Cinema na Educação
Os Contos Proibidos do Marquês de Sade
A Inteligência na Perversão
Quando a inteligência é colocada a serviço de um cineasta, através de um roteiro bem elaborado, ao contar com o apoio de um elenco de grandes atores, por estar trabalhando ao lado de uma equipe técnica de apoio gabaritada e que se esforça ao máximo para acertar tudo nos mínimos detalhes e, também, quando o próprio diretor se esmera no sentido de extrair de todos os que trabalham sob a sua batuta o máximo que cada um pode dar, surgem obras como o filme de Phillip Kaufman, "Os Contos Proibidos do Marquês de Sade".
Pelo fato do filme lidar com um personagem dos mais complexos, especialmente pela sua especialidade enquanto escritor, ou sejam, as obras de conteúdo erótico, torna-se difícil para os professores imaginarem onde e como utilizar tal obra. Trata-se de material que deve ser utilizado apenas a partir do Ensino Médio e, preferencialmente, em cursos de 3º Grau.
Há, na obra de Kaufman, referências a Napoleão, que inclusive aparece rapidamente no filme, já que o imperador francês perseguiu o Marquês e vetou seus escritos. Há uma "participação especial" do período do Terror, logo no início do filme, com a guilhotina sendo colocada em funcionamento numa cena de horror explícita. Há também, a forma como a sociedade lidava com seus loucos na transição do século XVIII para o XIX, diga-se de passagem, extremamente perturbadora, sem qualquer perspectiva real de recuperação dos pobres doentes.
A história do filme, por sí, nos conta a situação do devasso Marquês de Sade (interpretado brilhantemente pelo ator britânico Geoffrey Rush), que devido a sua grande habilidade para escrever acaba sendo preso por ordem da autoridade imperial, vossa majestade, Napoleão Bonaparte. Poderíamos imaginar se tratar de mais um caso de perseguição política, numa época de consolidação da ordem burguesa onde um marquês (ou seja, um nobre) não seria tão bem considerado socialmente. Não é esse, no entanto, o caso do perseguido Sade, pelo contrário, ele vai ser perseguido por sua depravação moral, numa sociedade católica que, se não é tão conservadora quanto as ibéricas (Portugal e Espanha), também tem seus rígidos códigos de conduta.
Mas
o marquês não é mandado para uma prisão
qualquer, depois de rodar por instituições que
não conseguem resolver seus problemas, ele é
internado num sanatório, ou melhor dizendo, num hospício.
Para não ficar realmente louco, ele desanda a escrever,
auxiliado por uma jovem camareira que trabalha nessa instituição
(a bela Kate Winslet, de Titanic, numa participação
convincente).
A tal instituição mental é, porém,
capitaneada por um padre (vivido pelo ator Joaquin Phoenix,
que já havia brilhado como o imperador Comodus, em
"Gladiador") que proíbe o marquês,
terminantemente de continuar escrevendo seus trabalhos imorais.
Por estar sendo municiado pela camareira Madeleine, que também se encarrega de repassar os escritos para um emissário de editores, que publicam esses novos trabalhos, o imperador encarrega um renomado psicológo (Michael Caine, ator de muita experiência, que encarna o papel com vigor) de dar um jeito no depravado escritor.
Numa
época em que se falava tanto no direito de expressar
livremente suas opiniões e publicar seus trabalhos,
o marquês de Sade sofria uma brutal censura por conta
dos moralismos de época. Contraditório, não
acham?
As formas encontradas pelo marquês para superar os impedimentos
e restrições aos quais foi submetido constituem
um verdadeiro manifesto contra a censura, sua criatividade
no escrever e seu poder de sedução (que faziam
parte do jogo preferido da nobreza européia, na sua
superação do ócio) constituem um grande
show.
O período em questão é propício a muitos questionamentos por se tratar da encruzilhada entre os períodos moderno e contemporâneo da história e, por enfocar um personagem e um tema tão polêmicos quanto o Marquês de Sade e o moralismo da sociedade francesa (de base cristã ocidental). Abafar ou deixar de se referir a esses temas com os alunos, sejam adolescentes ou adultos, reflete um pouco a continuação desse falso moralismo, visto como padrão no tempo de Napoleão (da qual o próprio imperador é um representante). Abordar questões como essas podem também, por outro lado, causar desconforto entre os professores e reclamações junto à escola.
A maturidade para enfrentar esses temas exige preparação prévia, leituras, integração com outros setores (como a orientação, a coordenação e professores de várias disciplinas) e, capacidade de associar tais temas com o que há de mais importante no período apresentado no filme, como por exemplo, a questão dos direitos, a ascensão da burguesia, o período napoleônico e as repercussões da Revolução Francesa e das ações de Bonaparte em outras partes do mundo, inclusive no Brasil.
Ficha Técnica
Os Contos Proibidos do Marquês de Sade
(Quills)
País/Ano de produção:
EUA, 2000
Duração/Gênero: 124 min.,
drama
Distribuição: Fox Home Vídeo
Direção de Philip Kaufman
Elenco: Geoffrey Rush, Kate Winslet, Joaquin
Phoenix e
Michael Caine
Links
- www.foxsearchlight.com/quills/options.htm
-http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=1687
- http://www.adorocinema.com/filmes/contos-proibidos/contos-proibidos.htm