A Semana - Opiniões
Pastores e Rebanhos
Repensando a relação Professor e aluno
Proximidade e preocupação em relação às dúvidas demonstram que o professor
quer realmente efetivar o processo de ensino-aprendizagem. O aluno se sente
mais motivado e interessado em aprender quando percebe que o educador está
realmente
envolvido com o seu trabalho.
Os professores normalmente atribuem os problemas de relacionamento em sala de aula aos estudantes. Imaturos, desinteressados, alienados ou desmotivados, os alunos acabam atrapalhando o desenvolvimento das atividades programadas e prejudicando o trabalho dos colegas interessados e a concentração do mestre.
Em muitos casos a balburdia é tão grande que ocasiona a expulsão dos causadores e a aplicação de punições severas por parte dos orientadores e diretores das escolas. Será mesmo que os problemas são causados apenas por alunos irresponsáveis e despreparados? E os professores, de que forma contribuem para que situações de indisciplina aconteçam? O que poderia ser feito para mudar tudo isso e ocasionar o surgimento de um ambiente mais produtivo, amigável e, obviamente, propício ao bom desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem? Afinal de contas, qual é o papel a ser assumido pelos professores nesses novos tempos da educação?
Quanto à irresponsabilidade e o despreparo dos estudantes, temos que assumir a nossa cota de participação enquanto profissionais da educação. Não temos apenas que ensinar conceitos, fórmulas, teorias ou fatos; o nosso papel é verdadeiramente o de pastores que orientam os rumos de rebanhos inteiros.
Temos que encarar os constantes desafios da educação e também
propor aos estudantes
que vençam as barreiras que se colocam ao
longo
de seus
caminhos com muita dedicação e afinco.
Isso significa, na prática, que temos que responder também pelos conteúdos, mas, principalmente, pela necessária paixão e engajamento dos estudantes em relação aos estudos, a pesquisa e ao conhecimento. Parece abstrato demais? Não é. Isso se consegue a partir, inicialmente, de um envolvimento, por parte dos professores, com o trabalho em educação, que demonstre para os estudantes o quanto essa atividade é importante e relevante para a vida de todos.
O professor que não demonstra afinco, garra, vontade de vencer e determinação em seus propósitos não consegue vender gelo para esquimó ou areia no deserto, para usar apenas dois chavões populares. Comer grama, como se diz no jargão futebolístico, é essencial para demonstrar através do exemplo de vida do próprio profissional da educação, que temos que nos dedicar de corpo e alma a tudo o que diz respeito as nossas vidas.
Esse exemplo, na prática, significaria atitudes simples como: pontualidade, assiduidade, atualização constante, respeito pelo próximo (professores, alunos, funcionários, direção), limpeza, organização pessoal e zelo em relação ao ambiente e a instituição.
Professores que falam mal da escola em que trabalham, que criticam abertamente outros profissionais da educação, que jogam lixo no chão, que desrespeitam alunos ou funcionários, que se atrasam ou que faltam muito ao trabalho perdem a respeitabilidade. Nem mesmo toda a competência do mundo numa determinada área do conhecimento consegue apagar da memória das demais pessoas todos os erros, grosserias ou desmandos anteriormente mencionados.
Pesquisa, atualização, cursos e participação em eventos culturais
ampliam os horizontes
dos educadores. Dessa forma surgem novas
idéias,
práticas e argumentos para o trabalho em sala de aula.
Postura e atitudes realmente profissionais ensinam muito aos estudantes. Solidariedade e respeito também são lições fundamentais para os educadores. Agindo dessa forma a possibilidade de termos alunos mais educados aumenta muito.
O despreparo dos estudantes também diminui sensivelmente se os educadores demonstrarem efetivamente, na participação em sala de aula (e às vezes fora dela), que realmente se importam com a educação dos mesmos. Já tive a infelicidade de ouvir professores falarem que cumpriam sua parte pelo simples fato de terem dado suas aulas, independentemente da participação ou da aprendizagem dos alunos.
Entrar em aula, cumprir os 45 ou 50 minutos contratados, encher a lousa de conteúdos e exercícios e depois virar as costas para ir embora sem saber se o que foi feito realmente efetivou aprendizagem e satisfação pelo conhecimento nos alunos é atitude totalmente desmotivadora e atenta contra todas as regras de profissionalismo que temos que ter enquanto educadores. Não é a toa que muitos alunos demonstram revolta pelo simples fato de estarem em sala de aula...
Outro aspecto que infere aos estudantes a disposição e a boa vontade dos professores em relação ao trabalho em classe é a constante e necessária atualização de seus conhecimentos. Leituras, participação em eventos, cursos de aperfeiçoamento, visitas a centros de pesquisa, idas ao cinema e ao teatro ou ainda a museus e exposições dão novas idéias, argumentos e fornecem subsídios para aulas mais interessantes, prazerosas e participativas. Essas atualizações tornam-se ainda mais eficientes se algumas delas puderem ser agendadas para contar com a participação dos próprios estudantes.
O professor deve orientar os caminhos a serem seguidos, como o pastor em
relação a seu rebanho. Com o tempo, a escolha dos recursos e meios
passa
a
ser feita de forma independente pelos alunos para que, no futuro, sejam
capazes
de prosperar, atingindo melhores resultados em suas próprias vidas.
Essencial também, para diminuir os problemas de indisciplina, é a variabilidade de métodos, recursos e práticas adotadas pelos professores em seu cotidiano escolar. Inovem sempre que possível. Adotem novas estratégias. Desafiem os alunos com a proposição de projetos. Não tenham medo de tentar realizações diferenciadas e estimulantes. Os estudantes se sentirão muito mais predispostos a realizar, a produzir, a se tornarem parceiros do processo de ensino-aprendizagem se perceberem que os professores estão preocupados em criar aulas que sejam estimulantes.
Isso não significa que tenhamos que reinventar a roda a cada nova aula. Programe-se, pesquise, pense em alternativas, mas não deixe nunca de escalonar seu trabalho com a inserção de aulas teóricas que complementem as explicações, que esclareçam os conceitos ou que tirem as dúvidas quanto às atividades que foram propostas e realizadas.
A utilização de novas metodologias e recursos não significa que tenhamos que abandonar práticas tradicionais. A velha aula expositiva ainda tem espaço e é necessária na educação. Os livros são os maiores aliados da educação e da cultura (apesar dos computadores e da Internet, novos aliados). Cadernos, lápis, borrachas e outros utensílios escolares básicos são mola mestra de grande parte dos trabalhos a se desenvolver em aula.
Se há problemas na escola, não podemos continuar atribuindo-os exclusivamente aos alunos, ou ainda estendendo essa responsabilidade aos pais desses estudantes. Ao invés disso, temos que responder por nossa atuação nesse processo; nesse ínterim, isso significa que temos que rever nossa atuação profissional e, além disso, perceber que somos muito mais do que simplesmente professores. Somos como autênticos pastores, que zelam pelo crescimento de seus rebanhos, protegendo-os de predadores, ensinando os caminhos a serem trilhados, alimentando (com o conhecimento) os nossos alunos, para que no final, possa haver lã e leite, prosperidade e fartura...