem na esteira de uma eventual clonagem humana, entre elas, pergunta-se sobre a criatura que surgiria desse experimento científico, poderíamos considerá-la humana? Quem seria sua família (se é que se cogita que exista uma família)? As semelhanças com o humano clonado seriam apenas físicas ou atingiriam outros aspectos e características (capacidade intelectual, caráter, personalidade, ...)? O clone viveria menos que o original?
Muitas outras dúvidas que a ciência ainda está longe de resolver ainda existem, outras tantas hão de surgir. Há um claro embate entre os posicionamentos assumidos pelos pesquisadores e os valores éticos e espirituais que regem as sociedades. O catolicismo tem feito críticas severas a todos aqueles que cogitam realizar experimentos em tal área. Governos de países europeus e dos Estados Unidos tem condenado sistematicamente e proibido que seus laboratórios e universidades se engajem em pesquisas sobre clonagem. Mesmo o personagem da ficção, Dr. Albieri, que teria conseguido concluir com êxito suas experiências e teria trazido ao mundo o clone Léo, teme por seu destino caso anuncie publicamente os resultados de seu trabalho.
Muito antes de toda essa polêmica ter tomado conta do mundo e do Brasil, ainda no século XIX, através das mãos de uma jovem escritora inglesa chamada Mary Shelley, vinha ao mundo uma menção ao sonho da criação da vida por parte do homem, dispensando os recursos da natureza. Era a obra clássica "Frankenstein". Escrita para cumprir uma aposta feita com o marido e outros colegas escritores, o texto de Mary Shelley eternizou-se. Ao lado de Bram Stoker e seu fantástico "Drácula" da obra "O Médico e o Monstro" do escritor Robert Louis Stevenson, além dos assustadores contos criados por Edgar Alan Poe, "Frankenstein" é uma das melhores histórias de terror já criadas.
Como todo grande livro, já foi filmado algumas vezes. Alguns desses filmes não foram fiéis a estrutura da obra criada por Mary Shelley, outros, como a versão do inglês Kenneth Brannagh, procuraram manter o espírito da obra. Como toda e qualquer versão cinematográfica, a produção de 1994 não consegue traduzir através de imagens a grandiosidade da obra escrita (os livros, a não ser muito raramente, são sempre superiores aos filmes em virtude do detalhamento, da riqueza da linguagem, da proposição de nos fazer imaginar a trama, os personagens, os ambientes,...).
A obra de Brannagh por ater-se ao texto original nos dá uma clara dimensão do embate entre criador e criatura, entre a ciência e a religião, temas que nos são tão caros no momento atual. Algumas das questões que estão em pauta no debate acerca da clonagem aparecem na trama do Dr. Frankenstein. Debates de caráter filosófico rondam o texto e transparecem nas telas. Afinal, o que motivou a criação desse temível monstro? Se ele foi criado, o que motivou seu criador a rejeitá-lo de forma tão veemente? Devem ser criados limites para a ação da ciência? A criação da vida não é apenas atributo de Deus? Os homens, imperfeitos como são, não devem restringir suas ações e acatar os desígnios de Deus?
O interessante é perceber como "Frankenstein" é, claramente, um produto de seu tempo. Vivia-se no século XIX um certo êxtase em virtude dos aperfeiçoamentos advindos da Revolução Industrial. O trem, os navios à vapor, o telefone, a fotografia e outros inventos pareciam nos dizer que não haviam limites para a criatividade e a inventividade dos seres humanos. Inspirada por esse modo de pensar o mundo instituído pelas revoluções burguesas, Mary Shelley nos contou uma história aterrorizante da nossa incapacidade de perceber o quanto somos pequenos. Fez-nos perceber que, mesmo que consigamos vencer as barreiras que julgamos intransponíveis, demonstrando toda a nossa capacidade, ainda assim somos apenas homens e mulheres.
A presença de Robert De Niro como a criatura (que errôneamente é chamada de Frankenstein, nome que pertence ao cientista que criou o ser monstruoso) torna o filme ainda mais interessante. A atualidade da obra nos apresenta os motivos que fazem com que esse grande clássico jamais perca seu status de uma das grandes histórias de todos os tempos. Veja, discuta com seus professores de história, biologia, filosofia, literatura. Escreva sobre o que viu. Compare com a clonagem. Leia o livro de Mary Shelley. Vale a pena conferir tanto o filme quanto o livro!
Ficha Técnica
Frankenstein
País/Ano de produção:
EUA, 1994
Duração/Gênero: 118 min.,
terror
Disponível:- VHS
Direção de Kenneth Branagh
Roteiro de Frank Darabont e Steph Lady, baseados
na obra de Mary Shelley
Elenco: Robert De Niro, Kenneth Branagh,
Tom Hulce, John Cleese,
Helena Bonham Carter, Aidan Quinn
e Ian Holm.
Links
- http://www.adorocinema.com/filmes/frankenstein/frankenstein.htm
- http://us.imdb.com/Title?0109836
(em inglês)