A Semana - Opiniões
Como produzimos e gerimos nosso conhecimento?
O que é e para que serve a Gestão do Conhecimento?
Como você produz o seu conhecimento? De que forma gerencia os saberes adquiridos? Perguntas aparentemente simples como essas são o cerne de importantes e pertinentes pesquisas em andamento em universidades brasileiras e internacionais. O que poderia parecer fácil de responder com base naquilo que observamos de mais corriqueiro e cotidiano em nossas vidas não explica e nem tampouco permite a compreensão dos processos utilizados pelas pessoas na construção do cabedal de informações, conceitos, conhecimentos e saberes que orientam as suas vidas.
Normalmente imaginamos que a produção de nossos conhecimentos se efetiva principalmente a partir de nossas experiências escolares, familiares, religiosas, esportivas, políticas, sociais, culturais ou profissionais. Não estamos errados quanto a isso, no entanto não respondemos ainda de que forma realizamos a seleção de informações, dados, conceitos e idéias decorrentes de tantos intercâmbios, relações, encontros e desencontros.
Quando vamos à escola, por exemplo, somos orientados e esclarecidos quanto a um conjunto de informações consideradas essenciais e basilares para a vida em sociedade. Temos contato com a matemática, a história, as línguas ou as ciências; ficamos sabendo das leis, do funcionamento da sociedade, da estrutura de poder, das relações sociais,...
Será que as grades curriculares não acabam isolando os sujeitos da
aprendizagem de outros conhecimentos ao invés de propiciarem a
sua plena emancipação e altivez como pretendem?
No entanto a criação das grades curriculares que orientam os estudos nos diferentes níveis e as diversidades decorrentes dos regionalismos e nacionalismos acabam definindo, de antemão, o que deve e o que não deve ser ensinado. Nesse sentido, excluem da discussão no ambiente escolar uma série de temas e tópicos que não são considerados acadêmicos e fundamentais para a formação de crianças, adolescentes e jovens.
Discutir temas como violência, sexualidade, drogas ou mesmo corrupção eram tabus até bem recentemente na maior parte das escolas do Brasil e de vários países. Continuam sendo assuntos espinhosos e que ganham vulto somente a partir de iniciativas especiais empreendidas dentro das redes educacionais. O mais interessante é perceber que essas temáticas existem em nosso mundo, estão nas manchetes dos jornais, são veiculados pelas redes de televisão e podem ser acessadas a partir do clique de um mouse através da Internet...
Estudos sobre a música clássica e popular, as artes plásticas, a história da África ou dos países asiáticos; o aprofundamento em línguas como o alemão, o chinês ou o russo; conhecimentos sobre teatro e cinema; discussão sobre temas universais como o amor, a paz, a existência; o ensino das técnicas de marcenaria ou a aprendizagem de esportes como o beisebol ou o hóquei também são exemplos das exclusões das propostas curriculares brasileiras.
Que tal aprender com a arte ou com os jogos de tabuleiro? Pode ser mais
significativo, lúdico e prazeroso para quem aprende. Pode ser muito
mais efetiva essa aprendizagem...
Mesmo levando-se em conta essas exclusões sabemos de pessoas que se especializaram em tais assuntos e temáticas. Se não veio da escola, como essas pessoas se apropriaram desse conhecimento? E mesmo dentro do contexto escolar, se pensarmos em tudo aquilo que aprendemos, realizamos um processo de seleção e descarte. Por que nos apropriamos de certos conhecimentos e abrimos mão de outros? E depois, como gerimos esses conhecimentos adquiridos?
Uma das primeiras constatações a que chegamos é que o conhecimento pode ser aprendido desde que seja significativo para aquele que aprende. Pescadores semi-alfabetizados são capazes de entender o movimento das marés sem qualquer orientação científica. Leiteiros que mal freqüentaram a escola são capazes de fazer inseminação artificial melhor que muitos veterinários especializados formados nas melhores universidades.
Na escola não é diferente, a aprendizagem se efetiva a partir do momento em que o conhecimento é percebido pelo estudante como útil e necessário. Muitas vezes a percepção dessa utilidade promove a revisão das formas de ensino e adapta esse saber adquirido dentro de uma formatação notadamente acadêmica traduzindo-os para esquemas mentais mais fáceis de entender por quem aprende. Essa “tradução” também é necessária tendo em vista os ambientes pelos quais transita e pessoas com as quais o educando se relaciona.
Uma outra relevante consideração de pesquisadores e educadores acerca do processo de construção do conhecimento diz respeito ao fato de que a participação plena, integral e voluntária dos educandos na efetivação de sua aprendizagem consolida esses saberes adquiridos e torna-os muito mais propensos a perenidade no cabedal de informações adquiridas pelo sujeito dessa ação.
Que tal problematizar as situações de aprendizagem? O que acham de trabalhar
em pequenos grupos? Já tentou trabalhar com projetos? São práticas
e estratégias
de ação que referendam uma aprendizagem mais plena e até mesmo sadia...
Pude constatar isso a partir de minha própria prática profissional ao longo dos últimos 15 anos como professor. Sempre que estimulei a construção compartilhada dos conhecimentos entre os alunos tivemos resultados notáveis. São vários os depoimentos dados pelos estudantes com os quais tive a oportunidade de trabalhar em que ficava evidente a assimilação de conceitos, fatos, idéias e saberes a partir de experiências em que eles tiveram que, literalmente, “arregaçar as mangas” e “correr atrás do prejuízo”.
O que fazíamos?
Trabalhávamos dentro de propostas de projetos, em pequenos grupos, dinamizando as atividades e utilizando uma grande variedade de recursos culturais e formas de expressão. O nível de envolvimento e participação eram sempre altíssimos. Os resultados obtidos e principalmente a satisfação dos estudantes eram sempre os melhores possíveis.
Apesar disso, sabemos que a forma como as pessoas lidam com as informações e saberes adquiridos é muito particular e própria. Há pontos de encontro, estratégias assemelhadas, caminhos iguais sendo percorridos, no entanto, prevalecem as peculiaridades e os personalismos e não sabemos ao certo como poderíamos orientar a formação de um plano de ação que pudesse ser mais conciso e preciso para a maior parte das pessoas.
É mais ou menos como pensarmos na criação de uma metodologia científica que seja incorporada ao cérebro e consequentemente a vida e a ação das pessoas em seu cotidiano. Seria como se pudéssemos criar um chip de computador que pudesse ser implantado na cabeça de cada novo ser humano que viesse ao mundo. Parece um pouco ficção científica...
Talvez só queiramos mesmo entender os processos de aprendizagem e gerenciamento desses conhecimentos pelas pessoas em seus particularismos. Fico, porém, com a impressão que pretendemos ir além e que tentamos nos apropriar daquilo que é pessoal, intransferível e intangível. Penso, da mesma forma, que por mais que aprofundemos essas pesquisas, não conseguiremos palavras capazes de demonstrar e explicitar com a devida precisão como esses procedimentos de construção e gestão realmente acontecem...