A Semana - Opiniões
A aposentadoria da Aula Expositiva?
Revisando e Reestruturando as aulas expositivas
Giz, lousa e saliva – essas três palavras são utilizadas muitas vezes para sintetizar o que significaria uma aula expositiva. Quem utiliza esses termos para assim explicar uma das mais tradicionais técnicas de trabalho em sala de aula? Em grande parte dos casos os próprios professores. E o que isso significa? Que a compreensão dessa forma tão comum de trabalho em educação precisa melhorar para que não seja difamada, vilipendiada e, conseqüentemente, considerada vilã no processo de ensino-aprendizagem.
O próprio conceito de aula está tão intimamente ligado a idéia de apresentação oral dos conceitos seguida de anotações em quadro negro que muitas pessoas pensam que a educação se resume a essa prática/metodologia.
Diante das perspectivas do mundo em que vivemos, no qual a introdução de novas tecnologias atinge toda a sociedade, em diferentes graus e velocidades, é notável que também as escolas estejam adicionando computadores, vídeos, Internet, CDs, DVDs e outros recursos tecnológicos ao seu aparato e trabalho em aulas.
Falta, em muitos casos, critério e conhecimento, vivência e um bom planejamento para o uso desses equipamentos nas escolas. Há muita disposição para a utilização, mas pouca paciência para um estudo mais aprofundado e a elaboração de projetos claros e bem definidos quanto a encaminhamentos, objetivos e resultados atingidos.
O uso de computadores, Internet, DVDs e outros recursos tecnológicos deve
ser necessariamente acompanhado de aulas expositivas bem planejadas
que
esclareçam conceitos e reforcem idéias pesquisadas nessas mídias e ferramentas.
A utilização regular desses instrumentos da tecnologia nas salas de aula não significa, porém, a aposentadoria das aulas expositivas. Nem mesmo se todas as escolas brasileiras estivessem plenamente equipadas e os professores preparados adequadamente para a implementação de projetos com essas ferramentas poderíamos prescindir das aulas expositivas.
O que se observa, no entanto, é que também essa metodologia tão tradicional necessita de revisões e reestruturações para que seu aproveitamento e rendimento sejam muito melhores. Falta planejamento e estudo para que as aulas expositivas sejam efetivas, interessantes, sedutoras e envolventes para os estudantes.
Alguns de nossos colegas professores que navegam regularmente pelas páginas do Planeta Educação podem estar estranhando essas colocações relativas a continuidade e valor das aulas expositivas tendo em vista os projetos e idéias que continuamente estamos propondo para a educação através de nossas várias colunas.
O que estamos constatando é que essa metodologia não deve ser suprimida ou extinta do cotidiano educacional e sim, aperfeiçoada, melhorada. Acreditamos que o ideal é a utilização das novas tecnologias e metodologias aliadas a práticas e conceitos anteriores que também podem funcionar muito bem quando previamente pensados e planejados.
O conhecimento do assunto, a disposição, a movimentação, a anotação de dados,
o tempo de explanação e a associação dos conceitos a dados obtidos a partir
de outras mídias tornam as aulas expositivas muito mais eficientes e
agradáveis
tanto para os alunos quanto para os próprios professores.
Ao pensarmos numa aula expositiva, por exemplo, temos que superar aquela visão totalmente tradicional do professor que repete conceitos, memorizados a partir de suas leituras, adaptados para certas faixas etárias as quais se destinam suas aulas e que, monotonamente são apresentados perante uma sala de alunos, com energia e disposição, que acabam frustrados pela inoperância desse tipo de trabalho.
Os professores precisam primeiramente ter em mente quais são os conceitos e idéias que serão trabalhados em sua aula. É necessário que a apresentação dessas idéias não siga apenas uma vertente filosófica ou base de explicações, ou seja, o professor deve estar preparado para apresentar diferentes versões e conceituações relativas a um mesmo tema com o objetivo de estimular os estudantes a analisar tudo o que está sendo apresentado a eles e definir que parâmetros lhes parecem mais claros e lógicos quanto aos temas em estudo.
Superar barreiras ideológicas é, portanto, uma necessidade. Ao fazermos nossas apreciações, por mais que tentemos ser neutros, ficam transparentes quais são nossas maiores simpatias relativamente a um assunto. Mesmo assim é necessário que sejamos pertinentes o suficiente para demonstrar aos nossos alunos que há formas diferentes de pensar acerca do mesmo objeto de estudos. Dessa forma estaremos dando a eles a oportunidade de escolher quais caminhos são mais condizentes para cada um deles.
Ao adotar essa nova perspectiva quanto às aulas expositivas o professor
deve
se preparar para estudar, pesquisar e planejar com maior atenção
cada
um dos seus projetos e cursos e se mostrar disposto a inovar.
Ao adotarmos essa estratégia temos que necessariamente rever nossas anotações sobre a temática em estudos, reler alguns títulos que não nos pareceram importantes a primeira vista, adicionar novos recursos (livros, revistas, sites da Internet, filmes,...) aos referenciais básicos e gerais de nossos cursos e ainda conversar com outros professores para compor releituras e novas idéias.
Não é possível ficar repetindo as mesmas aulas dadas ano após ano, com anotações de tempos atrás em cadernos que estão ficando amarelados. Temos que correr atrás de informações novas que dinamizem as aulas e promovam a participação dos alunos. As aulas são expositivas e devem ser também provocativas e instigantes a ponto de promover debates, dúvidas e inserções dos alunos a todo o momento.
O professor tem que deixar claro para os estudantes que o tema em questão é muito interessante e que é possível até mesmo se apaixonar por ele. Na realidade o próprio professor deve demonstrar toda a sua afeição ao apresentar as idéias com vigor e energia decorrentes de sua ligação com a área de sua especialidade e os assuntos tratados em aula.
Para tanto sua exposição tem que ser teatral, sua voz deve variar entonações, sua presença na frente da sala de aula deve apresentar uma constante de movimentos e uma necessária concatenação de gestos com as explanações dadas. Isso não quer dizer que o professor tenha que mudar de profissão. Ao afirmar a necessidade de uma revisão de comportamentos, da estática para a mobilidade, do monólogo pouco emocionado para palestras esclarecidas e apaixonantes, o que queremos é motivar tanto os educandos quanto os educadores a valorizar o espaço e a oportunidade existente em cada uma das aulas e encontros entre eles...
Temos também que superar a idéia de que a aula expositiva se resume a lousa e saliva. A adição de elementos como mapas, imagens, livros, artigos de jornais e revistas, trechos de filmes, músicas, obras de arte ou até mesmo páginas da Internet durante as aulas expositivas ajuda a quebrar a monotonia, insere novos elementos, movimenta a platéia e dá continuidade a raciocínios em elaboração.
O ideal é que os conceitos que estão sendo apresentados oralmente e posteriormente anotados em lousa ou repetidos/firmados com o auxílio de apresentações em PowerPoint ou transparências sejam reforçados por essas outras mídias e pelo uso das ferramentas durante as aulas expositivas.
Também é aconselhável que as explanações orais não superem prazos entre 10 ou 15 minutos. Mesmo que o professor seja um verdadeiro artista e consiga magnetizar as atenções, é pouco provável que os conceitos ensinados depois desse tempo sejam plenamente aprendidos e, principalmente, compreendidos.
Tudo isso depreende, principalmente, revisão de conceitos e atitudes por parte dos professores. Isso pode ser, evidentemente, amargo e difícil num primeiro momento, no entanto, os resultados atingidos e a posterior familiarização com os procedimentos irão compensar todos os problemas. Também é imprescindível que os professores se comprometam a planejar exaustivamente seus passos para que os avanços sejam atingidos...