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Instituto Paulo Freire
Aprendendo a ler o mundo
“É preciso (...) que o formando, desde o princípio de sua experiência formadora, assumindo-se com sujeito também da produção do saber, se convença definitivamente de que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção”. (A Pedagogia da Autonomia – Saberes necessários a prática docente)
Poucos brasileiros foram tão marcantes para a cultura mundial quanto Paulo Freire. Referência nacional que ganhou o mundo em virtude de sua obra incisiva, renovadora e verdadeiramente revolucionária, o educador pernambucano atravessou os sete mares e fez o percurso inverso de Colombo, Cabral e companhia limitada. Levou para a Europa e para os demais continentes uma contribuição original e necessária para a renovação dos saberes pedagógicos.
Homem assumidamente de hábitos simples e visão otimista da vida, nascido em 21 de Setembro de 1921, no Recife, desde sua iniciação no mundo da educação teve um contato muito próximo e relevante para a sua produção com a realidade dos pobres e humildes. Isso seria fundamental para que sua obra pudesse atingir a envergadura a que chegou.
Suas leituras do mundo o conduziram a uma clara percepção das desigualdades existentes em nosso país e em outras regiões do planeta assim como a compreensão de que a educação teria que ser repensada e refundada se tivesse a real intenção de se mostrar transformadora e efetiva na superação das injustiças sociais que vislumbrava ao seu redor.
Das convicções surgidas na labuta diária como professor, que passou por praticamente todos os níveis de trabalho existentes nesse segmento profissional, foram sendo criados textos que resultaram em livros que atualmente possuem tradução em várias línguas e que são objeto de estudo em diversas instituições de pesquisa e universidades interessadas em educação.
Obras como Pedagogia do Oprimido, Educação como Prática da Liberdade, A Importância do Ato de Ler, Pedagogia da Autonomia, Ação Cultural para a Liberdade, Educação e Mudança, Aprendendo com a própria Historia, entre outras, levaram adiante a retórica dialética e fenomenológica de Paulo Freire e serviram como voz e bandeira para povos que se sentiam oprimidos e relegados ao esquecimento e ao abandono.
A periferia do capitalismo parecia ter adquirido clara consciência da desigualdade e de como modelos importados não resolveriam seus problemas numa área crucial para seu desenvolvimento como a educação. Falar em crescimento sem que sejam feitos os devidos investimentos e aperfeiçoamentos nas escolas não combina nem mesmo com a mais vil e rasteira ideologia neoliberal.
Em “Cuidado, Escola!”, Paulo Freire organiza uma leitura crítica, irônica e bem-humorada
da escola tendo o apoio da arte dos cartunistas e quadrinistas e a assessoria de
outros educadores para apresentar idéias de fundamental importância
quanto à realidade da educação brasileira.
O que Freire e depois dele tantos outros educadores perceberam é que estava na hora de levantar a cabeça, conversar olho no olho, superar qualquer constrangimento ou embaraço relativo à pobreza de nossos povos, adotar uma postura de altivez e reformular a tradicional forma de ensinar que apenas reproduzia conteúdos e não legava instrumentos reais para o exercício pleno da liberdade.
Passados alguns anos de seu desaparecimento, Paulo Freire continua vivo através de sua obra. Seus livros servem de inspiração para congressos, debates, colóquios e novos estudos universitários. Novas edições são relançadas no mercado editorial e estudadas provando a atualidade de seus pensamentos e colocações. Seus posicionamentos continuam a despertar polêmica e promover discussões.
Nesse ínterim assistimos o surgimento e aperfeiçoamento da rede mundial de computadores que foi ganhando corpo e se estendendo aos quatro cantos do mundo. Pela Internet as pessoas querem saber mais a respeito de tudo e as obras clássicas acabam se tornando elemento essencial para o estudo e aperfeiçoamento em toda e qualquer área do conhecimento. Com a educação não poderia ser diferente.
Em virtude disso, pensadores que deixaram contribuições de valor inestimável para a educação como Jean Piaget, Lev Vygotsky, Emília Ferreiro, John Dewey, Carl Rogers, Célestin Freinet e, é claro, Paulo Freire se tornaram alvo das pesquisas na web.
Para melhor contemplar aqueles que se dedicam à valorosa obra do educador brasileiro foi criado o Instituto Paulo Freire em 1992 com o objetivo de proporcionar o encontro de pessoas e instituições que pesquisassem ou trabalhassem em torno dos mesmos princípios que fundamentam a pedagogia freireana. O pensamento do próprio Paulo Freire esclarece muito bem o que se pretendia para com o Instituto, ou seja:- “reunir pessoas que, movidas pelos mesmos sonhos, pudessem aprofundar suas reflexões, melhorar suas práticas e se fortalecer na luta pela construção de um mundo mais feliz”.
A disponibilização de um espaço privilegiado de encontro com as idéias de Freire na Internet era outro ensejo a se realizar o mais rapidamente possível, ainda mais se levando em conta a democratização do conhecimento proporcionada pela inserção na rede mundial de computadores, algo que faz parte da idéia de transformação pensada e proposta pelo pedagogo brasileiro. Foi o que aconteceu quando criou-se o Instituto Paulo Freire online (www.paulofreire.org). O pensamento freireano começava a ganhar o mundo pelas ondas da web...
“Enquanto, na concepção ‘bancária’ (...) o educador vai ‘enchendo’ os educandos de falso saber, que são os conteúdos impostos, na prática problematizadora, vão os educandos desenvolvendo o seu poder de captação e compreensão do mundo que lhes aparece, em suas relações com ele, não mais como uma realidade estática, mas como uma realidade em transformação, em processo. A tendência, então, do educador-educando é estabelecerem uma forma autêntica de pensar e atuar. Pensar-se a si mesmos e ao mundo, simultaneamente, sem dicotomizar essa ação. A educação problematizadora se faz, assim, um esforço permanente através do qual os homens vão se percebendo, criticamente, como estão sendo no mundo com que e em que se acham”. (Pedagogia do Oprimido)
O Site
O Instituto Paulo Freire na Internet (www.paulofreire.org) tem como características principais em suas páginas os seguintes canais e informações:
- Informações gerais sobre o Instituto e também relacionadas aos trabalhos e parcerias mantidas.
- Origem e objetivos do Instituto quanto ao patrimônio cultural legado pelo professor Paulo Freire.
- Um importante acervo de informações sobre a vida e a obra do educador brasileiro. É importante destacar que para acessar esses dados o internauta tem que clicar em “Paulo Freire” no menu lateral. Esse acesso permite que sejam disponibilizados dados como biografias, livros, escritos, fotos, poesias,...
- Há também um glossário que introduz o visitante aos termos específicos da obra freireana e permite uma melhor compreensão de conceitos e idéias fundamentais desse importante educador brasileiro.
- Em Vida e Obra encontramos análises dos principais escritos de Paulo Freire produzidas por alguns dos mais relevantes e prestigiados estudiosos e acadêmicos relacionados ao trabalho do mestre.
“A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto”.
(A Importância do Ato de Ler)
Aos Professores
Termino a apreciação do site do Instituto Paulo Freire resgatando um trecho da obra Pedagogia da Autonomia em que se discorre acerca da necessidade de ensinar querendo bem aos educandos:-
“A experiência docente de que a discente não se separa é uma experiência alegre por natureza. É falso também tomar como inconciliáveis seriedade docente e alegria, como se a alegria fosse inimiga da rigoridade. Pelo contrário, quanto mais metodicamente rigoroso me torno na minha busca e na minha docência, tanto mais alegre e esperançoso também. A alegria não chega apenas no encontro do achado mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não podem dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria. O desrespeito à educação, aos educandos, aos educadores e às educadoras corrói ou deteriora em nós, de um lado, a sensibilidade ou a abertura ao bem querer da própria prática educativa de outro, a alegria necessária ao que-fazer docente. É digna de nota a capacidade que tem a experiência pedagógica para despertar, estimular e desenvolver em nós o gosto de querer bem e o gosto da alegria sem a qual a prática educativa perde o sentido”.
Com essas palavras lembro e ressalto a necessidade de uma atitude propositiva, empreendedora, transformadora e que necessariamente não perca jamais a ternura necessária ao trabalho pedagógico e o foco humano que temos que manter a qualquer custo em nossa prática de educadores.