Cinema na Educação
Deus é Brasileiro
A Identidade Verde Amarela
Quantas e quantas vezes você já escutou alguém dizendo que "Deus é brasileiro"? Você provavelmente já perdeu as contas. Tornou-se frase comumente dita pelas ruas das grandes e pequenas cidades de nosso país; repete-se corriqueiramente pelas fazendas e sítios, entre os trabalhadores rurais e os proprietários de terras; Está nas igrejas assim como nas escolas, nos hospitais, nos escritórios ou nos estádios de futebol; movimenta fiéis em grandes manifestações de religiosidade e em momentos particulares de devoção e oração; não há, praticamente, distinção de classe entre as pessoas que se atrevem a atribuir a Deus a nacionalidade brasileira.
Deus é tão presente em nosso cotidiano que, além da frase mencionada, é muito comum escutarmos outras, tão ou mais freqüentes que a anterior, como:- "Graças a Deus", "Deus me livre", "Valha-me Deus", "Deus me perdoe", "Só Deus salva",...
E como caracterizar esse Deus brasileiro, de tantas menções populares, resgatado por Carlos Diegues para a produção de um filme, justamente intitulado como "Deus é Brasileiro"?
Para que tenhamos condições de dizer se Deus é realmente brasileiro, talvez fosse adequado responder algumas "perguntinhas básicas", tais quais (entre muitas outras):-
a) Descobrir até que ponto as influências étnicas variadas que serviram de base para nossa formação estão presentes em nós (portugueses, indígenas, negros, imigrantes italianos e alemães,...).
b) Compreender nossas festas e folguedos, nossas danças e músicas.
c) Aprofundar uma pesquisa a respeito de nossos hábitos alimentares e a imensa variedade de plantas e animais que habitam nosso país.
d) Especular quanto as nossas opções e origens religiosas (de base cristã).
e) Vasculhar a enorme variedade de sons, cores, imagens, textos e demais referências sócio-culturais que compõem o nosso imaginário.
f) Traçar um perfil biográfico dos grandes brasileiros (artistas, políticos, atletas, engenheiros, pesquisadores,...).
g) Realizar um levantamento de nossa história desde tempos imemoriais até o presente.
Parece pouco? Com certeza não. Afinal de contas, são aproximadamente 500 anos de história documentada para tentar definir as bases de nosso "RG coletivo", realizar um enorme e necessário "check-up" de nossa saúde nacional, verificar nossos "antecedentes criminais", averiguar nosso "histórico escolar", avaliar nossa produção cultural e traçar uma árvore genealógica tupiniquim. A brasilidade, com certeza, existe, está presente em cada um de nós, verdadeira e autêntica herança genética e cultural acumulada ao longo de algumas centenas de anos.
Deus, com certeza, se parece muito com cada um de nós, brasileiros, porque assim desejamos. Queremos que o criador carregue consigo a chama da esperança; que tenha a seu alcance a beleza que naturalmente nos foi imputada; que tenha fé mesmo nas circunstâncias e situações de maior desesperança; que tenha as mãos marcadas por um trabalho contínuo e intenso; que possa amar e ser amado; que conheça o sertão e a floresta; a dor e a alegria; a opulência e a miséria.
Que outro povo tem a seu alcance todos esses caminhos, todas essas possibilidades?
O Filme
Depois de tanto tempo de trabalho ininterrupto (séculos e séculos, desde o surgimento do mundo), sem poder usufruir nem ao menos de alguns dias de descanso, até mesmo Deus (Antônio Fagundes) ficou cansado. Resolveu então tirar alguns dias e relaxar em alguma constelação de belas paisagens, criadas por ele mesmo. Há, entretanto, um pequeno problema... Deus não pode sair de férias sem que um substituto assuma suas atribuições durante sua ausência. Poderíamos imaginar que talvez São Pedro, São João ou ainda São Paulo pudessem, durante esse breve período de folga, substituir Deus. Isso, no entanto, não é possível em virtude de todas as ocupações e responsabilidades já assumidas por esses santos.
Para solucionar seu problema, Deus resolve nomear um novo santo. Já tem inclusive um escolhido para ocupar essa vaga e, interinamente, responder em seu nome, durante suas merecidas férias. Essa pessoa vive no Brasil e, por isso, Deus resolve vir pessoalmente procurá-lo e incumbi-lo de suas novas atribuições.
Ao chegar ao Brasil, Deus encontra Taoca (Wagner Moura) e Madá (Paloma Duarte), que passam a acompanhá-lo em suas andanças atrás do tal candidato a santo brasileiro. Taoca desde o princípio descobre estar diante do todo-poderoso e procura, a todo instante, alcançar sua graça para obter benefícios pessoais (o personagem encarna o típico brasileiro esperto, capaz de resolver as situações com o tal "jeitinho brasileiro"). Madá sente uma irresistível atração pelo "professor" (modo pelo qual passam a chamar Deus), não sabendo explicar exatamente porque isso está acontecendo (já que desconhece sua origem divina), já que esse estranho ´homem´ é muito mais velho do que ela.
Esse desconcertante e um tanto quanto estranho trio cruza o Brasil e passa por diferentes regiões e localidades, desvendando as belezas marcantes das diferentes paisagens e as dificuldades do povo brasileiro. Nos apresenta um país de contrastes e de uma notável fé; e ainda mais importante, nos leva a refletir a respeito de nossas origens e identidade...
Aos Professores
1- O questionamento primordial passa a ser, desde o princípio do trabalho com o filme "Deus é Brasileiro":- "Quem somos nós, os brasileiros?". Como antecipei no texto introdutório, a definição da brasilidade depende essencialmente de uma constante e extensa pesquisa, que requer levantamentos sociológicos, filosóficos, antropológicos, históricos e literários (entre outros). Para aliviar a carga no compromisso de nossas aulas, o recomendável é que os professores promovam atividades através das quais estimulem os alunos à, parcialmente, "descobrir o Brasil". Para isso, sugiro que sejam seguidos passos como aqueles que apresento a seguir:
a) Levantamento da genealogia de cada um dos alunos (Suas famílias, de onde vieram? Quando se estabeleceram por aqui? Quais sãos suas ascendências?).
b) Pesquisas sobre as cidades em que residem (origens, economia, aspectos culturais relevantes, estrutura política, bases sociais,...).
c) Trabalhos com temáticas culturais relevantes como a literatura regional e nacional, a música popular, a gastronomia, as festas e folguedos tradicionais,...
d) Um especial enfoque nas etnias que compuseram nossa população (negros, portugueses e índios) pode ser dado com levantamentos em filmes, literatura, jornais e revistas.
e) Qual é a visão dos brasileiros quanto a si mesmos como povo? Seria uma boa premissa para uma pesquisa de campo, realizada através de reportagens feitas nas ruas.
2- Um outro tema forte explorado pelo filme é a religiosidade dos brasileiros, por isso mesmo, deve ser tratado a parte. Tema delicado, mas que exige uma boa pesquisa, a ser feita com a programação de entrevistas com religiosos e fiéis, visitas as diferentes igrejas e templos e fotografias ou filmagens. Numa segunda etapa o ideal seria que os alunos fossem encaminhados para levantamentos em livros, enciclopédias, revistas religiosas ou sites da internet. O Desfecho se daria com o cruzamento das informações obtidas na pesquisa de campo e nos dados levantados a partir dos textos examinados.
Ficha Técnica
Deus é Brasileiro
País/Ano de produção:-
Brasil, 2002
Duração/Gênero:-
110 min., Comédia
Disponível em VHS e DVD
Direção de Carlos
Diegues
Roteiro de João Ubaldo Ribeiro,
Cacá Diegues, João Emanuel Carneiro
e
Renata de Almeida Magalhães, baseado em
conto de
João Ubaldo Ribeiro
Elenco:- Antonio Fagundes, Paloma
Duarte, Wagner Moura, Stepan Nercessian,
Hugo Carvana,
Bruce Gomlevsky, Susana Werner, Castrinho.
Links
-http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=4576
- http://www.adorocinema.com/filmes/deus-e-brasileiro/deus-e-brasileiro.htm