Cinema na Educação
A Queda – As Últimas Horas de Hitler
Surpreendente e assustador!
Somos verdadeiramente surpreendentes. Conseguimos reunir dentro de cada um de nós uma vasta galeria de personagens que compõe, em seu conjunto, a personalidade e o caráter que possuímos. Tentamos ser coerentes na maior parte de nossa existência e, por isso, tendemos a agir de uma mesma forma em diferentes situações e contextos. Imaginamos sempre que as pessoas que estão ao nosso redor agem da mesma maneira, praticamente todo o tempo, em seus ambientes domésticos, profissionais ou em seu círculo de amizades...
Quando deslocamos o nosso olhar do cotidiano e tentamos focar a história e seus grandes personagens (para o bem ou para o mal), acabamos caindo em estereótipos. Descrições ou narrativas acerca dos biografados celebrizadas através de livros populares nas escolas e bibliotecas.
Em relação a Adolf Hitler não poderia ser diferente, ainda mais tendo em vista toda a destruição e a grandiosa quantidade de mortos produzidos pelo Terceiro Reich comandado pelo líder nazista. A imagem que temos de Hitler é a de um autêntico monstro, daqueles que transpiram maldade pelos poros de seus corpos a cada segundo. Milhões de judeus, russos, poloneses, ciganos e tantos outros grupos étnicos, religiosos ou nacionais perseguidos pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial serviriam de elemento comprovador dessa personalidade devastadora e mortal...
Talvez por esse motivo o filme A Queda – As Últimas Horas de Hitler tenha sido tão surpreendente aos olhos das platéias de todo o mundo. Foi inclusive alvo de críticas de muitas pessoas que viram na produção do diretor Oliver Hirschbiegel uma tentativa de humanizar o führer nazista.
O que as pessoas não perceberam é que a história do filme foi concebida a partir de relatos produzidos pela secretária de Hitler em sua última etapa como líder de uma Alemanha sedenta de conquistas, imperialista e destruidora, porém praticamente derrotada. Detalhes da intimidade do líder nazista como a forma educada e polida, próxima e até mesmo calorosa com que tratava seus mais fiéis colaboradores (como a própria secretária) ou ainda a fé que parecia depositar na juventude nazista pareceram promover, aos olhos do grande público, um desconhecido lado da personalidade do “monstro” que todos pensavam conhecer.
O diretor Hirschbiegel estava, no entanto, respaldado por outro importante e distinto “colaborador”, um dos maiores especialistas mundiais na Segunda Guerra e biógrafo de Hitler, o historiador Joachim Fest. O que se quis fazer ao produzir o filme não foi, como muitos pensaram, tentar resgatar e dar alguma dignidade a esse impressionante e assustador líder político e militar da Alemanha. A produção do filme tinha como maior interesse desvelar e desvendar o mito e aura criados em torno do führer, demonstrando toda a sua decadência, descontrole, fraquezas e medos.
Hitler praticou atos totalmente condenáveis, proferiu e defendeu idéias preconceituosas, foi o responsável direto pela morte de milhões de pessoas, se mostrou intolerante e belicoso. Isso é história registrada através de todos os dados coletados a partir das tenebrosas ações nazistas antes e durante a guerra mundial. Hitler também era respeitado, idolatrado e tratado com veneração por seus generais, assessores, amigos e povo alemão até o momento de sua morte que resultou na capitulação germânica naquele conflito. Vale também esse registro como sendo histórico e legítimo de uma imagem que poucos mortais pensavam existir até a realização e exibição dessa autêntica obra-prima!
O Filme
São apenas duas horas e meia de projeção, mas parece que realmente vivemos todos os momentos finais da agonia nazista no brilhante filme alemão “A Queda – As Últimas Horas de Hitler”. O desempenho de Bruno Ganz como Hitler é uma das mais notáveis atuações dramáticas já vistas no cinema. Entramos no bunker do ditador alemão e, a partir da insuspeita presença de sua secretária, nos sentimos muito próximos do mais odiado mortal do século XX.
Em corredores estreitos, escondido e protegido por seus generais da proximidade das tropas soviéticas, Adolf Hitler queria ainda acreditar numa reviravolta alemã. Nem mesmo os mais fiéis colaboradores do Führer tinham esperanças de que esse quadro de derrota inevitável pudesse ser revertido.
A despeito da guerra e de suas imagens chocantes que consolidavam uma perspectiva sombria aos olhos do povo alemão, inclusive de suas crianças e jovens recrutados para proteger Berlim, em seu esconderijo secreto, Hitler e seus generais tentavam traçar planos e elaborar estratégias para manter a Alemanha ativa no front.
Mesmo diante da queda eminente, Hitler ainda sonhava e vivia dentro de uma normalidade que se revelava verdadeiramente assustadora até mesmo para as pessoas mais íntimas dele. Era respeitoso e amável com seus amigos e mais próximos escudeiros, demonstrava afeto e carinho por sua companheira Ava Braun, se preocupava em condecorar os membros da juventude nazista que defendiam a capital alemã dos avanços aliados e bradava por coragem entre militares que se mostravam ávidos por planos de fuga e retiradas estratégicas...
Num cenário onde as bombas tornavam a fumaça e o fogo parte freqüente do cotidiano de todos que viviam na cosmopolita Berlim e em que corpos ensangüentados jaziam nas ruas, vemos um Hitler desconhecido por seus atos de simpatia e generosidade para com seus colaboradores, desesperado diante do fracasso na tentativa de criar o Terceiro Reich, sofrendo com o mal de Parkinson que se vê desorientado e assustado diante da perspectiva de se entregar aos russos...
Uma obra cinematográfica de grande valor e muitas virtudes, indicada a vários prêmios internacionais e que deve ser obrigatória na filmografia utilizada para o estudo da guerra e das relações humanas. A Queda é simplesmente imperdível!
Aos Professores
1- A Queda não deve ser utilizado apenas para o estudo da história em sala de aula. Trata-se de um documento que pode servir muito bem a outras disciplinas como, por exemplo, a filosofia ou a sociologia. Pode-se tentar entender as origens históricas do nazismo, as explicações sociológicas para o crescimento desse movimento político na Alemanha dos anos 1920 e 1930 e, até mesmo, as bases do pensamento dessa ideologia. Esse tripé, na verdade, é essencial para que os estudantes possam compreender como foi possível o surgimento de uma figura histórica tão controvertida e devastadora como Adolf Hitler.
2- Uma atividade interessante relacionada à história de vida de Hitler pode ser a composição de diários, cartas, programas de rádio ou até mesmo dramatizações em que grupos de alunos reproduzam trechos marcantes da biografia do líder nazista. Para tanto seria de fundamental importância ler materiais que tragam relatos da vida do ditador alemão e ver outros filmes que complementassem os dados obtidos a partir do longa-metragem sobre as últimas horas de vida do führer.
3- Associando a história com a geografia seria interessante promover um trabalho de construção de um Atlas histórico sobre a Segunda Guerra Mundial. Numa atividade como essa poderia ser feita uma associação com o professor de artes para que tais mapas pudessem ser confeccionados utilizando-se certas técnicas de pintura que dessem aos documentos produzidos um aspecto artesanal e antigo...
4- Que tal fazer um levantamento sobre os principais líderes nazistas que compunham a elite das tropas de Hitler? Vários deles são apresentados ao longo do filme estrelado por Bruno Ganz. O primeiro passo deveria ser a identificação dos mesmos a partir do filme A Queda. Para tornar o trabalho ainda mais interessante esse projeto poderia ser feito como um catálogo de elementos perigosos procurados pelas autoridades mundiais e que fugiram das rigorosas punições que a eles seriam aplicadas pelos tribunais internacionais criados ao final da guerra.
Ficha Técnica
A Queda – As Últimas Horas de Hitler
Título Original: Der Untergang
País/Ano de produção: Alemanha/Itália, 2004
Duração/Gênero: 155 min., Drama
Direção de Oliver Hirschbiegel
Roteiro de Bernd Eichinger, Joachim Fest e Traudl Junge
Elenco: Bruno Ganz, Alexandra Maria Lara, Corinna Harfouch,
Ulrich Matthes, Juliane Köhler, Heino Ferch, Christian Berkel,
Matthias Habich, Michael Mendl.
Links
http://www.adorocinema.com.br/filmes/queda/queda.asp
http://parceiros.cineclick.com.br/criticas/index_texto.php?id_critica=9025
http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=10505
http://cinemaemcena.com.br/Ficha_filme.aspx?id_critica=6487&id_filme=4275&aba=critica