Planeta Educação

A Semana - Opiniões

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Repensando a Avaliação
Avaliar? Por quê? Como?

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Os alunos sentados em suas carteiras acompanham o vulto que se aproxima a passos largos e rápidos da sala de aula. Embaixo do braço desse sujeito apressado tem um maço de folhas que foram reproduzidas há apenas alguns minutos e que sintetizam todo um bimestre de aulas, tarefas, exercícios e estudos. A sensação de frio na barriga se apossa de todos os meninos e meninas que observam com atenção as orientações dadas pelo mestre a seus educandos. Nos próximos 50 minutos os estudantes terão pela frente a responsabilidade de colocar no papel tudo aquilo que aprenderam para que possam passar de ano...

Toda essa adrenalina gerada pela prova costuma provocar problemas sérios em alguns alunos. De dores de barriga a crônicos problemas de nervosismo já foram diagnosticados como enfermidades percebidas em estudantes como decorrência das avaliações. Dá para evitar isso? Afinal de contas, o que é e para que serve a avaliação? Como podemos implementar as avaliações e prevenir dificuldades de tal ordem em nossos alunos? De que maneira podemos evitar que todo o processo de ensino-aprendizagem seja auferido em apenas algumas provas aplicadas anualmente?

De acordo com o Dicionário Aurélio o sentido da palavra avaliação é:

1. Ato ou efeito de avaliar.
2. Valor determinado pelos avaliadores

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Trabalhos em grupo como propostas de avaliação promovem constante interação, troca de idéias, participação, respeito a prazos e propostas, busca de consenso e a produção de relatórios, textos, diagramas, tabelas e tantos outros subsídios e acabam sendo ótimas formas de estimular a curiosidade, a criatividade e a fixação de conceitos e conteúdos.

Se continuarmos em nossa busca pela compreensão da palavra avaliação precisaremos também da explicação do verbete avaliar:

1. Determinar a valia ou o valor de...

Ao aplicar o sentido literal do termo avaliação a educação temos uma transposição que tenta se aproximar ao máximo da explicação do Dicionário Aurélio. Será que essa relação de proximidade é saudável para a educação? Ou, por outro lado, seria necessário tentar readaptar o conceito para um contexto tão específico e particular como aquele das escolas?

Quando avaliamos em educação estamos de olho apenas numa folha de papel contendo explicações, cálculos, conceitos, definições, fatos e idéias ou queremos ir muito além disso e perceber a evolução real, o crescimento, a maturação e o desenvolvimento de nossos estudantes?

O que queremos atingir? Aonde queremos chegar quando efetivamos a avaliação? Há muitos e muitos alunos que pensam na avaliação como sendo o instrumento através do qual o professor consegue a sua desforra pela indisciplina, pelo descaso, pelas omissões ou pelo desrespeito com o qual é tratado algumas vezes. O pior não é constatar que alguns estudantes chegam a pensar dessa forma, é perceber que há professores que realmente utilizam as provas de forma vingativa e como instrumento de seu rancor pessoal...

Não devemos olhar para as avaliações como instrumento em que auferimos somente os conhecimentos previamente trabalhados em sala de aula (mas também eles) e, muito menos, devemos utilizar as provas como elemento de terror, de retaliação ou de contra-ataque.

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Avaliações individualizadas são importantes e interessantes para estimular a iniciativa pessoal, a busca por informações em fontes diversas, a capacidade de concentração, o diálogo com autores e pensadores e, finalmente, a responsabilidade com o trabalho.

O processo avaliativo nem deve se restringir somente as provas mensais e bimestrais como ainda percebemos em muitas escolas e redes de ensino do país. A superação do tradicional esquema em que se aplicam essas provas que concentram os conteúdos ensinados ao longo de algumas semanas de aula e a aplicação de uma avaliação continuada, semana a semana, diversificada em sua forma e aplicação é essencial e salutar para a educação e, principalmente, para a relação entre professores e alunos.

Estimular o debate permanente das idéias e conteúdos estudados permite ao aluno uma mais clara fixação e aproveitamento do que foi ensinado. Esse debate tem que ser firmado através de diversas práticas, que incluem exercícios em aula, projetos em grupo, tarefas para realizar em casa e avaliações continuadas.

Se os professores se programarem para efetivar um calendário e uma programação de trabalhos que já prevejam de antemão a aplicação dessas avaliações e projetos desde o início do ano fica muito mais fácil realizar essa transformação e, consequentemente, conseguir um melhor aproveitamento dos estudantes durante todo o período letivo.

Esclarecer as regras do jogo tanto com a direção e os demais membros do corpo docente quanto com os alunos é também fundamental para que essa avaliação continuada dê certo e tenha respaldo. Esse diálogo também incentiva a socialização de idéias e práticas bem sucedidas realizadas por outros professores e também a inserção de sugestões dos próprios alunos.

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Todo o processo de avaliação deve ser coordenado e discutido, acompanhado e orientado pelo professor. A organização dos trabalhos deve prever desde a estipulação de prazos e valores para as produções e avaliações até a definição dos formatos e resultados finais esperados...

A aplicação de provas não desaparece quando avaliamos de forma continuada. Na verdade o que acontece é que essas provas são aplicadas depois de muitas outras atividades avaliativas e, como conseqüência disso, tendem a ter resultados muito melhores.

Mas, como seriam essas atividades avaliativas aplicadas no decorrer das semanas que antecedem uma prova? Poderiam ser individuais ou em grupos, dependendo dos interesses específicos e dos objetivos dos educadores em relação aos conteúdos e temas trabalhados. A aplicação em pequenos grupos (de 2 a 5 pessoas) é sempre muito útil quando pretendemos fomentar discussões, busca por fontes diferenciadas e consensos. O trabalho individualizado prevê reflexão e concentração maiores, onde o diálogo deve ser estabelecido entre estudantes e autores pesquisados.

Outra preocupação é a de utilizar formatos diferenciados na aplicação dessas avaliações. Textos, filmes, músicas, jornais, jogos, revistas, visitas a instituições, trabalho em laboratórios, pesquisas na Internet e qualquer outra possibilidade de recursos devem ser utilizados. Muitas vezes existe a chance de que vários sejam usados ao mesmo tempo.

Uma clara programação do projeto de avaliação deve sempre ser apresentada aos alunos. Evidencie os objetivos, esclareça os meios, explique as formas, defina os prazos e valores relacionados ao projeto. Não deixem nenhuma informação pertinente para ser dada depois. Retificações podem ser feitas desde que representem aperfeiçoamentos.

Valorizem a criatividade, o empenho, a busca e a superação de cada um dos grupos. Vejam caso a caso como os grupos ou indivíduos amadureceram, de que forma conseguiram melhorar seus desempenhos, se encararam com maior seriedade e envolvimento as propostas que foram feitas. Há alunos com maior dificuldade que apresentam trabalhos e resultados que não são necessariamente os melhores do grupo todo, mas que demonstram um afinco e dedicação que não podem ser desprezados.

Sejam firmes quando tiverem que criticar e não se esqueçam de elogiar as belas iniciativas e os bons rendimentos. Quando trabalhamos com a avaliação enquanto processo que se prolonga durante todo o bimestre temos maior clareza quanto ao crescimento dos estudantes, passamos a conhecê-los melhor, nos aproximamos do grupo e somos percebidos como aliados e não como oponentes.

Evidentemente que esse caminho representa mais trabalho (planejamento, orientação, acompanhamento, correção, devolutiva) para o professor. Não dá para negar, porém que o principal objetivo, ou seja, a melhoria da educação a partir da aplicação de uma avaliação mais consciente e construtiva acaba sendo realizada. E é justamente nesse ponto que pretendemos chegar...

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