Planeta Educação

Diário de Classe

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

A Internet na Escola
Experiências e usos

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A Internet revolucionou o mundo. Não há como deixar de reconhecer as mudanças efetivadas pelo surgimento da rede mundial de computadores em praticamente todos os setores de atividade humana, inclusive na educação. Em alguns segmentos as alterações foram tão grandiosas que estabeleceram estruturas praticamente novas para seu pleno funcionamento, como no caso das atividades bancárias, comerciais e até mesmo industriais.

Em outros setores a inserção da Internet segue a passos firmes, porém não tão velozes. É isso o que percebemos, por exemplo, no que se refere à agricultura e à educação. Nesse sentido acredito que possa ser questionado quanto a entrada das Tecnologias de Informação e Conhecimento (TICs) na escola pela percepção generalizada de que nos últimos anos os investimentos no setor, tanto da iniciativa privada quanto da pública, têm sido vultosos...

Podem argumentar alguns leitores que o avanço é nítido e perceptível em função do rápido surgimento de laboratórios de informática, cursos de computação, materiais específicos para o ensino na área, profissionais especializados de plantão nas escolas e até mesmo pela proliferação de trabalhos educacionais na Web.

Sem qualquer sombra de dúvidas podemos vislumbrar a materialização do sonho das Tecnologias sendo incorporado ao cotidiano das escolas através dessas ações. No entanto vale lembrar que a aquisição e disponibilização de equipamentos e conexões de nada vale se não se efetivar um trabalho sério, responsável e, principalmente, pedagogicamente inteligente com todas essas ferramentas.

Colocar computadores nas secretarias da escola sem conectá-los a uma rede que permita a socialização das informações entre os membros da comunidade servida por uma escola ou conjunto de escolas é o mesmo que dar telefones para as pessoas sem que elas possam ligar umas para as outras.

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Montar laboratórios de informática e utilizá-los apenas para algumas poucas atividades de pesquisa ou de uso de CD-ROMs é um enorme desperdício de tempo, recursos materiais e trabalho humano. Utilizar os computadores apenas como intermediários que agilizam a produção de textos, planilhas, slideshows ou alguns outros softwares de aplicação geral também não condiz com as expectativas e possibilidades educacionais desses instrumentos.

A propósito, é de fundamental importância que os educadores não se esqueçam que todos esses equipamentos são necessários, parte da realidade atual e futura da educação no Brasil e no mundo, extremamente úteis e ágeis, mas que não devem ser considerados como fim, e sim como meio para a efetivação de uma educação mais qualificada.

A utilização desses recursos não deve promover o esquecimento ou o ocaso de todos os outros instrumentais próprios do trabalho educacional que vem sendo utilizados até o presente dia. Livros, revistas, jornais, filmes, lápis, caderno, caneta, borracha, canetinhas coloridas, papel sulfite, cartolina, tesoura, cola e tantos outros aliados do trabalho dos professores devem continuar sendo utilizados com regularidade e, de preferência, em consonância com as práticas relacionadas às Tecnologias de Informação e Comunicação.

Destaco essa idéia em praticamente todos os eventos em que participo, pois penso que o encantamento pelos computadores e, especialmente, pela Internet tem ofuscado os outros recursos e, em determinados casos, até mesmo, sepultado boas idéias, práticas e trabalhos anteriores associados aos mesmos.

Digo aos participantes desses eventos que sou partidário das tecnologias na sala de aula, demonstro através de minha atuação enquanto professor que realmente as utilizo e que acredito em sua eficácia, entretanto sempre ressalvo que o maior aliado do trabalho em educação é e sempre será o livro...

Nesse artigo da coluna Diário de Classe trago a tona uma experiência que desenvolvemos há algum tempo atrás através do Planeta Educação que ficou conhecida como Coliseum. Não irei entrar em pormenores técnicos quanto ao projeto. O objetivo é essencialmente pedagógico e tem como finalidade demonstrar que o uso casado da Internet com recursos básicos da sala de aula é possível e necessário.

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Seguem abaixo duas atividades propostas no projeto para avaliação de nossos visitantes:

Atividade 1: A Sociedade Romana – Como obter escravos?
“Na República e no Império, foram múltiplos os canais que abasteceram com cativos a produção escravista romana. (...) O comércio internacional teria sido uma ... essencial fonte de escravos. Havia muito, o Mediterrâneo era palco de um importante comércio de homens. Entre outros, comerciantes e piratas alimentavam incessantemente os grandes mercados de cativos – Quios, Delos, etc. Com a expansão das fronteiras de Roma, os romanos viam-se em contato direto com os chamados povos bárbaros, que dispunham de contingentes populacionais negociáveis – prisioneiros das guerras locais, devedores insolventes, mulheres e homens capturados em razias, crianças e jovens vendidos pelos parentes, etc. A lei impedia a escravidão por dívidas apenas dos romanos. Multidões de habitantes das províncias, endividados, caíam na escravidão. Em Roma, os comerciantes pagavam taxas de importação, de exportação – portorium – e de venda – vectigal – de cativos. Os escravos vendidos nos mercados romanos eram expostos, comumente nus, sobre estrados ou gaiolas. Tinham os pés pintados de branco – signo de escravidão. Pergaminhos pendurados aos pescoços indicavam origem, preços e habilidades. Os cativos podiam ser negociados em grupo ou individualmente. Os vendedores eram obrigados a declarar – em alta e viva voz, no momento da venda – os vícios e as enfermidades das mercadorias. Entre tais ‘defeitos de fabricação’, encontravam-se a tendência à ‘vagabundagem’, à ‘fuga’, ao ‘suicídio’; a surdez; a miopia; a epilepsia, etc. A falta de informação ou a falsidade dela podiam levar à anulação do ato de compra ou à indenização do comprador, num prazo máximo de seis meses a um ano, respectivamente.” (MAESTRI, Mário. O Escravismo Antigo. Coleção Discutindo a História. São Paulo: Atual, 1994. págs. 53-54)

Introdução: Eram longos (e tortuosos) os caminhos que levavam os escravos aos mercados romanos. Assim como as condições desse comércio eram as piores e mais degradantes que se pode imaginar. Situações como essas, descritas no texto do historiador Mário Maestri, acabavam por criar rebeliões (como vimos no caso de Espártaco), fugas e um crescente ódio por parte dos cativos em relação a Roma (que se transferia a seus familiares, a seus amigos, a seus povos de origem).

O que fazer?
1- Produzir painéis em que se apresentem as seguintes idéias apresentadas no texto:-

a) Um dos grandes mercados de cativos, como os de Quios e de Delos, com os escravos sentados e acorrentados (ou enjaulados).

b) Os escravos, embarcados em navios de comerciantes e de piratas, sendo levados para os mercados romanos.

c) Mercados de escravos em Roma, onde seja possível ver escravos, em cima de gaiolas ou de estrados, com uma marca branca no braço, com um pergaminho a indicar suas habilidades, origens e preços.


Como?

a) Utilize-se dos filmes assistidos (Ben-Hur, Spartacus e Gladiador) para conseguir imagens que sirvam como referência para a composição de seus painéis. Em todos eles, há sequências que podem auxiliá-los na elaboração de seus trabalhos. Gladiador apresenta os escravos, numa poeirenta cidade em domínios romanos, sendo negociados com um comprador. Ben-Hur nos mostra os escravos numa galé (embarcação romana), sendo obrigados a remar para que o barco se movimente. Spartacus mostra o personagem central sendo comprado numa área de mineração.

b) Componha os painéis em cartolinas brancas. Utilize-se de uma técnica de composição ensinada por seus professores da área de artes (não há preferências, portanto, vocês podem se organizar para que esses trabalhos sejam feitos com guaches, nanquim, giz de cera, lápis de cor,...).

c) Façam modelos em escala reduzida para que vocês saibam o que pretendem quando forem colocar suas idéias na cartolina.

d) Procurem imagens adicionais na internet ou em livros de história que possam ser utilizadas como modelos para o trabalho artístico que pretendem desenvolver.

Avaliação:

Os quesitos avaliados serão:

a) A qualidade da composição artística.

b) O conteúdo das pinturas (se estão de acordo com as descrições, modelos e conteúdos pedidos).

c) As fontes visuais utilizadas como inspiração devem ser indicadas (filmes, imagens de livros, material coletado da internet).

Atividade 2: A Economia Romana – A Agricultura
“...a prosperidade material que sustentava a sua vitalidade intelectual e cívica provinha em proporções esmagadoras do campo. O mundo clássico era massivamente, inalteradamente, rural nas suas proporções quantitativas básicas. A agricultura representou, ao longo de sua história, o setor em absoluto dominante na produção, fornecedor invariável das maiores fortunas das próprias cidades. As cidades greco-romanas nunca foram predominantemente comunidades de manufatores, comerciantes ou mercadores: eram, na sua origem e princípios, agregados urbanos de proprietários de terras. Todas as ordens municipais, da democrática Atenas até a oligárquica Esparta ou à Roma senatorial, eram essencialmente dominadas por proprietários agrários. O seu rendimento provinha do trigo, do azeite e do vinho, os três grandes artigos básicos do Mundo Antigo, em propriedades e quintas fora do perímetro físico da cidade propriamente dita.” (ANDERSON, Perry. Passagens da Antiguidade ao Feudalismo. Porto: Afrontamento. Pg. 17-29)

Introdução: O texto de Perry Anderson nos dá algumas informações muito importantes sobre a economia dos romanos, particularmente sobre a agricultura. Sobremaneira destacada como a principal atividade dos romanos, mesmo sabendo-se do destaque dado aos centros urbanos na história daquela civilização. A origem das grandes famílias patrícias, assim como a base de seu poder se estabelece a partir da posse de terras e da utilização produtiva das mesmas. Outro dado interessante refere-se a base da produção como sendo o trigo, o vinho e o azeite, que atualmente, ao lado do queijo (obtido a partir do leite de cabra), constitui a chamada dieta mediterrânea, considerada uma das mais saudáveis do mundo.

O que fazer?

1- Faça uma pesquisa acerca das técnicas utilizadas para o plantio da uva, do trigo e da oliveira e para a produção dos vinhos, dos pães e dos azeites. Descubra se essas técnicas derivam de práticas adotadas pelos povos da Antiguidade Clássica, particularmente dos romanos. Com base nessa pesquisa, resolva as seguintes atividades:

a) Façam uma descrição por escrito e através de desenhos (quadrinhos), de uma técnica usada pelos romanos para a produção ou de vinho, ou de azeite ou de pães a base de trigo.

b) Apresentem uma técnica agrícola usada pelos romanos para o plantio de uma das culturas básicas (uva, trigo ou oliveiras).

Como?

- Entrem em contato com universidades e faculdades que possuam departamentos de agronomia para conseguir informações a respeito da história da agricultura na Antiguidade Clássica.

- Procurem informações a respeito das técnicas de produção de uva, trigo e azeitonas na atualidade e, vejam se existem dados a respeito das técnicas usadas pelos povos antigos para plantar tais produtos. Comparem os processos atuais com os antigos.

- Naveguem na internet, pelos sites de busca (google, alltheweb, radaruol, yahoo, altavista...) , para obter dados sobre a produção de uva, trigo e azeitonas, assim como, para a transformação desses produtos em vinhos, pães e azeites.

Avaliação:

Serão avaliados os dados obtidos quanto às técnicas de produção dos gêneros agrícolas (uva, trigo e azeitonas) e de seus derivados (vinhos, pães e azeite). Outro importante aspecto avaliado será a apresentação de um desenho ilustrativo e explicativo da produção de vinhos, pães ou azeites (apenas um dos três produtos) na Antiguidade Clássica, entre os romanos.

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Através dessas duas atividades pretendemos demonstrar que:

a) É necessário um planejamento das atividades envolvendo o uso das Tecnologias de Informação e Conhecimento paralelamente as práticas pedagógicas propostas regularmente em sala de aula.

b) Os estudantes devem ser informados de cada uma das propostas de trabalho em detalhes para que não apareçam dúvidas quanto aos encaminhamentos do projeto. O professor deve disponibilizar tempo e espaço para compartilhar essas idéias e acompanhar de perto a realização das mesmas.

c) Os trabalhos propostos devem estar em consonância com o planejamento e a grade curricular das séries com as quais o professor irá realizar esse projeto (nesse caso trabalhávamos com alunos da 8ª série do Ensino Fundamental).

d) O respaldo em livros de referência das disciplinas trabalhadas é de essencial importância.

e) Ao propor atividades diferenciadas que envolvem leituras, pesquisa em sites da Internet, produção artística, o uso de filmes ou outras estratégias e recursos motiva os estudantes e, ao mesmo tempo, evita que eles simplesmente copiem e colem informações da Web ou de enciclopédias.

f) Ao trabalhar com Internet sempre tentem indicar sites e portais em que as informações sejam confiáveis. Para isso não se esqueçam que atestados dessa confiabilidade são: a identificação do autor dos artigos; a disponibilização desses materiais por instituições privadas ou públicas de reconhecidos méritos e história; que a linguagem dos artigos deve ser gramaticalmente correta; a utilização de referências e indicação de locais de pesquisa para a elaboração também podem servir como indicação de qualidade dos trabalhos.

g) O Planeta Educação, através da coluna Dicas de Navegação, apresenta aos professores uma relação de portais e sites relacionados a educação, cultura, tecnologia, ciência, arte e outros temas de importância para ajudar na pesquisa pela rede mundial de computadores.

Para concluir esse texto, destaco palavras que escrevi para um dos artigos da coluna Dicas de Navegação para que possamos refletir sobre o uso dessas ferramentas na Educação:

O que mais desejamos é conseguir que nossos alunos caminhem apoiados por seus próprios pés. Que se sustentem em cima da bicicleta depois que os auxiliamos nas primeiras pedaladas e depois dos tombos iniciais. Que consigam alçar seus vôos em direção ao infinito, desafiando as leis da gravidade e da própria imperfeição anatômica percebida nos seres humanos quanto à capacidade de voar como os pássaros.

Queremos que nossos estudantes encabecem as revoluções que esperamos venham a acontecer no futuro. Que liderem as pesquisas que vão varrer a Aids e o Câncer do planeta. Que sejam os homens e mulheres que irão assinar as leis que acabam com a pobreza e as enormes desigualdades sociais que assolam o planeta. Que quebrem os recordes, assinalem novas teorias, assombrem o mundo com uma arte totalmente renovada...

Como conseguir isso se as escolas não dão ferramentas, autonomia e combustível para a realização de todas essas façanhas? Onde estão tais instrumentos? Quais são os caminhos? Que possibilidades reais temos de efetivar essas transformações? O maior recurso que possuímos é a nossa incrível capacidade de aprender, de nos aperfeiçoar, de implementar soluções nas condições mais diversas.

Só aprendendo a pensar com qualidade iremos realizar o vôo de Ícaro, a viagem às profundezas mais distantes dos oceanos previstas por Júlio Verne ou, até mesmo, a amar de forma profunda e infinita como nas obras de Shakespeare...

Avaliação deste Artigo: 3 estrelas