Planeta Educação – Qual é a sua formação? Fale sobre suas origens?
Entrei na Faculdade de Jornalismo no começo dos anos 80. No meio do caminho, dois anos de estudos, dei uma parada e fui fazer Filosofia. Formei-me e voltei para o Jornalismo e também fiz Música. Fiz também especialização em Administração, e mestrado em Filosofia da Educação na PUC do Rio de Janeiro. Nesse período trabalhava com jornal impresso, tinha uma coluna diária no Jornal Regional de Juiz de Fora-MG, minha cidade, o local onde me formei. Cheguei em São José dos Campos no dia 1º de Fevereiro de 1995, na TV Globo. Ficamos até a entrada de uma nova marca fantasia, a Vanguarda e de lá até hoje, todo dia, sem parar, graças a Deus trabalhando ininterruptamente.
Planeta Educação - E você já tinha trabalhado em televisão?
Na Empresa que trabalhava em Juiz de Fora, o proprietário possuía rádio, Televisão e Jornal e eu fazia de tudo. Foi bom porque aprendi muita coisa. Ele me conheceu tocando violão em um bar na noite de Juiz de Fora. Então eu fui, estava procurando ar de variedades culturais na minha cidade. Ele me deu o trabalho de fazer a coordenação da parte musical de um programa de variedades e todos os dias tinham um Clip Musical e eu gravei uns setenta Clips, com cromo, efeitos, com um monte de coisas. Na minha vida, a televisão começou por aí e depois eu fui para o jornalismo e de lá para cá foi rapidinho.
Planeta Educação - Quando decidiu pelo Jornalismo?
Foi difícil decidir, eu não tinha certeza se era isso que eu queria. Quando eu fazia cursinho e ficava olhando para os simulados, as provas do pré-vestibular, e dizia - vou fazer o que da minha vida com 17 anos? Eu sabia que me dava bem com redação, texto, comunicação... E nos simulados eu sempre ficava em 1º lugar, no máximo em 2º. Perdia sim para um amigo, também chamado Carlos Augusto, só que ele era Lauro e eu Abranches. E foi uma coisa que fui descobrindo com o passar do tempo, na verdade eu descobri que era apaixonado por isso na prática. Durante o curso eu fiquei, assim, perdidinho... Será que é isso que eu quero? Será que não é? Estava chato o curso... Parei e voltei com mais experiência na vida. Hoje eu sou absolutamente envolvido, comprometido, dedicado integralmente a escrever, a produzir, a trabalhar. Eu gosto muito.
Planeta Educação - O que é necessário para ser um bom profissional nessa área?
Eu tenho visto por aí que não basta apenas saber escrever, gostar de ler, ter talento para a comunicabilidade, é preciso ser um bom comunicador pessoalmente, é necessário que a pessoa saiba olhar para o outro, saiba expressar de maneira assertiva, direta, precisa, objetiva, aquilo que tem que ser dito sem ficar fazendo muitas firulas. Esse pra mim é um bom comunicador, é um talento necessário. Tem um monte de gente que tem diploma de comunicador e é péssimo comunicador. Não sabe escrever, não sabe falar, é arrogante, acha-se o dono da verdade, faz uso em excesso, prepotente, tudo afeta, são os chamados ruídos que os comunicadores, os cientistas da comunicação conseguem definir claramente como paradigma da comunicação. E esse risco vai ser superado. E eu tenho pra mim que hoje em dia cada vez mais precisamos superar isso com o talento, humildade, tolerância, abrindo espaço para a capacidade do outro, para o respeito as diferenças, e a coisa flui, se não estivesse fluindo, a pessoa poderia até se formar no curso, mas dificilmente seria um bom comunicador.
Planeta Educação - O Jornalista pode atuar em várias áreas. O que você sabe sobre cada uma delas o que já vivenciou?
Assim como na Comunicação Social, que é o genérico da nossa profissão, há varias áreas de atuação e eu posso incluir Relações Públicas, Turismo, Rádio e TV, Jornalismo, Teatro, Cinema, Música e tantas outras. , _” que é a minha área também e no Jornalismo, temos Jornalismo on-line que é o Jornalismo para a Internet cujo texto é especifico, com qualidades, com características diferenciadas do Jornalismo impresso, o Jornalismo para Rádio. O Jornalista de Rádio que tem um “pique” diferente do Jornalista da Televisão. As grandes diferenças aí são na linguagem, a maneira que eu vou trabalhar a informação, então, para o Jornalismo de Rádio eu tenho que descrever para quem está ouvindo de dentro do carro, dirigindo no trânsito, na televisão. Na televisão não preciso usar desse beneficio porque a imagem fala muitas vezes mais alto do que eu penso. Já no impresso eu preciso imaginar uma pessoa de manhã, por exemplo, tomando café da manhã e querendo saber das noticias do dia, ele põe o Jornal do lado, que ele quer ler o que aconteceu no lugar. Na Televisão eu mostro o que aconteceu no lugar, no Rádio eu narro o que aconteceu no lugar, no Jornal impresso eu tenho que ter um texto adaptado aquela realidade, aquela mídia para que a pessoa ao ler se sinta no local. São as características específicas de cada um dos veículos que eu tenho que dominar, porque eu posso trabalhar com todos eles, daí a faculdade me propiciar este tipo de domínio, para eu não escrever um texto de TV num jornal impresso, não dá. Nem de jornal impresso para TV, no rádio também. O jornal on-line por exemplo, quais as exigências? Sabe-se que a capacidade de leitura numa tela de computador é reduzida em 25% pelos batimentos das linhas do computador. Então a pessoa cansa muito mais rápida lendo no computador do que estivesse lendo o jornal impresso. Resultado: o texto é mais dinâmico, vários links, tem que chamar atenção visual do leitor. Se eu não dominar isso como você o meu jornalismo. Então, são as exigências do mercado mexendo com as múltiplas competências do profissional, para que ele tenha empregabilidade, está é a questão.
Planeta Educação - E hoje o os jornalistas que estão chegando no mercado conseguem fazer essa diferença, trabalhar com essas diferenças?
Ainda não. É preciso de um pouco de tempo. Para quem chega agora no mercado é preciso dominar um pouco mais. É preciso dar um pouco de tempo para ele, mas é preciso de um pouco de pressa. Com pressa ele consegue chegar mais rápido ao objetivo exigido pelo patrão. O patrão não quer saber, quer que ele entregue o texto pronto, e ele tem que fazer bem feito. Ele tem que rapidamente dominar o processo. Lendo livro técnico, a respeito do assunto, relembrando as aulas do professor, buscando orientações com quem sabe mais que ele. Isso eu acho muito importante, tem que estar mais aberto com o mercado da área.
Planeta Educação – A credibilidade no jornalismo exige muito trabalho de redação e apuração, conhecimento de fontes, responsabilidade de saber o que é que você publica/informa, se isso pode beneficiar e/ou prejudicar alguém. Como você lida com isso?
O segredo da credibilidade está na apuração. Se fui sério na apuração, se eu consultar a fonte antes de publicar eu me garanto com a exatidão com a veracidade dessa informação. Credibilidade é o resultado natural de um compromisso com a comunidade. No jornalismo sério, eu não tenho que ter amigo para defender, nem inimigos para atacar, pra mim tem que ser a informação exata. Com a informação exata eu privilegio aquele que necessita.
Planeta Educação - Você trabalha como jornalista, tem um contrato com a TV Vanguarda, qualquer outro trabalho que fizer fora tem que prestar contas, e você não pode receber os créditos?
Eu posso até fazer, mediante consulta e se um vídeo for absolutamente institucional e não for vinculado na mídia, minha voz não pode cobrir propaganda de imobiliária, lançamento de prédio. Eu não posso colocar meu rosto em comercial, que eu estou comprometido com a divulgação diária de um telejornal. Eu tenho que ser isento nisso tudo. Essa questão ética é um desafio, que causa às vezes certo transtorno para o profissional. Outra coisa também é a preservação da imagem dele, é complicado eu falar ou cobrar uma atitude ética da policia, desses investigadores que estão sendo procurados por extorsão, tráfico de
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drogas, tortura. Eles estão sendo procurados lá, imagine se eu cobro isso se eu fui no sábado para delegacia fazer um boletim de ocorrência por briga em uma boate, por exemplo. Então o jornalista precisa ter uma postura, uma conduta ética. Para que eu me preserve neste ponto. É necessário que eu fique isento de determinadas coisas que acontecem por aí. Claro que eu não vou deixar de viver minha vida, mas também eu não vou ficar abusando, brincando com a imagem. Imagem é coisa muito séria, muito importante para eu manter a minha credibilidade junto com as pessoas. São desafios que fazem a profissão ser exigente, cuidadosa, requerer maturidade, postura, ética, serenidade, para abordar os assuntos, para que meu texto contemple todos os lados envolvidos na questão e também contemple as perspectivas de futuro da comunidade. Existe uma comunidade prejudicada por alguém, eu tenho que no meu texto, na minha reportagem eu tenho que mostrar o que está acontecendo, eu tenho que dar voz a quem está sendo acusado, eu tenho que dar voz a quem está acusando e tem que mostrar na comunidade quais as perspectivas de futuro para elas em função daquilo que esta acontecendo. Ele tem que ter uma visão muito justa, esse é um dos desafios do jornalista.
Planeta Educação - Fora que ele tem que trabalhar bem com o tempo...
E quando lhe falta o tempo, tem esse problema. Às vezes ele não tem esse tempo disponível. Ele tem que correr atrás. No supermercado, dentro do shopping, almoçando, chega gente senta para bater papo, contar o que está acontecendo no seu bairro... Ou fala sobre o jornal que apresentei ontem, chegam dizendo “Olha você está com um pouco de olheira”.
Planeta Educação - Como é estar todos os dias na casa do telespectador?
Para mim é um prazer muito grande. Prazer por estar fazendo o que amo, por isso mesmo eu me dedico. Cuidando da informação, cuidando de mim, cuidando do texto, da edição. Por outro lado é uma grande responsabilidade. Por isso antes de começar eu faço minha prece, peço ajuda dos meus amigos espirituais, para que eu não fale besteira, porque uma informação errada eu prejudico um monte de gente. Numa reflexão que me é dada a oportunidade de fazer algum comentário, se for uma observação não pertinente ao tema ou feita de uma forma infeliz, eu posso prejudicar alguém, um prejuízo muito sério, já que a gente tem 800 mil pessoas assistindo ao telejornal. É bastante complicado, é uma grande responsabilidade me exige cuidado, carinho, apreço, maturidade para poder fazer e poder representar. Para que numa frase eu consiga expressar todo um sentimento e que esse sentimento expresso seja não só o de indignação se for necessário, mas o de emoção envolvendo uma certa poesia, uma linguagem afetuosa que não machuque as impressões de quem está vendo. E mais, você estando na rua, no shopping, no supermercado, padarias eu percebo que este retorno é real as pessoas conversam com a intimidade que eu não tenho com elas, e elas tem comigo. Isso me traz um senso de brutal de responsabilidade.
Planeta Educação - Como você trabalha com a intimidade que as pessoas têm com você?
Eu vivo muito isso e entendo. Hoje eu já trabalho bem melhor com isso, me preservando e deixando que a pessoa seja um pouco evasiva. Chegam e fazem uma abordagem que vai além do que uma relação inicial permitiria. Eu tenho hoje técnicas para deixar as coisas bem claras sem afetar quem está chegando sem me sentir mal por invasão não permitida.
Planeta Educação - O jornalista pode até não ganhar bem, mas conquista espaço de poder e trânsito social, muito mais que em outras atividades? Como é lidar com isso?
É uma grande responsabilidade, e isso tudo é que nem dinheiro no mundo tecnológico. Um erro de teclado no computador do banco, seus milhões podem desaparecer de uma hora para outra, no primeiro desafio da sua credibilidade esse reconhecimento pode se perder. Você pode perder todo o referencial que estava para a sociedade que te abraça. Anos de trabalho que podem ser perdido em uma frase equivocada, num erro de apuração, num texto mal elaborado, isso vai minando a credibilidade. E a minha credibilidade depende muito da minha competência em escrever, ler e apurar.
Planeta Educação - Sobre a discussão que envolve jornalismo, diploma, banalização da profissão e tempos modernos? Você acha necessário o jornalista possuir diploma?
Eu acredito que o jornalista precisa de diploma. Mas eu não posso desprezar as competências que existem por aí, de outras formações e que sabem traduzir numa linguagem jornalística, para um grande publico, aquilo que aprenderam na suas áreas de opção profissão. Na medicina o Dráuzio Varela, é um excelente escritor, é uma pessoa que tem uma pratica jornalística muito agradável, tanto na televisão quanto nos programas que faz. São pequenos casos, mas o que penso. Eu vejo muitos jornalistas que fizeram o curso, têm o diploma, mas são picaretas, são pessoas inadequadas para profissão. E conheço médicos, advogados, engenheiros que são excelentes comunicadores. Como abrir espaço para esses profissionais dentro de uma linguagem jornalística, eu acredito que o curso de jornalismo poderia ser um curso mais objetivo, talvez mais técnico que contemplasse os postos de grandes cientistas da informação. Hoje existem grandes nomes na área de comunicação que precisam ser respeitados. Tantos que estão preocupados com os paradigmas da comunicação, os fundamentos que fazem as pessoas se comunicarem com outras que se torna básico o curso de comunicação social, que é um curso superior, devidamente reconhecido. Para isso é preciso ter um diploma. Eu poderia, por exemplo, diminuir o tamanho do curso, enxugar aquilo ali, deixar para alguns cursos técnicos o aprimoramento com câmera, etc. Mexer na metodologia na estrutura das disciplinas. Para que aquele que se formou e é um bom comunicador, possa fazer isso, se habilite em curto período, por exemplo, dois anos. Mas que tenha sim um diploma que lhe permita ter um ganho extra, respeitando os profissionais formados especificamente na naquela área. Como nós, por exemplo. Eu tenho que ter sim uma formação e responder por ela.
Planeta Educação - Como o jornalismo brasileiro absorveu a Internet? Sabemos que a rede desfigurou muitas redações, que abriu um importante mercado de trabalho e que possibilitou maior agilidade na apuração e divulgação de uma matéria. Mas ficamos só nisso?
O mercado que a Internet prometeu logo no começo, antes do estouro da bolha, infelizmente não foi preenchido na realidade como a gente gostaria. O que aconteceu foi que o jornalista do impresso passou a ser responsável pelo setor que ele cobre no impresso para passar para o on-line. Então ele faz um texto de adaptação põe lá e a coisa ainda está sendo feita. Há poucos jornalistas trabalhando nesta área ainda, há muita gente acumulando tarefa, acumulando serviço. E aí se abre espaço para essa canabalização do espaço on-line e outros funcionários que vem e fazem o trabalho da mesma maneira como outros funcionários do impresso. Eu vejo que esse mercado ainda vai se ajustar, é um campo de trabalho que está crescendo de novo, em busca de marketing, mercado publicitário focado na Internet, isso está aumentando.
Planeta Educação - E os bloggers? - A nova ferramenta no mercado hoje, são os bloggers. Isso banaliza a profissão de tal maneira que qualquer pessoa pode ser um jornalista hoje em dia?
Os jornalistas também utilizam para passar a noticia. Blogger está deixando de ser aquela coisa amadora, de uma pessoa que escreve sobre o dia dela, deixa de ser um diário e passa ser uma coisa mais profissional. Hoje precisamos nos adaptar a essa tecnologia de maneira criativa, original, aprender a lidar com os bloggers, os fotologs, o orkut. Se eu conseguir mexer ali com a informação eu posso abrir mais um canal para produzir e trabalhar.
Planeta Educação - É um beneficio?
Eu acho que é, ali eu vou apresentar a noticia e ao mesmo tempo o internauta reflete sobre ela. Ele expõe ali o que pensa, isso é muito interessante.
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