Planeta Educação

A Semana - Opiniões

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Condenados pelo vício
Aumentou o consumo de álcool e drogas entre os jovens

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Quando a própria família permite e incentiva o consumo de álcool por crianças e adolescentes,
fica
muito mais difícil combater e extinguir esse sério problema do cenário nacional.

As notícias divulgadas na grande imprensa nas últimas semanas foram desalentadoras. Entretanto, como foram apresentadas de forma esparsa, diluída, não tiveram o impacto que deveriam no seio de nossa sociedade. A primeira apreensão da pílula do medo em terras brasileiras, o crescente fluxo de ecstasy ou ainda a divulgação de pesquisas que demonstram um expressivo aumento de consumo de álcool entre os jovens de nosso país passaram despercebidas entre as denúncias de corrupção nos correios ou a enchente desproporcional que inundou a capital paulista na semana passada.

Entre o que é apreendido pela polícia e o que continua a circular em bares e casas noturnas há uma considerável diferença quantitativa. A polícia, desprovida de contingente apropriado e mesmo de recursos financeiros para bancar operações mais constantes na busca por entorpecentes, tem tentado fazer a sua parte. Sabemos que isso ainda não é o suficiente para conter a entrada desses tóxicos (além da cocaína, do crack, da maconha ou mesmo da heroína) em nossas cidades.

Quando era ainda adolescente li dois livros que causaram grande impacto devido ao seu conteúdo explosivo em relação ao consumo de drogas: “Society Cocaína” de Percival de Souza, jornalista especializado nos meandros do mundo policial e “Eu, Christiane F., 13 anos, drogada, prostituída...”, um relato autobiográfico de uma jovem adolescente alemã que começou a se prostituir pelas ruas de Berlim para arcar com os custos de seu vício em cocaína.

Os dois relatos foram igualmente chocantes devido à crueza com que apresentavam o vício e suas conseqüências. Vidas deterioradas, famílias destruídas, valores que não chegaram a se consolidar, moços e moças perambulando pelos corredores de estações de trens e metrôs oferecendo seus corpos em troca de dinheiro para poder comprar pequenos pacotes de cocaína...

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Apesar das limitações de recursos humanos, materiais e financeiros a polícia tem tentado
aumentar as apreensões de drogas no Brasil. O combate feito pelas autoridades
tem
que ser referendado por campanhas de esclarecimento feitas pelas escolas
e por uma maior participação da família nessa verdadeira guerra...

Em banheiros públicos ou em festas da alta sociedade as pessoas pareciam querer viver apenas aqueles poucos segundos ou minutos de êxtase, em “viagens” que em vários casos não tiveram volta, iludidos pelas drogas, fugindo da realidade e dos problemas que as rodeavam. “Christiane F.” foi transformado em filme, atingiu um contingente ainda maior de pessoas pelo mundo afora, se tornou um dos maiores sucessos do cinema alemão, apesar disso...

As lições não foram aprendidas. As drogas sofreram mutações e novas bombas químicas passaram a ser ingeridas mundo afora por gerações e gerações de jovens. As escolas continuaram sendo alvos da ação de traficantes. A quantidade de vítimas e de usuários tem se multiplicado em virtude da ação de cartéis cada vez mais organizados contra os quais a polícia do mundo inteiro tem dificuldades de lutar...

Se não bastasse tudo isso, o consumo de álcool, droga legalizada, também tem sido estimulado e os dados quanto à regularidade de uso de bebidas alcoólicas entre adolescentes e jovens tem demonstrado que a propaganda é muito eficiente e que seus efeitos são nocivos e preocupantes para o futuro do país.

É claro que a legislação prevê que é proibido vender bebidas alcoólicas para menores de 18 anos. Também sabemos que está vedado a postos e restaurantes de beira de estrada a comercialização dessa sorte de produtos. Apesar disso, é muito comum que encontremos crianças ou adolescentes adquirindo essas mercadorias em supermercados, padarias ou qualquer tipo de estabelecimento que comercialize essa gama de produtos...

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É preciso mudar conceitos e rever leis. O álcool não deve estar ao alcance de nossas
crianças e adolescentes, para isso é preciso maior rigor no cumprimento das
determinações legais e punições mais austeras para quem as infringir.

O pior de tudo é que culturalmente já se estabeleceu em terras brasileiras a noção de que o consumo de cerveja ou vinho não traz grandes malefícios para garotos e garotas de 13, 14 ou 15 anos de idade. Por isso mesmo, é comum vermos o estímulo a esse consumo partindo da própria família desses adolescentes, em suas próprias casas!

Para completar o quadro, a publicidade de bebidas alcoólicas vende a idéia do consumo desses produtos como sendo propiciador de oportunidades de reconhecimento social, de socialização ou ainda de obtenção de sucesso. É comum que os protagonistas dessas propagandas, divulgadas em canais de televisão, anúncios de revistas e jornais, através do rádio e até mesmo pela Internet, sejam jovens de considerável beleza, grande saúde e que estejam envolvidos em situações que denotam prazer, vitórias e alegria.

O ecstasy por sua vez se popularizou rapidamente entre os jovens e pode ser encontrado com facilidade em qualquer rave, casa noturna de shows ou ainda em bares badalados das principais cidades brasileiras como São Paulo ou o Rio de Janeiro. Adicionado a doses generosas de bebidas alcoólicas provoca reações de aceleração da freqüência cardíaca, elevação da pressão arterial, diminuição do apetite, ressecamento da boca, dilatação das pupilas, elevação do humor e uma sensação subjetiva de aumento da energia.

Muitos usuários acreditam que o uso regular de ecstasy torna essa anfetamina um eficiente aditivo a suas experiências sexuais, dando-lhes mais efetividade e prazer. Entretanto sabe-se que é justamente o contrário que tem acontecido, ou seja, a pretensa “droga do amor”, como é conhecido o ecstasy, leva os usuários a necessitarem do apoio de outras substâncias, lícitas ou ilícitas, como o Viagra para atingirem melhores desempenhos íntimos.

Além do maior interesse sexual, ao consumirem drogas como o ecstasy, os usuários esperam ter a sensação de aumento de sua capacidade física e mental, diminuição do sono e da fadiga, euforia, bem-estar, aguçamento sensório-perceptivo e uma maior capacidade de sociabilização e extroversão.

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As ilusões das drogas irão persistir enquanto não houver esclarecimento e
maior participação da sociedade no combate ao tráfico e ao uso. Família e
escola, auxiliados pelos organismos estatais envolvidos nessa luta e por ONGs
tem que atuar conjuntamente para obter maior efetividade nessa difícil batalha.

O que esses consumidores de ecstasy não levam em conta é que há conseqüências nefastas para seus organismos como o aumento da tensão muscular, da atividade motora e da temperatura corporal; o enrijecimento e dores na musculatura dos membros inferiores e coluna lombar; dores de cabeça, náuseas, perda de apetite, visão borrada, boca seca e insônia. A pressão arterial tende a oscilar mais do que o habitual, o aumento da tensão e da atividade podem provocar hiperatividade e fuga de idéias. Há relatos de alucinações, despersonalização, ansiedade, agitação, comportamento bizarro, crise de pânico, e até de episódios breves de psicose.

A cápsula do medo (também conhecida como cápsula da morte ou cápsula do vento), apreendida em maio, no centro acadêmico de uma universidade privada é uma anfetamina da mesma família do ecstasy. De acordo com especialistas, trata-se de uma droga perigosa porque demora umas 4 horas para fazer efeito, isso motiva os usuários a repetirem a dose, o que aumenta ainda mais os riscos. Na verdade, ao fazer efeito, a droga tem uma duração de 30 horas ou mais. Ao ingeri-la, o usuário pode ter aumento acentuado dos batimentos cardíacos e convulsão.

E o que podemos fazer?

O primeiro passo é a reorientação das famílias a partir da ação de especialistas e da própria escola. Não adianta apenas reprimir, é necessário reeducar os jovens e os próprios familiares. O consumo de álcool (e das drogas ilícitas) tem que ser desestimulado antes que o jovem atinja a maioridade e isso deve ser feito a partir dos próprios pais. Campanhas de conscientização através da televisão, do rádio ou da própria Internet podem reforçar essa prática preventiva.

Outra importante iniciativa é o rígido cumprimento da lei. Isso significaria, na prática, que estabelecimentos ou pessoas que vendam álcool para menores de idades ou que comercializem tóxicos e entorpecentes ilícitos teriam que arcar com as conseqüências de suas atitudes ilegais. Seriam presos ou teriam que pagar indenizações altíssimas. Só assim esses delinqüentes se sentiriam penalizados. Isso implicaria a agilização dos trabalhos do setor jurídico e a reforma de toda a estrutura legal que existe em nosso país...

Seria fundamental que para complementar esse trabalho fossem realizados trabalhos nos bairros das cidades que estimulassem a participação dos jovens em escolinhas esportivas, oficinas de arte ou ainda em escolas técnicas profissionalizantes que dessem melhores perspectivas para o futuro de milhares de crianças e adolescentes de nosso país. O ócio e a falta de horizontes levam muitas crianças e jovens a buscar refúgio e trabalho entre as drogas e os traficantes...

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