A Semana - Opiniões
Não tenho tempo
Está na hora de repensar a agenda de compromissos
Imagine se você tivesse a oportunidade de corrigir imediatamente um erro que acabou de cometer ou mesmo a chance de voltar ao passado para reescrever a sua história em momentos particularmente infelizes. Não há, entre as pessoas, alguém que não se arrependa de atitudes e de deslizes cometidos no passado recente ou distante. Somos humanos e, como tal, estamos sujeitos a errar. Não há problema algum nisso se somos capazes de aprender com as dificuldades e, a partir desse novo conhecimento, superar adversidades futuras. Os erros são importantes aliados para que possamos nos tornar melhores pessoas e, também, profissionais mais competentes...
Entretanto, ainda não foi inventada a máquina do tempo, que permita as pessoas o retorno a momentos em que poderíamos alterar o rumo de nossa história pessoal ou ainda da própria experiência coletiva da humanidade. Ao invés de ficarmos olhando para trás reclamando de chances desperdiçadas ou de erros cometidos, deveríamos tentar nos antecipar em nossas programações com a finalidade de melhorarmos a qualidade de nossas vidas e desempenhos no trabalho.
Porque estou dizendo isso?
Uma das circunstâncias mais corriqueiras que observo em palestras ou oficinas nas quais participo e que envolvem grupos de professores é a reclamação relativa à falta de tempo para o desenvolvimento de qualquer atividade extra-classe.
Use o tempo disponível a seu favor. Leia jornais, revistas e livros em suas viagens
curtas do cotidiano. Se você gasta 20 minutos de ônibus, trem ou metrô até o
serviço,
são 200 minutos entre a ida e a volta (5 dias por semana) em que
você
pode aprender, se divertir e crescer um pouco com a leitura.
Nunca há tempo disponível para as leituras, atualizações e mesmo para as implementações e inovações em sala de aula. Invariavelmente os professores têm uma enorme carga de trabalho, afazeres domésticos ou particulares e ainda trabalhos da escola para desenvolver em casa. Ouço as queixas e reclamações e tenho a sincera impressão de que os participantes desses eventos imaginam que sou tão afortunado em meus afazeres que não tenho que fazer uma verdadeira ginástica para que as 24 horas do meu dia sejam suficientes para tantos compromissos.
Apesar disso, devo ressaltar, mantenho minhas leituras em dia (tanto aquelas que desenvolvo por conta própria, para meu desenvolvimento pessoal ou lazer, quanto as que são cobradas profissionalmente), entrego trabalhos e avaliações nos prazos previstos (muitas vezes até antecipadamente), participo de eventos em vários municípios, trabalho em duas cidades (São José dos Campos e Campos do Jordão) e faço meu doutorado em São Paulo.
Milagre? Não, em absoluto, ainda não atingi a onipotência e não tenho tamanha pretensão. Trata-se apenas de um melhor gerenciamento do tempo. Tenho que estar em dia com as minhas obrigações profissionais e, diga-se de passagem, não abro mão de estar com minha família, com os amigos e ainda poder desfrutar de algumas horas de folga...
Mas, com certeza você não precisa ajudar sua esposa nos afazeres domésticos, não enfrenta as filas de banco ou vai ao supermercado fazer compras...
Participe da vida de sua família, ajude na cozinha, lave a louça ou arrume as
camas.
Isso ajuda se encararmos tudo como prazer e possibilidade de
estarmos
perto
de
quem amamos. Funciona muitas vezes como
verdadeira
higiene
mental e
ajuda a combater o stress do dia a dia.
Também participo dessas atividades e, a na verdade, sou o responsável pelo pagamento das contas de minha família (sou eu que vou ao banco). É lógico que não passo roupa, preparo as refeições ou varro a casa, até mesmo pelo fato de que durante os dias da semana estou em meus locais de trabalho. No entanto, nos finais de semana, ajudo a arrumar os quartos, lavo louças e vou ao sacolão comprar verduras e frutas,...
Alguns podem ainda argumentar que minha esposa deve ser a principal responsável por tudo isso, e que eu só a ajudo ocasionalmente nessas atribuições domésticas... Sem dúvida ela é a pessoa que acaba arcando com a maior parte dos afazeres de nossa casa, apesar disso, ressalto que ela também é profissional da educação, atuando há anos como orientadora educacional, que está fora de casa durante os horários de aula e que consegue se atualizar e ler com regularidade (acabou de finalizar uma pós-graduação).
Então, o que devemos fazer para conseguir racionalizar melhor o uso do tempo para que possamos responder a todas as necessidades pessoais e profissionais que temos?
O primeiro passo é parar de reclamar da falta de tempo. As 24 horas do dia estão disponíveis democraticamente para todas as pessoas, você não é diferente de ninguém e, certamente, há pessoas que tem ainda mais compromissos em agenda do que você.
Planeje suas atividades e não deixe de disponibilizar tempo para o lazer.
Ande de bicicleta, faça natação, vá ao cinema ou encontre com os amigos.
A realização na vida depende do sucesso no trabalho, da harmonia na família,
dos indissolúveis elos de amizade e de nossa fé e crença em nossos valores e ética.
A seguir é necessário repensar nossos afazeres e verificar de que forma eles estão sendo trabalhados. Por exemplo, se temos horários de aula fechados durante os períodos da manhã e da tarde, todos os dias, mal tendo tempo para nos alimentarmos, teremos que agendar as atualizações para o período da noite ou ainda para o sábado (deixe sempre o domingo para descansar e recarregar as baterias, senão na segunda-feira você estará um trapo...).
Se tiver que corrigir provas ou preparar aulas à noite, tente se concentrar nessa atividade durante períodos de, no máximo, 2 horas. Depois de ter trabalhado o dia inteiro, sua concentração já não é a mesma e a produtividade pessoal já está baixa. De preferência, tente não trabalhar por mais de uma hora e meia, sem maiores interrupções, num local tranqüilo de sua casa e, já tendo tomado um bom banho e feito uma refeição leve (preferencial em períodos noturnos).
Uma alternativa melhor seria utilizar o sábado de manhã para fazer toda a programação da semana e reservar essas horas da noite apenas para as correções e pequenos desvios de rota em relação ao planejamento feito no sábado. Reserve sempre uma hora por semana para pensar em modificações e inovações a serem feitas no trabalho a ser executado. Essa hora de inovação depende de leituras, pesquisas na Internet, referências fílmicas, jornais, revistas, músicas,...
Para conseguir obter tais recursos e pensar a respeito da utilização dos mesmos você deve usar melhor pequenos horários livres disponíveis ao longo de seu dia. Se você tem janelas entre as aulas, que tal utilizá-las para ler uma revista especializada como a Nova Escola ou a Educação. Se for ao serviço de ônibus (metrô, trem, carona,...) e ter que viajar por 20 ou 30 minutos, porque não ler um livro que possa ser útil. Assistir filmes e acompanhar os noticiários na televisão ao invés de perder tempo vendo programas fúteis, que nada acrescentam ao seu conhecimento, também ajuda muito seu desenvolvimento pessoal. Tente ouvir as músicas e saborear todo o prazer e riqueza cultural disponíveis nas letras e melodias pensando até na possibilidade de uso desse importante recurso como ferramenta educacional...
Nos intervalos de aula, converse a vontade com os colegas professores, descubra quais são os problemas e dificuldades, saiba de novidades usadas em aula por eles, informe-os a respeito de leituras e cursos que fez ou pretende fazer,... Essa hora também pode ser muito útil para nossas vidas profissionais.
Quando estiver em casa, brinque com as crianças, converse com seu companheiro, compartilhe suas experiências. Faça questão da companhia de todos ao ir ao supermercado ou quando estiver ajudando na preparação de uma refeição...
O mais importante é nunca encarar os compromissos e a agenda cheia como um martírio. Olhe para o seu dia com disposição e perceba os prazeres e satisfações existentes no mesmo. Cada novo dia é uma oportunidade única, que pode ser bem ou mal vivida, cabe a nós escolher o que queremos para nossas existências. Se olharmos para o trabalho com amargor o mais provável é que tenhamos escolhido o caminho mais cheio de espinhos e descontentamentos; se, por outro lado, percebermos que em cada encontro, a cada realização, estamos ganhando o jogo da vida, melhorando nossa existência e ajudando os outros, o relógio não nos parecerá tão opressor assim e as realizações ficarão um pouco mais fáceis...