Planeta Educação

A Semana - Opiniões

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Carpe Diem
Viva com intensidade e sabor cada momento

Cafezinho

Abra os olhos devagar. Não se levante prontamente, seu corpo precisa ser ativado aos poucos. Se espreguice depois de umas horas inativo, é o sinal para a retomada das atividades do cotidiano. Sinta os pés no chão, a energia a fluir da terra para o seu organismo. Lave o rosto e escove os dentes tentando perceber com maior clareza a água e a positividade proveniente da mesma. Tome seu café da manhã com calma, deliciando os aromas e os delicados e surpreendentes sabores do café com leite, do pão com manteiga e das frutas que consumir.

As pessoas parecem cada vez mais frenéticas como o ritmo das máquinas que incessantemente produzem mais e mais mercadorias para colocar no mercado de trabalho. Entramos de cabeça nas engrenagens da grande estrutura em que vivemos, como Charles Chaplin antecipou, com graça e emoção, em seu clássico filme “Tempos Modernos”.

Pasteurizamos o sabor de nossas refeições. Tudo tem um gosto insosso, desprovido de fortes emoções. Esquecemos a cada dia do valor de um cumprimento caloroso, de um abraço amigo ou de um afetuoso beijo em nossos familiares. Ficamos mais propensos às tensões e ao desequilíbrio, vivemos no império da agressividade.

Sorrir parece sacrilégio. Lembro-me de alguns professores que diziam que não devemos nos mostrar simpáticos e agradáveis ao entrar em sala de aula nos primeiros dias do ano letivo. Nunca compreendi ou assimilei essa “sugestão” dada por aqueles colegas de trabalho, mesmo levando-se em conta que eram mais experientes ou que tinham mais tempo de trabalho em educação do que eu.

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Humanizar, respeitar as particularidades, pregar a tolerância.
(Cena do filme “Tempos Modernos”, do diretor Charles Chaplin)

Seriedade virou sinônimo de autoritarismo nas escolas e também no conjunto do tecido social em que vivemos. Muitos acreditam que as pessoas precisam brandir em alto e bom tom sua braveza, dando literalmente tiros para o alto, cerrando os punhos e demonstrando virulência para conseguir alguma coisa. Será? Quem realmente acredita nisso?

Estenda sua mão aberta, nunca para agredir ou ofender, sempre para ajudar ou orientar. Não acredito em violência, tampouco em armas. Sou esclarecido e vacinado o suficiente para saber que o referendo sobre a venda de armas no Brasil não irá resolver o problema sério das mortes causadas por revólveres e outros tipos de armas de fogo...

Penso que precisamos de mais educação, saúde, cultura, lazer. O engajamento dos professores e da sociedade em favor de campanhas a favor ou contra a venda de armas deveria ser revertido em benefício de verbas e auxílio para as escolas, hospitais, geração de empregos, empreendimentos em cultura, atividades esportivas ou aperfeiçoamento de profissionais. Estamos gastando tempo, dinheiro, energia e argumento numa questão totalmente secundária...

Quem realmente se preocupou no dia de hoje em acompanhar os filhos em suas atividades escolares e nas brincadeiras cotidianas? Qual de nós devotou um tempo mínimo a entrar em contato com amigos e parentes que necessitavam de algumas palavras apenas? Palavras de carinho e compreensão foram utilizadas quando você se dirigiu a seus pais ou a seu cônjuge?

Na histórica passagem do aprisionamento de Jesus Cristo para a sua crucificação que iria acontecer apenas algumas horas depois, Pedro levantou-se em favor de seu mestre e sacou uma espada decepando a orelha de um dos soldados que aprisionavam Cristo. A resposta do mestre nos dá uma idéia do que devemos pensar sobre as armas quando ele diz que aquele que fizer jorrar o sangue pela força das armas pelo mesmo caminho haverá de tombar...

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Dividir o pão, integrar pela fraternidade, semear o amor.
(Cena do filme “A Paixão de Cristo”, do diretor Mel Gibson)

Tenham certeza que não se tratava de uma ameaça ou de uma maldição. Jesus constatava apenas aquilo que popularizamos através do célebre ditado popular: “Quem com ferro fere, com ferro será ferido”.

Perdemos a sensibilidade em uma hora que se revela cada vez mais decisiva para todos nós. Estamos cercados pela corrupção, queremos atitudes fortes em relação aos envolvidos, cobramos reformas políticas necessárias para o saneamento da máquina pública. Respeito muito essa postura questionadora e incisiva da sociedade brasileira, mas em relação a nossas próprias vidas, o que temos feito para tornar o mundo melhor?

Estamos assistindo a devastação ambiental e também aos efeitos provocados no clima e na vegetação através dessa destruição da natureza pela humanidade. Grandes catástrofes têm vitimado milhares de pessoas em diferentes partes do mundo. Furacões, terremotos, maremotos e vulcões em erupção castigam populações em todos os continentes. E o que podemos fazer para diminuir os impactos de nossa ambição desenfreada que corrói as entranhas do planeta?

Jovens se agridem e chegam mesmo a se matar diariamente em função de questões banais como jogos de futebol ou preferências políticas. Usam bombas de fabricação caseira, armas compradas em lojas e registradas ou contrabandeadas pelas fronteiras de nosso país, facas caseiras que nas mãos de boas cozinheiras apenas ajudam a preparar gostosas iguarias. Seria possível prevenir ou diminuir situações de violência como as que lemos cotidianamente em nossos jornais? De que formas poderíamos nos mobilizar para a preservação da vida de tantos e tantos jovens?

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O que podemos fazer por nossos alunos?
(Cena do filme “Sociedade dos Poetas Mortos”, do diretor Peter Weir)

No título desse artigo resgato um pensamento em latim que esteve muito vivo e presente durante o período do Barroco e que, mais recentemente foi resgatado e trazido ao grande público pelo filme “Sociedade dos Poetas Mortos”. Carpe Diem quer dizer simplesmente que as pessoas devem aproveitar melhor os dias de vida que tem pela frente.

Simples assim? Não há dúvidas quanto a isso. Basta nos lembrarmos que um dia nós não nos levantaremos mais, que estaremos condenados ao sono eterno e que todas as oportunidades que tivemos não foram vividas como deveriam para nos arrependermos do desperdício de nossa existência.

Dizer a alguém o quanto o ama; cuidar do jardim de sua casa; iniciar uma campanha pela coleta seletiva de lixo; brincar animadamente com os filhos no parque da cidade; doar um livro a uma biblioteca ou a uma criança carente; escutar música e apreciar cada acorde e o som único dos diferentes instrumentos; soltar pipa e andar de bicicleta; tomar chuva e subir em árvores a cata de frutas fresquinhas; ir para a cozinha e preparar uma deliciosa receita para seus pais e irmãos...

Quantas coisas maravilhosas deixamos de viver porque nos acomodamos no sofá, diante da televisão? Que realizações magníficas podemos realizar se nos dispusermos a viver com intensidade, emoção e inteligência cada minuto que se coloca diante de nós?

Pense sempre de forma positiva. Acredite que há soluções para as dificuldades que a vida nos apresenta. Os desequilíbrios e problemas surgem para que possamos comprovar a nossa força e capacidade de superação. Estamos aqui para fazer o bem, para estender a mão e, principalmente, para amar o próximo...

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