Cinema na Educação
Nas Montanhas dos Gorilas
Em nome da ciência e em defesa dos animais
Pesquisar exige coragem. Para ser pesquisador é preciso ultrapassar as mais diferentes e difíceis barreiras. Não há resultados finais que não sejam produto de horas e horas de dedicação, de empenho. Esse trabalho se estende ao longo de anos e também exige a privação de momentos com a família, os amigos e das necessárias horas de lazer.
Não estou dizendo isso para desanimar ou desestimular o surgimento de novos pesquisadores, pelo contrário, coloco as pedras no caminho para que as pessoas interessadas percebam as intempéries e que mostrem a necessária iniciativa e força que se espera de todos aqueles que se mobilizam e perseveram no campo da ciência.
Dian Fossey enfrentou desafios que teriam desestimulado muitas pessoas a realizar os trabalhos e avanços a respeito de gorilas por ela registrados e difundidos mundo afora. Resistências que surgiram desde o princípio, quando ainda fazia os contatos iniciais com o célebre e respeitado antropólogo Louis Leakey. Sendo uma jovem mulher norte-americana, com poucas e incipientes experiências na temática, apesar de sólida base acadêmica, Fossey foi olhada com desconfiança e poderia ser rejeitada caso não se mostrasse persistente.
Além desses percalços iniciais, a pesquisadora foi enviada a um outro país, de diferente cultura, para se estabelecer no meio de uma floresta e observar animais sobre os quais poucos registros e documentos já haviam sido produzidos e divulgados. Se não bastasse tudo isso, como todos os pesquisadores, tinha que conseguir financiadores dispostos a bancar suas pesquisas e lidar com autoridades governamentais que muitas vezes não pareciam interessadas em proteger e estimular seus projetos.
Dian Fossey conseguiu em seus anos de trabalho criar referências importantes para o trabalho com primatas. Seus conceitos e idéias continuam sendo lidos, estudados, repensados e atualizados. Há, no entanto, um pormenor de grandiosa importância na obra que nos foi legada por Fossey, ou seja, o seu envolvimento na defesa de espécies em extinção constituiu uma luta pioneira em prol do meio ambiente numa época em que os primeiros passos ainda estavam sendo dados nesse campo de atuação.
Para uma mulher que chegou a assumir a pecha de bruxa a ela atribuída por nativos locais e que usufruiu das lendas que foram criadas a seu respeito para proteger os animais e também aprofundar estudos e garantir a continuidade das pesquisas, sua morte prematura é apenas uma demonstração dos vários riscos reais que ela corria.
Seus esforços não foram em vão. O trabalho que desenvolveu ganhou notoriedade a partir de Leakey e da National Geographic Society e todo o prestígio por ela angariado resultou no surgimento de uma fundação internacional que luta pela preservação dos gorilas das montanhas onde realizou suas jornadas e anotações.
Essa instituição se chama The Dian Fossey Gorilla Fund International e possui, inclusive, site na Internet (www.gorillafund.org). Sua história passou a ser mais conhecida mundo afora em virtude do filme de Michael Apted, estrelado por Sigourney Weaver e Bryan Brown, “Nas Montanhas dos Gorilas”, produção de 1988.
Vale a pena conferir essa história e saber mais sobre a luta em favor da preservação dos primatas e também alguns caminhos da ciência e da pesquisa.
O Filme
O doutor Louis Leakey precisava de um voluntário para realizar importante trabalho de pesquisa pelo período de seis meses em montanhas africanas. Esse projeto se relacionava ao estudo dos hábitos dos grandes primatas, os gorilas. Estávamos na segunda metade dos anos 1960 e, definitivamente não era fácil naquele tempo conseguir um auxílio tão prestimoso e especializado, mesmo nos Estados Unidos.
Depois de enviar algumas cartas se candidatando a vaga, Dian Fossey (Sigourney Weaver) resolveu conseguir o encargo indo pessoalmente atrás de Leakey. Encontrou com o antropólogo logo depois de uma de suas disputadas palestras e, em virtude de sua grande insistência, acabou conseguindo a vaga.
Embarcou em um avião algum tempo depois e foi ao encontro de Leakey na expectativa de realizarem o trabalho conjuntamente nas florestas da África. Foi surpreendida pelo fato do antropólogo recepcioná-la, orientá-la quanto aos trabalhos, auxiliá-la no que se referia aos documentos e aos nativos com os quais iria trabalhar e, depois de tudo isso, deixar-lhe para que executasse as pesquisas por sua própria conta e risco.
Isso parecia ser mais uma provocação e um desafio do renomado doutor. Dian Fossey se mostrou forte e encarou o desafio. Entrou no meio da selva carregando alguns livros sobre o assunto e tendo ao seu lado apenas alguns ajudantes, entre os quais o fiel Sembagare que a acompanhou durante toda a sua trajetória de trabalhos.
Seu primeiro encontro com os gorilas não podia ser mais desafiador. Apesar de saber que não deveriam correr se fossem atacados pelos primatas, Dian e Sembagare não resistiram e bateram em retirada. O resultado foram tombos e escoriações, felizmente nenhum osso quebrado.
A seqüência dos trabalhos foi aos poucos consolidando as idéias que referenciavam inicialmente sua pesquisa. A aproximação da pesquisadora com os símios se deu de forma gradual, consolidando as relações entre Fossey e os grupamentos em extinção, constantemente ameaçados pelos caçadores que buscavam as cabeças dos gorilas para enfeitar suas salas e as mãos desses animais para transformar em portentosos cinzeiros.
“As Montanhas dos Gorilas” nos coloca em contato com as experiências de Fossey e sua relação mais que especial com os primatas. Inovadora e valente, Dian enfrentou a solidão, a distância da família e do país de origem, os caçadores de gorilas, a corrupção das autoridades e acabou ocasionando o surgimento de um trabalho importantíssimo para a compreensão desses animais e, principalmente, para a proteção desses símios em reservas ambientais. Não percam!
Aos Professores
1- Que tal propor um estudo gráfico e artístico com os alunos tendo como tema os animais em extinção no Brasil e no Mundo. Criar mapas localizando os espaços onde os últimos espécimes de um determinado animal continuam a viver; buscar as quantificações e dados mais recentes coletados pelos ambientalistas; verificar quais as medidas que estão sendo tomadas nos diversos casos pelas autoridades de cada país; criar campanhas de conscientização e apresentar isso publicamente podem ser caminhos para que os estudantes percebam o problema, manifestem sua indignação e sensibilizem outras pessoas.
2- Há outros institutos como aquele criado para perpetuar as lições e o trabalho de Dian Fossey? Que outros animais são alvo de campanhas de proteção internacional? Como é feito esse trabalho? De que forma essas instituições conseguem resultados positivos nessa difícil empreitada? Promova pesquisas pela Internet, motive os estudantes a entrar em contato com esses grupos de defesa da fauna (e também da flora), retirem das práticas desses institutos as lições que podem nos ajudar a mobilizar os brasileiros em defesa de nossos animais...
3- A pesquisa é um dos principais subsídios que nos é dado pelo filme de Michael Apted. Percebemos as referências a esse assunto quando vemos os caminhos percorridos por Dian Fossey:- Da participação em palestras (como no início do filme), passando pela utilização e apoio dos livros, caminhando pelas técnicas de observação e pelas anotações, tendo como base a pesquisa de campo e determinando o surgimento de artigos e materiais escritos. Que tal levar os estudantes a percorrer os mesmos caminhos de Fossey e realizar pesquisas de campo referenciadas por bibliografias sugeridas?
4- Uma outra alternativa interessante para o trabalho com o filme é levar biólogos ou especialistas em animais para conversar com os estudantes e apresentar as espécies. Ao organizar essas visitas os alunos devem estar orientados para os temas a serem discutidos tendo, previamente, feito levantamentos para poder questionar e participar de forma ativa no encontro. Dá para descobrir e comparar informações, gerar textos, promover o surgimento de blogs e páginas da Internet ou ainda fomentar o surgimento de um jornal sobre os animais apresentados (entre muitas outras possibilidades).
Ficha Técnica
Nas Montanhas dos Gorilas
Título Original: Gorillas in the mist
País/Ano de produção: EUA, 1988
Duração/Gênero: 129 min., Drama
Direção de Michael Apted
Roteiro de Anna Hamilton Phelan
Elenco: Sigourney Weaver, Bryan Brown, Julie Harris,
John Omirah Miluwi, Iain Cuthbertson,
Constantin Alexandrov,
Waigwa Wachira, Iain Glenn.
Links
- http://www.cineclick.com.br/cinemateca/ficha_filme.php?id_cine=8392
- http://www.imdb.com/title/tt0095243/ (em inglês)