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Cinema na Educação

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Dança com Lobos
Em harmonia com a natureza e com os homens

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Um projeto ousado e inovador. Pelo menos do ponto de vista da narrativa, que inverte o que historicamente havia sido utilizado pela indústria cinematográfica norte-americana. Entregue a um astro consagrado que teria que superar sua condição de ator e tornar-se também diretor. Convenhamos que não se trata de tarefa das mais fáceis, principalmente se levarmos em conta a história que se pretendia contar e o período em que o filme iria ser feito, o início dos anos 1990, quando as platéias do mundo inteiro não estavam muito interessadas em prestigiar filmes desse gênero (alguns críticos acreditavam que esse tipo de filme havia sido sepultado e jamais voltaria a ter grande procura, a não ser como curiosidade).

O responsável por esse intento foi Kevin Costner, credenciado pelo sucesso de "Os Intocáveis" e de "Campo dos Sonhos", apesar de ainda não ter tido a oportunidade de realizar um projeto de grande porte e ciente das dificuldades que poderia encontrar no tocante a aceitação dos espectadores, ele aceitou o desafio e produziu o grande vencedor do Oscar de 1990 (premiado como melhor filme, diretor, roteiro adaptado, fotografia, montagem e trilha sonora) e do Globo de Ouro de 1991.

O gênero western ou far-west que na década de 1980, excetuando-se alguns poucos filmes que repercutiram (como o divertido "Silverado" onde Costner faz parte do elenco), estava em franca decadência e descrédito, ganhou fôlego e vigor na nova roupagem introduzida pelo filme "Dança com Lobos". O politicamente incorreto que caracterizava as produções sobre o Velho Oeste americano, onde os vilões ganhavam status de celebridades, os xerifes tinham autorização para matar indiscriminadamente e os índios eram apresentados como selvagens a serem domados como os cavalos e búfalos das pradarias daquela região, foi substituído por um filme que trabalha com sensibilidade o encontro entre o mundo dos brancos e o universo dos índios.

Não que isso possa apagar as atrocidades cometidas nas guerras envolvendo os peles vermelhas e os cara-pálidas. Não que com isso o objetivo seja reescrever a história, marcada por disputas de terras, destruição da cultura indígena e muitas mortes. Os registros da história existem para comprovar que tudo isso aconteceu e que temos que rever essa etapa da existência humana para que novos massacres não ocorram.

"Dança com Lobos" nos apresenta uma diferente figura do índio, mais próximo da natureza, relacionando-se dentro de sua tribo, estranhando o visitante proveniente de outra cultura (o personagem de Costner, Tenente Dunbar), aceitando o intruso mas também cobrando a adaptação do mesmo a seu modo de vida (a transformação do tenente Dunbar no índio ´Dança com Lobos´, que nos parece expontânea mas que, nos faz pensar se ele poderia viver naquela comunidade se não se submetesse a tal mudança) e lutando pela sobrevivência de sua comunidade, de sua cultura, de sua mãe natureza.

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O espírito do filme de Costner nos envia necessariamente para a carta enviada pelo Chefe Seattle ao presidente dos Estados Unidos, em 1850, como resposta a uma proposta de compra de suas terras. Nela transparecem as idéias de que somos como fios que compõem um tecido grandioso e que, como tal, dependemos dos outros fios assim como os outros dependem de nós para a composição do todo, da vida, da sobrevivência coletiva. Ele perguntava naquele documento se os brancos iriam tratar dos animais, das águas dos rios, da floresta e do ar como tratava seus irmãos ou seus pais. Antecipava o questionamento ecológico (globalmente organizado a partir de conferências realizadas no final dos anos 1960) em mais de 100 anos. Usava metáforas como "selvagens indígenas" e "cidades de pedra" para falar sobre civilização e progresso. Afinal de contas, quem era o civilizado nessa história?

A guarda de uma região fronteiriça entre os limites das terras dos brancos e dos índios estabelece o início da história de Dunbar. A tênue linha que separa os universos desses povos e de suas culturas estava prestes a se quebrar. Os medos que os mantinham afastados são superados pela espectativa de entender o outro, o diferente e, principalmente, pela necessidade do contato humano.

A relação que se estabelece a partir de então, totalmente nova para ambos, mostra que os monstros que se encontravam nas roupas, nas armas ou nos acampamentos não eram senão, traços da humanidade dos dois grupos, separados pelos hábitos, pela origem étnica, pela história anterior de suas civilizações, cara-pálidas e peles vermelhas não eram, enfim, tão diferentes!

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Esse filme pode abrir debates sobre o choque entre culturas diferentes, estimular pesquisas a respeito dos indígenas, fazer com que os alunos entrem em contato com comunidades que vivam próximas. Uma boa dica pode ser comparar a imagem do índio com a que tínhamos antes (baseada em filmes antigos ou revistas em quadrinhos como "Tex"). Outra alternativa é ler o livro "Enterrem meu coração na curva do rio" para compreender um pouco dessa rica cultura de nossos irmãos indígenas! Coloque o filme na lista dos obrigatórios, vale a pena!

Ficha Técnica

Dança com Lobos
(Dances with wolves)

País/Ano de produção: EUA, 1990
Duração/Gênero: 183 min., western/drama
Disponível:- VHS
Direção de Kevin Costner
Roteiro de Michael Blake
Elenco: Kevin Costner, Mary McDonnell, Graham Greene, Rodney A. Grant

Links
- http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=690
- http://www.adorocinema.com.br/filmes/danca-com-lobos/danca-com-lobos.asp

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