Planeta Educação

De Olho na História

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

A vida em família na Antiguidade Clássica
Como eram as relações familiares na Grécia e Roma antigas

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A arte grega nos coloca em contato com o cotidiano das famílias, como nesse caso
em que podemos ver uma jovem mulher trabalhando com fiação e tecelagem,
provavelmente confeccionando um tapete ou uma coberta.


Grécia

A formação de uma família entre os gregos não começava sempre da mesma forma, havia variações de acordo com a origem das pessoas. Entre os camponeses, por exemplo, era comum que os jovens se conhecessem na lavoura e que, a partir dos contatos estabelecidos no trabalho, viessem a namorar e depois se casar. No caso das moças ricas, provenientes das linhagens nobres, os casamentos eram arranjados de acordo com conveniências.

Isso significava que os pais das jovens procuravam casamentos em que famílias de uma mesma origem social e padrão econômico pudessem unir suas fortunas através do matrimônio de seus filhos. Eram feitas oferendas aos deuses (especialmente a Artêmis, a protetora das mulheres) e oferecido um dote ao noivo e a seus familiares. Esse presente de casamento dado pelo pai da noiva consistia em terras, bens de alto valor e, até mesmo, dinheiro.

O dia em que o casamento se consolidava marcava a mudança da noiva para seu novo lar, a casa da família de seu marido. Somente no dia seguinte ao casamento é que os parentes e amigos próximos iriam dar presentes em uma visita ao lar do novo casal.

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Os meninos gregos das famílias que pertenciam às camadas sociais mais ricas e
poderosas eram ensinados por tutores quanto à oratória, a poesia e o cálculo.
As meninas eram educadas em casa, pelas próprias mães, para que
se tornassem boas esposas e donas de casa.

As funções das mulheres gregas estabeleciam que elas deveriam se doar ao máximo a seus maridos e filhos e, dessa forma, abdicar quase que totalmente de seus interesses e vontades. Cuidar do lar, monitorar o crescimento de seus filhos e devotar integral fidelidade ao marido passava a ser a vida de qualquer mulher grega, exceto daquelas que viviam em Esparta.

A cidade de Esparta era aquela que proporcionava as mulheres a maior autonomia entre todas as polis estabelecidas na Grécia Antiga. Isso acontecia em virtude da própria orientação política adotada naquela localidade, onde a hostilidade entre cidadãos e não-cidadãos e a presença maciça de escravos criava a necessidade de manter os cidadãos em constante alerta contra revoltas internas. Como o grupo de espartanos era menor que o de não-cidadãos (escravos e estrangeiros), as crianças e mulheres eram preparados para colaborar em caso de conflitos ocorridos na cidade.

A necessidade de contar com o apoio das mulheres fazia com que os homens espartanos dessem a elas treinamento militar, participação em atividades políticas e maior liberdade para participar das atividades do cotidiano da pólis (inclusive dos esportes).

As mulheres que viviam em outras cidades gregas, especialmente em Atenas (cidade-estado a respeito da qual existem mais informações e documentos disponíveis para pesquisa), tinham funções claramente domésticas, conforme havíamos dito. Eram responsabilidades dessas esposas, além da criação de seus filhos, que cuidassem da casa com o auxílio dos criados (para isso tinham que averiguar o serviço doméstico e orientar os empregados quanto a forma como esse trabalho deveria ser feito), a confecção de tecidos para a criação de peças de vestuário que seriam utilizadas pelos seus próprios familiares, a produção de tapetes e cobertas e a manutenção e embelezamento da casa.

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Esparta se destacou como a cidade-estado grega em que as mulheres tinham maior
autonomia. As espartanas podiam participar da vida pública em praticamente
todas as esferas, inclusive no exército e na política.

No caso das famílias humildes, a diferença consistia na inexistência de criados para a execução dos serviços domésticos, o que acarretava a necessidade de que esses trabalhos fossem realizados pela própria esposa, inclusive cozinhar, lavar e limpar a casa.

Era comum que as famílias se reunissem para realizar suas orações, no entanto, a posição dos demais membros da família em relação ao pai era de total subserviência. Todos lhe deviam respeito e total obediência, considerava-se que as mulheres e os filhos estavam sob a guarda legal do chefe de família e, de certa forma, a vida das mulheres grega se alterava apenas no que se refere ao homem que comandava suas ações, o seu pai na infância e o seu marido na idade adulta.

A situação de homens e mulheres na Grécia Antiga começava a se diferenciar quando ainda eram crianças. O primeiro e mais significativo indício dessas vidas diversas quanto ao futuro era a própria educação que a eles era ministrada. Os meninos gregos tinham tutores e participavam de atividades esportivas. Manter o corpo e a mente sadios era dever dos pais no que se refere aos filhos do sexo masculino (entre os membros das camadas mais importantes das cidades-estado daquela época).

Investia-se na aprendizagem da leitura, escrita, oratória, poesia e matemática para que os meninos pudessem se tornar os líderes que iriam manter as cidades no amanhã. A rigidez nos estudos era grande, por isso mesmo era dada aos tutores a possibilidade de aplicar castigos físicos aos meninos e rapazes que não se aplicassem nos estudos. Enquanto isso, as meninas eram educadas em casa, pelas mães, sempre tendo como objetivo de aprendizagem os afazeres domésticos e femininos consagrados pelo hábito na sociedade grega, ou sejam: fiar, tecer, ler, escrever, contar, o cancioneiro e as histórias populares e também os trabalhos domésticos.

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As crianças e as mulheres romanas eram totalmente subordinadas ao chefe da família, o pai.
Os meninos tinham que suceder os pais em suas atribuições e responsabilidades, por isso
mesmo eram educados por professores; as meninas eram ensinadas pelas mães
quanto às responsabilidades enquanto donas de casa e esposas.


Roma

Como herdeiros de parte da tradição grega, os romanos também definiram sua estrutura familiar com base no paternalismo. Esposa, filhos e escravos estavam todos aos seus auspícios. Era comum entre os romanos que irmãos se mantivessem vivendo debaixo de um mesmo teto ou numa mesma propriedade até a morte de seu pai e que, em virtude disso, as famílias de irmãos se considerassem todas como parte de uma única e grandiosa unidade familiar.

Além de abrigar durante um bom tempo os seus próprios filhos, era usual que influentes homens da sociedade romana mantivessem famílias humildes sob a sua proteção, agindo dessa forma como patronos. Isso garantia a esses poderosos senhores vantagens como votos em eleições, trabalhadores e, até mesmo, amantes e filhos fora de seus casamentos.

A existência de famílias numerosas era estimulada na Roma Antiga. Nem sempre isso se concretizava devido às condições precárias em que a maternidade ocorria, normalmente no âmbito doméstico, o que acarretava a morte prematura das mães e também das crianças. Uma outra ação corriqueira por parte das famílias tradicionais e plebéias no Império Romano era o sacrifício ou o abandono de crianças recém-nascidas que tivessem deficiências.

A perfeita saúde física e mental era considerada como atributo indispensável para que a criança pudesse em sua vida futura seguir os passos do pai, no caso dos meninos, ou conseguir um bom casamento, no das meninas.

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Além de cuidar dos filhos e da casa, as mulheres romanas ainda se preocupavam em se
manter belas para seus maridos. Era comum que se penteassem, fizessem maquiagem e
que se vestissem com belos trajes para recepcionar seus maridos ao final do dia.

O casamento para as moças também representava, como nas cidades gregas, a passagem de suas vidas do controle paterno para o do marido. As mulheres romanas também tinham como centro da sua atuação o âmbito doméstico, onde tinham que rezar conjuntamente com os maridos e filhos, orientar a limpeza da casa, coordenar a preparação das refeições e, depois de tudo isso, com o auxílio das criadas, se preparar para recepcionar o marido, cansado de mais um árduo dia de trabalho e afazeres na rua. Por esse motivo as mulheres romanas passavam por um pequeno tratamento de beleza diário que incluía penteados, maquiagem e a escolha de belos trajes para o final do dia em companhia do marido.

Os homens das famílias nobres tinham um dia de agenda cheia de compromissos de trabalho. Era comum que tivessem atribuições políticas ou militares quando moravam nas grandes cidades como Roma. Por esse motivo tinham que preparar documentos, discursos e participar de conversas com funcionários ou com membros das corporações nas quais atuavam.

Os plebeus tinham um cotidiano bastante duro, tendo que acordar cedo e se alimentar de forma espartana antes de assumir suas funções no campo como agricultores, no comércio ou na prestação de pequenos serviços em áreas urbanas e trabalhar até o final do dia, quando retornavam para suas casas, exauridos pela longa jornada e pelo trabalho pesado.

Educação era privilegio de poucas crianças romanas. Apenas os meninos de famílias abastadas tinham esse privilégio. Ensinava-se o latim e o grego, cálculos, literatura e retórica. As meninas tinham que aprender os deveres domésticos com suas mães. As pessoas provenientes de famílias humildes raramente eram alfabetizadas.


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